A Tribuna da Internet transcreveu neste sábado, dia 2, uma instigante entrevista da pesquisadora Whitney Phillips, da Mercer University, dos Estados Unidos, sobre a disseminação da raiva, das provocações e dos ataques pessoais nas redes sociais. Em sua opinião, não se trata de um fenômeno da internet, mas de um comportamento da vida real que agora se manifesta na plataforma da wb, através da ação dos “trolls”, como são chamados os internautas que entram em discussões on-line apenas para irritar e ofender, assim como os “haters”, que sistematicamente expõem ódio em posts e comentários.
Nessa preciosa entrevista, infelizmente a pesquisadora não mergulhou no cerne da questão, não buscou o motivo desse comportamento altamente negativo. Afinal, por que as pessoas continuam assim, apesar de toda a revolução cultural e tecnológica que vem se registrando?
DUAS UTOPIAS – Na realidade, a resposta a essa inquietante questão deve estar no fato de que a Humanidade ainda se revela incapaz de concretizar sua maior aspiração – alcançar um estágio aceitável de civilização e democracia.
A vida real nos mostra que as desigualdades sociais continuam chocantes. Na grande maioria dos países, tenta-se fazer com que a riqueza total conviva pacificamente com a miséria absoluta, mas isso é absolutamente impossível, jamais acontecerá.
A vida é tão curta, sabe-se que da Terra nada se leva, mas as pessoas insistem em desprezar esta realidade. Entregam-se totalmente ao Deus Dinheiro, como se fossem viver para sempre, numa ilusão que chega a ser patética, pois não conseguem enxergar a vida como ela é. E assim, em meio a essas aparentemente insanáveis distorções, vai se eternizando a ridícula disputa ideológica entre capitalismo e comunismo, que tem tudo a ver com o controle do Dinheiro e do Poder.
ERROS BRUTAIS – O capitalismo e o comunismo (dois extremos) fracassaram, esta é a realidade, não pode ser contestada. O socialismo democrático (centro) seria o caminho mais apropriado à democracia, mas tem esbarrado nas imperfeições do comportamento social e nas deficiências da civilização.
Os países europeus (especialmente, os escandinavos) são exemplos da busca desse equilíbrio social, embora ainda deixem muito a desejar. Elevaram seus povos a boas condições de qualidade de vida, mas cometeram erros brutais, que hoje remetem a um retrocesso ameaçador.
Como as mulheres europeias ganharam acesso ao mercado de trabalho e reduziram o número de filhos, a população dos países da Europa começou a estacionar e a diminuir. A imigração foi então facilitada, para atrair trabalhadores de baixa qualificação, destinados a ocupar postos de trabalho que os europeus se recusavam a desempenhar. E assim esses países passaram a ter dois tipos de habitantes – os europeus e os imigrantes.
SEM MISCIGENAÇÃO – Se a Europa fosse como o Brasil, onde ocorreu a maior miscigenação da História, haveria menores problemas, a desigualdade social não seria tão gritante. Mas na Europa praticamente não há miscigenação. Justamente por isso, surgiram os guetos nas cidades, onde é cultivado um incontrolável ódio racial, religioso e social. Basta dizer que em Estocolmo (Suécia) há bairros onde a polícia está proibida de ingressar.
O resultado é que o radicalismo, o racismo e o terrorismo se fortalecem cada vez mais. E ao invés de estarmos discutindo profundamente esta questão, que desafia o futuro da Humanidade, o que se vê na web são pessoas perdendo neurônios a debater o que seria melhor – capitalismo ou comunismo –, como se esses regimes fracassados pudessem ter algum futuro. E a internet logo ficou infectada por esse ridículo rancor ideológico.
É PRECISO AGIR – O mundo deveria usar a web para discutir a desigualdade social, a miséria em que vive cerca de 1 bilhão de seres humanos, com milhões de crianças que morrem sem ter o que comer, conforme Audrey Hepburn e Lady Di já mostraram ao mundo, mas poucos se apiedaram e a situação até se agravou.
Como ajudar esses povos a sobreviver e evitar a emigração nas balsas da morte? Como manter as populações em seus países, com melhor qualidade de vida? Como reduzir o crescente radicalismo religioso, racial e ideológico?
Poucos se preocupam em encontrar soluções, porque os interesses econômicos é que comandam a política internacional, e os países mais ricos são responsáveis pelo atual êxodo do Oriente Médio e da África.
CIVILIZAÇÃO DE VERDADE – O resultado de tudo isso é o terrorismo. Os governantes ocasionais julgam que podem contê-lo com medidas extremas de segurança. É uma ilusão. O terrorismo é alimentado pelo ódio que viceja na internet, com os atentados se simplificando e multiplicando. Se não houver solução, a indústria do turismo europeu acabará indo à falência, é só questão de tempo. Os turistas serão expulsos pelo terrorismo, um fenômeno assustador que somente será contido quando o mundo caminhar para se tornar uma civilização de verdade se é que isso algum dia acontecerá.
Desculpem essas reflexões, motivadas pela entrevista da pesquisadora Whitney Phillips sobre o ódio que caracteriza as manifestações na internet. Odiar é fácil. Difícil é fazer a humanidade buscar soluções para problemas que ela mesma cria, movida pelos mais reprováveis sentimentos, como egoísmo, ambição, soberba e avareza.
Como viver e ser feliz sabendo que essas desgraças estão acontecendo no dia a dia? Buscar a felicidade neste mundo perverso é meta a ser atingida apenas por completos alienados. Talvez seja por isso que tanta gente hoje busca alguma felicidade nas drogas, sejam legais ou ilegais.
BALANÇO DE AGOSTO – Como sempre fazemos, vamos divulgar o balanço das contribuições feitas à Tribuna da Internet no mês de agosto. Agradecemos a todos que participam desse esforço para manter na internet um espaço que seja realmente democrático, embora saibamos que isso ainda é apenas uma utopia.
04 de setembro de 2017
Carlos Newton
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