Os ataques sangrentos dos terroristas em Paris estão tendo um rescaldo negativo sobre muçulmanos ao redor do mundo. E trazem muitas perguntas sobre como se deve combater tal perversão de uma religião que nunca foi tão descontrolada a ponto de atacar civis indefesos.
Os terroristas, todos de ascendência árabe e muçulmana, eram muito jovens, variando de 20 a 26 anos de idade. Todos nasceram na Europa — na França ou na Bélgica. E todos eram conhecidos por hábitos bem laicos, como beber álcool, frequentar bares e baladas, vender drogas e envolvimento em crimes mesquinhos. Fotos deles mostravam que pareciam quaisquer outros jovens europeus, usando calça jeans, camisetas, e nenhuma das mulheres cobria os cabelos. Uma foto divulgada de uma das terroristas, a prima do mentor dos ataques Abdelhamid Abaaoud, Hasna Ait Boulahcen, mostrou-a tomando banho com os seios expostos. Ela foi morta quando policias invadiram seu apartamento, onde escondia Abaaoud, que também foi morto na operação.
A pergunta que não quer calar na minha mente é como se faz a transição de ser um jovem laico para se tornar um extremista que quer explodir tudo em nome de sua religião, e como vingança contra o que eles veem como ataques ao Islã e ao mundo árabe, especialmente o bombardeio diário da Síria pela França e a Rússia.
O Estado Islâmico (EI), em nome do qual os terroristas em Paris disseram fazer os ataques, tem um alcance muito longo e poderoso, recrutando jovens muçulmanos na Europa através da internet e redes sociais. Depois de atraí-los, o EI leva esses jovens para a Síria para serem treinados em atos terroristas e para a lavagem cerebral que os transforma em máquinas de matar.
A questão fundamental é como detectar isso e parar com o recrutamento? Vários dos envolvidos nos ataques em Paris tinham fichas criminosas e estavam no radar das autoridades francesas. Alguns deles até foram interrogados voltando do treinamento na Síria, mas as autoridades francesas não conseguiram provas suficientes para detê-los.
A França, sendo uma democracia, vê limitado seu poder de impedir seus cidadãos de viajar para o exterior. O problema principal fica na fronteira da Turquia com a Síria, que é muito fácil de cruzar. Esse é o ponto fraco em tudo isso, que está permitindo aos recrutas do EI livre acesso ao território sírio controlado pelos extremistas.
John Bolton, embaixador dos Estados Unidos nas Nações Unidas durante o governo George W. Bush, e conservador, escreveu esta semana no “New York Times” que talvez a solução para o conflito atual na Síria e no Iraque seria a formação de uma nova nação sunita, esculpida em território sírio e iraquiano. Um amigo americano afirmou que achou isso um absurdo, mas eu disse que parecia uma ideia interessante. O problema seria como fazer isso acontecer, e quem ia providenciar as forças terrestres para esse projeto?
Afinal de contas, os contornos do Iraque moderno foram desenhados pela britânica Gertrude Bell, espiã e aventureira inglesa, no inicio do século XX. Foi na Conferência de Cairo de 1921 que os britânicos, aceitando as recomendações de Bell, decidiram fazer de Faisal bin Hussein, o rei deposto da Síria, o rei do Iraque. E decidindo o que incluiria no Iraque, Bell pôs os curdos e misturou sunitas e xiitas, duas vertentes do Islã adversárias.
Está claro que um novo Estado sunita deveria ser definido pelos próprios sírios e iraquianos, para não parecer mais um projeto colonial do Ocidente. Essa proposta é muito interessante por causa da guerra civil na Síria, e a continuação da violência entre sunitas e xiitas no Iraque. É claro que a formação dessa nova nação seria difícil por causa de disputas para decidir quem ficaria com os campos de petróleo.
Mas, voltando aos ataques em Paris, a repercussão em termos de islamofobia no mundo inteiro tem sido terrível. Nos Estados Unidos, os republicanos conseguiram passar uma nova lei no Congresso restringindo o número de refugiados sírios que o país poderia aceitar. O presidente Barack Obama já disse que vai vetar essa lei se o Senado aprová-la também. No Brasil, uma nova pesquisa mostrou que agressões a muçulmanos nas ruas do Rio de Janeiro cresceram 1.016% em um ano.
Mas, voltando aos ataques em Paris, a repercussão em termos de islamofobia no mundo inteiro tem sido terrível. Nos Estados Unidos, os republicanos conseguiram passar uma nova lei no Congresso restringindo o número de refugiados sírios que o país poderia aceitar. O presidente Barack Obama já disse que vai vetar essa lei se o Senado aprová-la também. No Brasil, uma nova pesquisa mostrou que agressões a muçulmanos nas ruas do Rio de Janeiro cresceram 1.016% em um ano.
A maioria dos abusos foram agressões verbais a mulheres muçulmanas que usam o véu. Foram 67 casos registrados por essas mulheres somente de janeiro a agosto deste ano, sendo a maioria xingada de “mulher-bomba”. É claro que essas agressões a muçulmanos já vêm acontecendo há muitos anos, especialmente depois dos ataques de 11 de setembro a Nova York e Washington em 2001.
É lamentável que um grupo de extremistas, como os do EI, possa causar tantos danos a civis inocentes e muçulmanos ao redor do mundo. Precisamos acabar com essa loucura do EI, que não representa, nem um pouco, a maioria dos muçulmanos moderados.
É lamentável que um grupo de extremistas, como os do EI, possa causar tantos danos a civis inocentes e muçulmanos ao redor do mundo. Precisamos acabar com essa loucura do EI, que não representa, nem um pouco, a maioria dos muçulmanos moderados.
O mundo islâmico deve usar suas vastas reservas de moderação para pregar a paz e o equilíbrio naturais no Islã. Os países do Ocidente, por sua vez, não podem cair na armadilha de querer desconfiar de todo muçulmano a ponto de querer colocá-los em campos de detenção, como os americanos fizeram com seus cidadãos de ascendência japonesa durante a Segunda Guerra Mundial. Creio que já evoluímos o bastante para distinguir o bem do mal em qualquer população e religião.
Os terroristas querem que o Ocidente maltrate e mate muçulmanos em atos de vingança pelos ataques em Paris. Não podemos sucumbir a isso, e não devemos dar esse prazer irracional aos terroristas.
27 de novembro de 2015
Rasheed Abou-Al Samh
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