"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

segunda-feira, 4 de setembro de 2017

JOESLEY PEDIU A POLÍTICOS QUE APOIASSEM A LIBERAÇÃO DE FINANCIAMENTO DO BNDES

000000000000000000000000000000000000000000000a-charge-bndes
Charge do Sponholz (sponholz.com.br)
Em novo anexo entregue por delatores da JBS à Procuradoria Geral da República (PGR), o empresário Joesley Batista revela que procurou políticos pra fazer “pressão” e conseguir que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) liberasse um financiamento para a construção de uma fábrica de celulose da Eldorado, no Mato Grosso do Sul. Nos documentos, o empresário afirma que solicitou apoio para o negócio, entre os anos de 2009 e 2010, ao senador José Serra (PSDB-SP), à época candidato à presidência da República; e aos ex-ministros petistas Antonio Palocci e Guido Mantega.
No anexo, Joesley detalhou o contato que teve com cada um desses políticos – alguns somente conversas e pedidos de apoio.
OS PEDIDOS – Sobre José Serra, Joesley diz que pediu pra que o tucano fizesse contato com o BNDES. O empresário afirma que não fez nenhum pagamento de propina a Serra. Com relação a Palocci, o delator faz o mesmo relato: pressão política, sem pagamentos.
Mas sobre Mantega, Joesley descreveu reuniões e o pagamento de propina de 4% do valor do contrato de empréstimo com o BNDES por causa da interferência do ex-ministro para que o financiamento saísse.
Joesley também já havia revelado em delação que, por ter conseguido empréstimo, pagou 1% de propina para presidentes de dois fundos que eram sócios de uma empresa do grupo J&F. São eles: Wagner Pinheiro, ex-presidente da Petros, fundo de pensão da Petrobras; e Guilherme Lacerda, ex-presidente da Funcef, fundo de pensão da Caixa.
VACCARI, TAMBÉM – O empresário diz que o mesmo valor, 1% do contrato, foi pago a João Vaccari, preso na Lava Jato em abril de 2015, acusado de ser operador de propinas do PT.
Por meio de nota, a assessoria de José Serra afirmou que a história relatada por Joesley “jamais ocorreu”. A defesa de Guido Mantega declarou que o delator está entrando em contradição, porque, antes, havia dito que não teria dado nenhum centavo ao ex-ministro, somente teria feito pagamentos para o PT.
A empresa Eldorado pertence à holding J&F, grupo empresarial que reúne os negócios dos irmãos Joesley e Wesley Batista. O novo anexo trata de pedidos feitos por Joesley a políticos que, segundo ele, ajudaram a liberar um empréstimo bilionário à empresa Florestal, de plantação de eucaliptos. O delator diz que a pressão política se concretizou em meio à eleição presidencial de 2010.
TRAMITAÇÃO – Joesley contou que o pedido de empréstimo começou a ser feito em 2009, por ele próprio, ao então presidente do BNDES, Luciano Coutinho. O empresário disse que ficou sabendo pelo então governador de Mato Grosso do Sul, André Puccinelli, que uma empresa europeia tinha desistido de construir um fábrica de celulose no estado. Joesley, então, sugeriu que a fábrica da J&F ficasse no lugar.
Ele detalha que, após resistências da área técnica do BNDES, recorreu a Guido Mantega, ainda em 2009 – quando Mantega era ministro da Fazenda – para destravar o empréstimo. Joesley diz que Mantega “prontamente o apoiou”.
O empresário relatou uma reunião, que aconteceu entre o 1º e o 2º turnos das eleições de 2010, na sede do BNDES, no Rio de Janeiro. Na ocasião, Joesley diz ter cobrado Coutinho sobre a liberação do empréstimo, alegando que já tinha o apoio de Mantega. O BNDES é vinculado aos ministérios do Planejamento e da Fazenda, que à época estava sob o comando de Mantega.
COUTINHO VETOU – O empresário afirmou à Procuradoria Geral da República que Coutinho disse que era impossível analisar o projeto no banco. Joesley disse que, a partir daí, pediu a “urgente intervenção de Mantega”. E que, em seguida, procurou mais apoio de políticos.
Joesley contou que pediu ajuda a Antonio Palocci, relatando que a essa época Palocci era braço-direito da então candidata Dilma Roussef. Palocci foi coordenador da campanha presidencial da petista em 2010.
Em outra frente, Joesley diz ter procurado o então candidato à presidência, José Serra – que tinha se afastado do governo de São Paulo pra fazer campanha. O empresário relatou que encontrou pessoalmente com Serra. A reunião aconteceu no período da noite, por volta das 23h30.
PRESSÃO TOTAL – Ainda segundo a delação, Joesley pediu aos três – Mantega, Palocci e Serra – a mesma coisa: que eles ligassem ao então presidente do BNDES, Luciano Coutinho, e dissessem que, caso eles estivessem no Poder Executivo, tal projeto seria apoiado.
Em seguida, segundo a delação, Mantega marcou uma reunião, dentro do Ministério da Fazenda, com Joesley e Coutinho – e comunicou que tinha convencido o BNDES sobre a importância de se seguir com a análise do pedido de financiamento no BNDES.
Em seguida, disse o delator, o próprio Coutinho relatou que Serra tinha ligado pra fazer a mesma recomendação, acrescentado que o então presidenciável sabia muitos detalhes do projeto da fábrica de celulose; e que tinha prestado muita atenção às explicações dadas por Joesley na reunião que teve com o empresário.
ENFIM, ANDOU – O empresário relatou que, daquele dia em diante, o banco voltou, mesmo que lentamente, à análise do projeto da Eldorado. O delator disse aos procuradores que o BNDES condicionou o empréstimo à fusão da Florestal com a Eldorado, do ramo de celulose – ambas empresa do grupo J&F. Afirmou também que as condições do financiamento foram difíceis e que a liberação do dinheiro demorou.
Por isso, declarou Joesley, no início de 2012, ligou para o então governador André Puccinelli, de Mato Grosso do Sul, pedindo ajuda junto ao BNDES, porque os 13 mil operários da fabrica de celulose estavam sem receber e representavam um grande risco de destruição e tumulto.
O delator afirmou ainda que, dias após o ocorrido, o BNDES iniciou a liberação dos financiamentos. Segundo o relato de Joesley, a fábrica de celulose da Eldorado Brasil S.A. foi inaugurada em 12 de dezembro de 2012.
###
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG
 – A narrativa de Joesley faz sentido. Quem vetou a operação não foi Luciano Coutinho, que se comportava no BNDES como simples operador dos negócios autorizados pelo governo, como o Porto de Mariel, em Cuba, que não teve garantia de mercado e o financiamento foi liberado irregularmente. No caso narrado por Joesley, foi o corpo técnico do BNDES que vetou a operação e depois exigiu a fusão da Eldorado e da Florestal, condição que também faz sentido. Todos os envolvidos podem negar, mas no caso a verdade está com Joesley Batista, não há a menor dúvida. (C.N.)


04 de setembro de 2017
Camila Bomfim
TV Globo, Brasília

Nenhum comentário:

Postar um comentário