Pergunte ao redor. É quase impossível encontrar alguém, ou alguém que não conheça alguém, que já não tenha sido afetado de algum modo pela crise econômica. Se 2015 está sendo marcado por forte inflexão no desempenho positivo dos últimos anos no mercado de trabalho, no aumento do rendimento e na distribuição da renda, 2016 está programado para nos levar cada vez mais longe no caminho inverso.
O problema de fundo segue intocado: 2015 previa superavit nas contas públicas de R$ 55 bilhões (1% do PIB). Podemos fechar o ano com deficit de R$ 52 bilhões (0,9% do PIB).
Será o maior rombo da história e não inclui as chamadas “pedaladas fiscais” de 2014. O deficit maior fará crescer o endividamento.
Não há no mundo país emergente com selo de bom pagador com grau de endividamento superior a 70% do PIB. Chegaremos lá em meados de 2016.
A regra é clara: a dívida aumenta como em nossa casa. No Brasil, cada ponta corre para lados opostos. A receita cai abruptamente e o gasto continuará a subir, inexoravelmente.
A queda na arrecadação de impostos vem se agravando mês a mês e acumula -4,5% entre janeiro e outubro. Só em outubro (sobre out./2014) a redução foi de 11,3%, o pior outubro desde 2009, no auge da crise internacional.
PARALISIA NA ECONOMIA
A Receita Federal constata que a paralisia na economia “está alcançando todas as empresas” (100 mil grandes e 1,2 milhão pequenas e médias) sem “nenhum setor que não esteja sendo afetado pela contração da atividade”.
Do lado da despesa, cerca de 70% dos gastos estão indexados à inflação. São principalmente despesas ligadas à área social baseadas no salário mínimo. Por sua vez, corrigido pela alta de preços, girando em 10% ao ano.
A crise que parece complexa se trata disso: receita caindo e despesa subindo. Sem mais imposto emergencial e mudanças na Constituição que aumentem a receita e reduzam os gastos indexados não há saída.
Não há o que inventar; trocar ministro não resolve. Como sempre, os agentes do mercado financeiro entenderam primeiro. As empresas, um pouco depois. A agonia é a ficha ainda cair tão lentamente entre os políticos.
CONFIRA OS GRÁFICOS
Abaixo, dois quadros produzidos pela Economatica, provedora de informações financeiras. O primeiro, sobre a rentabilidade das empresas não financeiras e bancos. Note que, depois da crise da transição FHC-Lula, no final de 2002, o resultado atual é o pior da série no caso das empresas não financeiras. O que se traduz na queda da arrecadação.
Adicionar legenda |
Neste outro gráfico, comparação entre os resultados dos bancos no Brasil e nos EUA. As notícias sobre lucros bilionários no setor financeiro estão resumidas aí.
27 DE NOVEMBRO DE 2015
Fernando Canzian
Folha
|
Nenhum comentário:
Postar um comentário