Se havia algum temor entre os investidores em relação a um possível governo de Marina Silva, caso ela vença as eleições de outubro próximo, tudo se dissipou ontem. “Nada pode ser pior do que um segundo mandato da presidente Dilma Rousseff”, foi a frase mais repetida nas mesas de operação de bancos e corretoras, depois de o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) confirmar que o Brasil entrou em recessão.
A visão do mercado é de que o tombo do Produto Interno Bruto (PIB), de 0,2% no primeiro trimestre do ano e de 0,6% entre abril e junho, foi a sentença de morte da política econômica do atual governo, que destruiu a confiança de empresários e consumidores e condenou o país a perder pelo menos meia década. Desde 2011, quando Dilma tomou posse, a média de crescimento da economia ficou em 1,5%, praticamente nada para um país que ainda tem muitos problemas sociais a resolver.
Como este já é um ano perdido, os olhos, agora, se voltam para 2015. Os investidores não têm dúvidas de que, sem o PT no governo, qualquer que seja o vencedor das urnas em outubro próximo, alçará o país novamente ao posto de “queridinho do mercado”. Basta, para isso, que o futuro ocupante do Palácio do Planalto anuncie um ajuste fiscal consistente, sem as manobras que se tornaram a marca de Arno Augustin no Tesouro Nacional, e retome a autonomia do Banco Central.
Nos cenários traçados pelos investidores, com a oposição no poder, o dólar cairá para um patamar entre R$ 1,90 e R$ 2, mesmo com o aumento das taxas de juros nos Estados Unidos, que tende a atrair capitais que hoje circulam pelas nações emergentes.
Com isso, o BC brasileiro não será obrigado a promover um novo arrocho monetário para manter a inflação sob controle. Não se pode esquecer que, até bem pouco tempo, quando Dilma aparecia como líder absoluta nas pesquisas de intenção de votos, o mercado previa um aumento da taxa básica (Selic) de até três pontos percentuais, de 11% para 14%.
Com o dólar rodando perto de R$ 2, também não haveria necessidade de se reajustar a gasolina e o diesel, uma vez que a defasagem em relação aos valores praticados no mercado internacional seria praticamente zerada. Ou seja, a pressão dos preços administrados diminuiria, concentrando-se, basicamente, nas tarifas de energia e de transporte urbano. Por tabela, a inflação se acomodaria em torno de 6%, ainda alta, mas com tendência de queda mais rápida, devido às expectativas positivas dos agentes econômicos quanto ao futuro do país.
Crescimento mais forte, porém, somente a partir de 2016. Na visão dos especialistas, mesmo que a oposição siga a cartilha esperada pelo mercado, o consumo das famílias não se recuperará na velocidade desejada, devido à corrosão do poder de compra pela resistência da inflação próxima ao teto da meta, de 6,5%, por tanto tempo.
Além disso, os consumidores estão muito endividados e não há intenção dos bancos em acelerar a oferta de crédito sem a certeza de que o mercado de trabalho resistirá a tantos estragos na economia. Quanto aos investimentos produtivos, o empresariado só pede uma coisa para desengavetar os projetos para a ampliação das fábricas: previsibilidade.
04 de setembro de 2014
Vicente Nunes
Correio Braziliense
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