"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 6 de março de 2018

HAVIA UM JOSÉ MARIA ALKMIN NA POLÍTICA DO PARÁ

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A sabedoria política nacional acha que ela só existe em Minas, Bahia, São Paulo, no nordeste e no sul maravilha. No entanto ela está espalhada de norte a sul. Por exemplo: o Pará teve um José Maria Alkmim que durou décadas: João Botelho.
João Botelho foi candidato a prefeito de Belém. Passou o dia inteiro anunciando um comício à noite, na praça Brasil. Chegou lá, não havia ninguém. Imaginou um engano, perguntou ao secretario.
– Não houve engano não, deputado, a praça é esta mesma?
Foi ao bar mais perto, pediu dois caixotes de madeira, pôs no centro da praça, subiu e passou a berrar alucinado:
– Socorro, socooorro, socoooooooorro!
Correu gente de todo lado para ver o que era. Assegurada a plateia, ele começou o comício:
– Socorro para um candidato…
E fez o comício.
MORTE DO AMIGO – Deputado no Rio, passou muito tempo sem ir a Belém. Quando foi, encontrou na rua o filho de um grande amigo:
– E o velho? Ainda não tive tempo de abraçá-lo.
 – Papai faleceu, deputado.
Desculpou-se como pôde, a vida absorvente do Congresso, a longa ausência da terra:
– Aceite minhas condolências, extensivas a todos os seus.
Dias depois, volta a encontrar-se com o rapaz:
– E o velho?
– Eu já disse, deputado. O papai faleceu.
– Ah, foi mesmo. Esta minha cabeça! Mas nunca é demais renovar a expressão de meu pesar. E deu-lhe um longo abraço. Semanas depois, novo encontro. Foi começando:
– E o velho?
Mas emendou logo: – O velho sempre morto, não é? Sempre morto.
CAPITÃO FARDADO – Secretário de Segurança, recebeu em audiência um capitão do Exército, fardado:
– Tenha a bondade, major.
– Major, não, doutor Botelho, capitão.
– Mas é major na promoção de minha amizade.
Depois, encontra um cabo eleitoral:
– Como vai? E a diletíssima esposa? E as crianças?
– Tudo bem, deputado. A mulher está ótima. Mas, por enquanto, é um menino só.
– E eu não sei que é um filho só? É um menino, certo, mas que vale por muitos. Então, como vão os meninos?
PELO TELEFONE – Já fora da política, no Rio, precisava conseguir uns esclarecimentos no Instituto Félix Pacheco. Ia saindo, o colega da Procuradoria da Caixa Econômica chamou a atenção para o calor desesperado que fazia lá fora:
– Mas você sair daqui desse ar refrigerado e enfrentar o sol da avenida, a pé, até a rua Venezuela? Por que não telefona?
Disse que pelo telefone eles não informam. Mas ligou, fez voz macia:
– Meu filho, aqui fala Monsenhor Botelho, do Palácio São Joaquim. O senhor cardeal deseja uma informação.
O funcionário anotou, saiu do telefone alguns instantes e voltou com todos os esclarecimentos.
– Muito obrigado, meu filho. Que Deus abençoe e a mim não desampare. Quando puder venha tomar um café com o velho Monsenhor Botelho.

06 de março de 2018
Sebastião Nery

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