Para os que sabem de onde flui o poder real no establishment político dos EUA, absolutamente não foi surpresa a continuação da guerra de 16 anos, jamais interrompida pelos EUA contra o Afeganistão. Mas com certeza surpreendeu os eleitores que acreditaram que o presidente Donald Trump representaria o desejo dos norte-americanos de sair das múltiplas guerras à distância e envolvimentos escusos, e poria “EUA em Primeiro Lugar”, o anúncio que Trump fez, de que nada disso acontecerá, mas, isso sim, as guerras serão expandidas.
Seja como for, talvez seja a primeira de uma longa série de lições muito duras que o povo dos EUA terá de aprender: não importa quem os cidadãos elejam em Washington, as agendas que o eleito terá de cumprir já lhe chegam prontas, vindas de outro lugar, e são impostas aos eleitos.
MAIS MARINES – O siteThe Hill, no artigo intitulado “5 takeaways from Trump’s Afghan speech” [Cinco inferências a partir do discurso de Trump sobre o Afeganistão], tocou em vários pontos do tal discurso sobre o Afeganistão, onde os EUA têm atualmente 8.400 soldados, e para onde se preparam, para mandar outros milhares de soldados.
The Hill escreveu: “Trump fala de mandar cerca de 4.000 soldados a mais, mas nem divulgou um número nem disse como serão distribuídas no país as forças adicionais dos EUA.” E acrescentou: “Não falaremos sobre número de soldados ou nossos planos para futuras atividades militares”, disse Trump. “As condições em campo, não cronogramas arbitrários, guiarão nossa estratégia a partir de agora. Os inimigos dos EUA não saberão dos nossos planos… Não direi quando atacaremos, mas atacaremos.”
CONTRADIÇÕES – A entrevista de Trump contrasta com as promessas de campanha, como o site The Hill lembrou: “Por que continuamos a treinar aqueles afegãos que, em seguida, atiram nos nossos soldados pelas costas? Afeganistão é total desperdício. É hora de voltar para casa!” – Trump escreveu pelo Twitter em 2012.
The Hill também lembra que os EUA têm agora cerca de 8.400 soldados no Afeganistão. As forças têm missão dupla de treinamento e assessoramento, e de ajuda às forças afegãs na luta contra os Talibã e em missões de contraterrorismo contra grupos como al Qaeda e o Estado Islâmico no Iraque e Síria.
E isso, precisamente, é o que políticos e líderes militares não se cansam de repetir sobre o conflito afegão já há uma década e meia – período correspondente aos governos de George Bush, Barack Obama e, agora, de Trump.
FALTAM CONDIÇÕES? – O presidente Trump diz agora que o objetivo já não é a retirada em prazo a ser anunciado, mas que os movimentos serão ditados pelas condições em campo: “Um dos pilares centrais de nossa nova estratégia é uma mudança, de abordagem baseada no tempo, para abordagem baseada em condições. Já disse várias vezes o quanto é contraproducente para os EUA anunciar datas em que planejamos começar ou encerrar opções militares.”
As chamadas “condições” exigem, ao que tudo indica, que o regime-vassalo dos EUA que está no poder em Kabul “assuma a propriedade do seu futuro”, apesar das muitas repetições de que os EUA não têm qualquer compromisso com “construir nações” à “imagem dos EUA”. São condições – mesmo que sem qualquer análise – contraditórias e repetitivas que reprisam promessas feitas e em seguida quebradas pelo antecessor do presidente Trump, o ex-presidente Obama.
E O PAQUISTÃO? – O presidente Trump – como Bush e Obama antes dele – também ameaçou o vizinho Paquistão, acusando o país de estar reduzindo a própria presença militar no Afeganistão. O presidente Trump chegou a alertar: “Pagamos bilhões e bilhões de dólares ao Paquistão, ao mesmo tempo em que eles dão abrigo aos terroristas contra os quais nós combatemos. Mas isso terá de mudar e mudará imediatamente” – Trump prometeu. “É hora de o Paquistão demonstrar comprometimento com a civilização, a ordem e a paz.”
Verdade é que os EUA nem invadiram o Afeganistão nem permanecem lá até hoje para combater algum terrorismo. As organizações que os EUA estariam supostamente combatendo lá não são financiadas nem comandadas pelo Afeganistão. Pelo contrário, são financiadas e comandadas pelos mais próximos e mais íntimos aliados dos EUA no Oriente Médio – inclusive por Arábia Saudita e Qatar.
VELHOS MOTIVOS – Os EUA ocupam até hoje o Afeganistão pela mesma razão pela qual o país foi invadido e ocupado muitas vezes pelo Império Britânico: como tentativa para expandir a própria hegemonias para a Ásia Central e Sul da Ásia.
Muito convenientemente, o Afeganistão tem fronteiras com Irã, Paquistão, Turcomenistão, Uzbequistão, Tadjiquistão e até com China. Uma presença militar permanente dos EUA no Afeganistão, com total controle sobre o regime em Kabul, dá aos EUA uma plataforma a partir da qual ampliar a própria influência geopolítica direta e indireta. Evidências indicam também que explorar esse tipo de base estratégica é processo que começou há muito tempo.
IRÃ E PAQUISTÃO – Durante décadas os EUA tentaram pressionar Irã e Paquistão citando planos há muito tempo elaborados para os dois países, mas a validade já é bem outra.
Para o Paquistão, antes da invasão de 2001 ao Afeganistão, os EUA tinham bem poucas opções para coagir Islamabad. Mas com os militares dos EUA já na fronteira do Paquistão e com missões executadas regularmente com forças especiais e veículos comandados a distância também em território paquistanês, a capacidade de Washington para coagir e influenciar Islamabad foi dramaticamente ampliada.
Se acontecer de o presidente Trump anunciar ação militar direta contra o Paquistão, não importa por qual motivo, os EUA já têm lá, convenientemente construídas na fronteira várias bases militares das quais aquela ação pode ser lançada. Essas bases desenvolveram a própria infraestrutura ao longo de 16 anos, e continuam. Se os EUA decidirem ampliar o apoio clandestino que os EUA já dão a movimentos separatistas dentro do Paquistão, é serviço que pode ser feito muito confortavelmente a partir do Afeganistão.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Não importa quem assuma o poder, seja democrata, republicano ou porra-louca tipo Trump, a política imperialista dos EUA é sempre a mesma. Não há nenhuma novidade. (C.N.)
NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Não importa quem assuma o poder, seja democrata, republicano ou porra-louca tipo Trump, a política imperialista dos EUA é sempre a mesma. Não há nenhuma novidade. (C.N.)
04 de setembro de 2017
Tony Cartalucci
New Eastern Outlook
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