A pesquisa Datafolha, reportagem de Felipe Bachltd, Folha de São Paulo de terça-feira, observando-se bem o conteúdo de que se reveste, assinala a existência de uma forte desconfiança em torno do vice Michel Temer que em breve assumirá a presidência da República. Computando-se e dividindo-se os números revelados entre tanto os que apoiam o afastamento de Dilma Rousseff do Palácio do Planalto, quanto os que são contrários à solução Temer, a pesquisa revela que 58%, no fundo, não confiam nele.
Uma questão de confiança exige ações concretas na direção da sociedade brasileira de mofo geral. Pode-se dizer que a desconfiança reinante decorre do fracasso da administração Dilma Rousseff. Por certo. Mas o problema é que, basicamente, essa falta de confiança continua predominando no cenário nacional. Como vencer esta barreira? Nesta pergunta é que habita o desafio.
O QUE O POVO QUER?
O novo governo, que está perto da alvorada, não do Palácio, mas na divisão das honras, em primeiro lugar tem de identificar o que em média, a população deseja. No momento, ela vacila. Tanto assim que o Datafolha demonstra que 60% acham que Dilma deveria renunciar ao que resta de seu mandato. Mas 58% revelam não confiar em Michel Temer. Analisando-se de maneira realista o panorama político, o levantamento expõe um espelho duplamente negativo.
Está faltando esperanças, enquanto sobra pessimismo. Porém, para isso não bastam as palavras. Os fatos são indispensáveis. Afinal de contas, o adjetivo não pode tomar o lugar do substantivo.
SALÁRIOS REDUZIDOS
A política salarial, por exemplo. Não existe de fato, mas está no papel que são irredutíveis os salários dos trabalhadores regidos pela CLT e os vencimentos dos funcionários públicos. Na teoria. Mas na prática ocorre exatamente o contrário.
A taxa inflacionária de 10,6% que marcou o exercício de 2015, divulgada pelo IBGE, somente foi reposta sobre o salário mínimo, que abrange praticamente 1/3 da mão de obra ativa. E os outros 2/3? Com toda certeza estão perdendo a corrida contra os preços que sobem todo o dia.
PROBLEMAS SOCIAIS
É fundamental considerar um fato. Aos 10,6% não repostos têm que ser somadas as parcelas mensais acontecidas neste ano. Não importa que de janeiro de 2015 a janeiro de 2016, a inflação oficial tenha baixado de 10,6 para 9,9%. O que importa, na verdade é que, enquanto as perdas do ano passado não forem recuperadas, os problemas sociais vão crescendo de forma cada vez mais sensível, especialmente para as classes de menor renda. Antes que se esqueça, devo acentuar que a mão de obra ativa brasileira é formada por cerca de 100 milhões de homens e mulheres. Por isso, inclusive, é que uma taxa de desemprego da ordem de 9,7% significa, em números absolutos, quase 10 milhões de pessoas sem receber salários.
São a legião dos que estão lançados no subsolo do consumo indispensável.
RENDA MUITO BAIXA
Para se ter uma ideia, gostaria de ouvir Flávio José Bortolotto e Wagner Pires, companheiros deste site, sobre esta situação: 1/3 dos que trabalham ganham o piso. Cinquenta por cento de 1 a 3 minímos. Oitenta por cento incluem até 7 salários mínimos. A renda média brasileira registra 2,5 mil reais. Por mês. Com salários assim e assistindo à corrupção na Petrobrás, o povo tem razão para desconfiar dos roubos contra o patrimônio coletivo.
21 de abril de 2016
Pedro do Coutto
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