"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quinta-feira, 21 de abril de 2016

RESUMO DA ÓPERA



Profissionais da imprensa, juristas, leitores, vamos expungir de nossos textos e de nossa conversação o termo “impeachment”, que é alienígena. Nada de xenofobia, mas devemos não apenas cultuar nosso idioma como nos fazer libertos de uma expressão que não é vernacular, que não é nossa. Não precisamos substituir nosso vocábulo “impedimento” pelo inglês “impeachment”, pois o significado é exatamente o mesmo, é tradução literal, exprime a mesma ideia e se faz mais inteligível para quem não chega às alturas da compreensão, ainda precária, de milhões de brasileiros. O instituto do impedimento constitui criação norteamericana, e nem por isso estaríamos subordinados a pronunciá-lo como no original. Se a criação fosse chinesa, iríamos pronunciá-la em mandarim ? Este vício é típico de colonialismo cultural, devemos repudiá-lo. Não sejamos agentes culturais de outros povos. Fiquemos com a última flor do Lácio.

Nosso apelo está a propósito da temporada de caça aos corruptos, empreendida pela ágil Polícia Federal, que continua destrinchando os intestinos da República apodrecida. O ministro Gilmar Mendes afirmou que o episódio do mensalão teria revelado mais cedo os achados da operação lavajato, não o tendo feito, à época, em virtude da ponderação de que o ambiente estava abrasado e seria recomendável que se poupasse o presidente. A consideração é de todo pertinente, visto que o PT havia abraçado o lema do partido de manter-se por 20 anos no poder, e seu operador, o arrogante José Dirceu, hoje abandonado na Papuda, era o arquiteto do maldito plano, embora o domínio do fato pertencesse a Lula e aos mais chegados, possivelmente até a presidente.

Ora, brasileiros, era muita insolência do “grande chefe” sobre a sociedade. O plano estava em marcha sem que os patrícios imaginassem os métodos dos petralhas. O mensalão foi um choque para a maioria petista ingênua e para todos os eleitores que Lula galvanizou. O partido invadiu o tesouro, e aproveitou-se, enquanto durou a trama, para nos colocar no figurino de palhaços, ilaqueados, traídos, tolos. Não é aceitável que o homem de poucas luzes se arrogue nosso tutor por via de uma estratégia indecente, por uma retórica da mentira, da escassez da lógica e apelando ao patriotismo. Ele escolheu o caminho fácil e abominável do apoderamento de recursos públicos para fazê-lo, ao tempo em que distribuía benesses para a maioria desinformada e inocente. Não se pode compará-lo a outros líderes latino-americanos, pois estes, por vezes, se eternizavam mais pela emoção do que pelo caminho complacente, mas criminoso, da retirada ilícita mas tranquila de valores vultosos pertencentes aos brasileiros, uma completa perfídia. A intenção de assim fazer representou não apenas o maior escândalo no país, mas nos lega a lembrança do desastre, e de seus autores, nome a nome, e será o maior castigo para o protagonista do projeto e da sua temerária empreitada de nos fazer de bobos. Sim, o presidente nos subestimou para nos trair, e toda a camarilha que hoje arde nas prisões foram seus artífices e também maiores tolos, por envolverem-se nos negócios escusos apenas para visar resultados rápidos e fáceis, enquanto ignoravam, entanto, o projeto também de resultados fáceis do presidente de cooptar a todos.

O resumo da ópera aí está, porém, ainda longe do último ato.


21 de abril de 2016
José Maria Couto Moreira é advogado
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