"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sexta-feira, 2 de dezembro de 2016

ADVERSÁRIOS DA LAVA JATO TRAÇAM CAMINHO PARA A DERRUBADA DO GOVERNO TEMER

Charge do Paixão, reproduzida da Gazeta do Povo


Esta é minha opinião a respeito do enorme escândalo que marcou a votação, na Câmara dos Deputados, do projeto contra a corrupção, assinado por dois milhões e quatrocentos mil eleitores, mas que foi – vejam só o absurdo – transformado em matéria do verdadeiro apoio à corrupção, inclusive protegendo os ladrões que assaltaram o país. A repulsa da sociedade brasileira foi total e alcançou a rara dimensão de quase unanimidade condenando o ato repugnante, em todos os sentidos. O povo está se sentindo traído e sobretudo menosprezado.

As reportagens de Cristiane Jungblut, Marina Lima, Simone Iglesias, Sílvia Amorim, Dimitrius Dantas, Carolina Brígido e Evandro Éboli, O Globo, edição de quinta-feira, traduzem nitidamente o trágico episódio, projetando suas consequências no quadro institucional.

DESABAR DE VEZ – Falei na hipótese, entre essas consequências, de o governo Michel Temer desabar de vez. Nesse sentido, em entrevista a Mônica Bergamo, Folha de São Paulo do dia primeiro, manifestou-se o ex-ministro Joaquim Barbosa, aposentado do STF. “Temer” – destacou Barbosa – “pode não resistir à revolta das ruas”. Exatamente isso. A esta situação contraditória, o Palácio do Planalto está sendo levado por um bando pouco disfarçado de ladrões e intermediários.

Michel Temer já teve que recuar na questão da anistia ao caixa dois. Agora terá de anunciar novamente seu veto a uma questão ainda pior. O que Joaquim Barbosa sustenta é lógico: inclusive está no pensamento lógico de quase todos. Excluindo os interessados na tentativa desesperada de escapar da Operação Lava-Jato, que ganhará ainda mais densidade com a delação e Marcelo Odebrecht, todos os que possuem pelo menos um pouco de sensibilidade convergem no raciocínio de novo desabamento em Brasília.

RENAN À FRENTE – O veto presidencial é o único caminho que Michel Temer possui para salvar-se das contradições e das ruas. A alternativa seria o Senado desmantelar o escândalo. Mas como esperar que tal aconteça, se Renan Calheiros, presidente da Casa, figura entre os adeptos entusiasmados do projeto que libera os corruptos. Ainda por cima, Renan desejava que o Senado aprovasse às 18 horas a redação final da Câmara realizada às quatro da manhã do mesmo dia. Para isso, teve que rodar uma edição extra do Diário do Legislativo, já que nenhum projeto pode ser votado antes de ser oficialmente publicado.

Ao mesmo tempo, o STF decide transforma Renan Calheiros em réu em um dos doze inquéritos ajuizados contra ele pela Procuradoria-Geral da República. Mas esta é outra questão.

NINGUÉM SUPORTA MAIS – O essencial encontra-se na fácil constatação de que o povo brasileiro não suporta mais a corrupção, da mesma forma que os corruptos e corruptores. Chega. Esses criminosos já ultrapassaram todos os limites. Além de saquearem o país, na madrugada de 30 de novembro julgaram-se no direito de esbofetear a opinião pública, nela incluídos os magistrados, integrantes do Ministério Público, os quadros da Polícia Federal, tendo a imprensa como testemunha.

Através dos jornais e das emissoras de rádio de televisão, a sociedade sentiu-se diretamente atingida. E viu pelas imagens os alvos e defensores da roubalheira, às gargalhadas, que soaram como sinistro deboche aos eleitores. Milhões de seres humanos humilhados e ofendidos em seu caráter e dignidade.

Roubados também, por terem sido iludidos por falsos compromissos que oscilam entre a lei e o crime coletivo, pode-se dizer, porque a falta de qualquer escrúpulo mancha a verdade nacional. Michel Temer terá que decidir entre o governo e a queda. As ruas esperam a resposta.02 de dezembro de 2016Pedro do Coutto

02 de dezembro de 2016
Pedro do Coutto

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