"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sexta-feira, 2 de março de 2018

EMPREITEIRO DENUNCIA QUE EDISON LOBÃO PEDIU R$ 3 MILHÕES PARA SUA REELEIÇÃO



Lobão também pediu contratação de empresa 
Logo após ser reeleito, em 2010, o senador Edison Lobão (PMDB-MA) pediu que a Camargo Corrêa contratasse uma “empresa amiga”, o que acabou sendo efetivado naquele ano para uma obra da usina hidrelétrica de Jirau, na qual a Camargo atuava. As informações são do mais recente depoimento do ex-presidente da Camargo Corrêa e delator João Ricardo Auler à Polícia Federal, no dia 12 de dezembro.
Segundo a PF, empresas dos sócios da companhia indicada pelo parlamentar fizeram doações eleitorais no mesmo ano para a campanha de dois políticos do PMDB em Rondônia, onde fica a usina. O pedido do senador teria sido feito após a empreiteira doar oficialmente apenas R$ 1 milhão dos R$ 3 milhões que o parlamentar havia solicitado antes para sua campanha à reeleição.
“CONTRIBUIÇÃO” – Em seu depoimento, Auler não fala em pedido de propina de Lobão, mas diz que mantinha reuniões com ele na época pois estava dedicado “quase que exclusivamente” ao projeto de Jirau, no Rio Madeira, que tinha a Camargo no consórcio. Ele confirmou que, em um primeiro momento, o senador fez um pedido a ele para que a Camargo desse uma contribuição de R$ 3 milhões para sua reeleição, depois de já ter deixado o Ministério de Minas e Energia.
Auler, que era diretor da Camargo à época, disse ter levado a demanda ao então presidente da empreiteira Antônio Miguel, que autorizou o repasse de R$ 1 milhão, doado oficialmente. Ao voltar ao senador, junto com o gerente de Relações Institucionais da empresa Gustavo da Costa Marques, Auler contou que ouviu uma reclamação do parlamentar e depois o pedido.
A EMPREITEIRA – “Houve inicialmente uma frustração por parte do senador em razão da redução do valor. Que na mesma reunião, Edison Lobão entregou ao declarante um cartão de uma empresa que prestava serviços de engenharia, mencionando que gostaria que a Camargo Corrêa contratasse a ‘empresa amiga’”, relatou Auler à PF. O empresário contou que, ao fim da reunião, foi apresentado à pessoa cujo nome constava no cartão, “Ralfe”, mas disse não se recordar da fisionomia dele.
O pedido foi encaminhado ao seu superior na época, responsável pelas obras de Jirau, Marco Antonio Bucco e, a partir daí, Auler disse não ter tomado conhecimento dos desdobramentos do caso. No depoimento, o delator não citou qual seria a “empresa amiga”, mas disse que em pesquisas internas os advogados da Camargo identificaram a empresa associada a “Ralfe” como sendo a Brasil Central Engenharia, uma empreiteira de Cuiabá. Sua defesa, inclusive, entregou à PF uma cópia do contrato com a empresa no valor de R$ 3,8 milhões para os serviços de “carga, transporte, descarga e espalhamento de material comum” para as obras civis de Jirau.
ACERTO – A Camargo também entregou à PF cópias das notas fiscais emitidas dos serviços que teriam sido prestados pela Brasil Central. Apesar da documentação, a empresa informou à PF que não constatou nenhuma propina referente ao empreendimento de Jirau. Fontes ligadas à investigação confirmaram que, apesar de estar ligado à usina, o contrato foi parte de um acerto com o senador referente a outras obras do setor elétrico. À PF, Auler disse ainda que a indicação do senador não tinha importância para o andamento de Jirau, pois ele não estava mais no ministério, e que não recebeu nenhuma outra indicação de empresa para ser contratada pela Camargo.
Diante das informações do delator, a PF fez um levantamento sobre a Brasil Central Engenharia e constatou que a empresa está em nome de Mara Gil Dias e Ana Paula Gil Dias, que são respectivamente mulher e filha do empresário Filadelfo dos Reis Dias, que compôs o quadro societário da empresa em 2008.
DOAÇÕES – Chamou a atenção da PF o fato de que os três participaram como sócios de várias empresas de energia e saneamento entre 2009 e 2011, mas em 2010, tais empresas só fizeram doações eleitorais a candidatos de Rondônia. Foram doados oficialmente pela Brasil Central R$ 100 mil para a campanha do senador Valdir Raupp (PMDB), e R$ 200 mil para um candidato a deputado estadual pelo PCdoB.
Por meio da Eletricidade Paraense, que segundo a PF teve como sócias Mara ou Ana Paula Gil, foi feita uma doação de R$ 150 mil à campanha do governador Confúcio Moura, candidato do PMDB que foi eleito em 2010.
OUTRO LADO – O criminalista Antônio Carlos de Almeida Castro, o Kakay, que defende Lobão e Raupp, informou que o ex-ministro já negou a versão apresentada por Auler e disse que o depoimento não apresenta nenhuma prova contra seu cliente. Já em relação a Raupp, o advogado afirmou que ele não conhece nenhuma das empresas citadas pela Camargo nem as pessoas ligadas a essas empresas e não entendeu a citação ao seu nome.
Por meio de sua assessoria, o governador Confúcio Moura disse que todas as doações que recebeu foram declaradas à Justiça Eleitoral, que “jamais pediu qualquer ajuda a Edison Lobão” e que “não exerce nem nunca exerceu qualquer influência sobre contratações de qualquer empresa”. A Camargo Corrêa, por sua vez, informou que “segue colaborando com as autoridades de forma permanente e respeitando o sigilo exigido” pela Justiça.

02 de março de 2018
Mateus Coutinho
O Globo

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