Artigos - Movimento Revolucionário
No dia 13 de agosto de 2014, a morte do candidato à presidência da República, Eduardo Campos, trouxe mais uma vez ao cenário político a possibilidade de Marina Silva ocupar o cargo supremo do Executivo nacional. O que apresento nas próximas linhas é um apanhado histórico e crítico daquilo que penso ser, do ponto de vista teórico, a base do seu pensamento político e tomarei como ponto de partida o conceito de “ecoteologia”, segundo as definições de Afonso Murad (ver. Revista Pistis Prax., Teol. Pastor., Curitiba, v. 1, n. 2, p. 277-297, jul./dez. 2009). Uma comparação entre o fanatismo ecológico no Brasil e o genocídio perpetrado pelo Khmer Vermelho no Camboja é a conclusão que faço ao final.
Ecoteologia é, antes de tudo, um conceito revolucionário naquilo que se refere à teologia tradicional. Trata-se de um nova interpretação da mensagem divina que, desde a Gênese até o Apocalipse, modifica a ideia básica do projeto de salvação contida na mensagem dos profetas, de Jesus Cristo e, finalmente, dos apóstolos, afirmando que a própria natureza e todos os seres que dela fazem parte serão salvos no fim dos tempos e no Segundo Advento. Nas palavras de Afonso Murad:
“o eixo temático da ecoteologia consiste na forma de compreender a relação entre criação, graça e pecado e entre encarnação, redenção e consumação, ou seja: a unidade e a interdependência dos elementos que constituem a experiência de salvação cristã e, no interior dessa reflexão, proclamar como todos os seres participam do projeto salvífico de Deus.”
Diz o autor mais adiante que “naturalmente, isso tem impacto na percepção sobre o valor da materialidade”.
Naquilo que se refere à Marina Silva, o conteúdo escatológico do seu pensamento pode ser percebido em declarações como essa:
"Hoje, todos nós sabemos que somos finitos como raça. E, além de não saber como lidar com a imprevisibilidade dos fenômenos climáticos, temos pouco tempo para aprender como fazê-lo.”
Observe-se portanto que, ao participar simultaneamente do debate ecológico e da comunidade religiosa formada no Brasil pela denominação pentecostal “Assembleia de Deus”, a política transformou-se, para Marina Silva e sua “Rede”, numa espécie de interface, num campo onde o “discurso da salvação” adquire aquilo que se convencionou recentemente chamar de “transversalidade” ou seja: pode pautar o debate sobre o “futuro desse mundo material” e daquilo que eventualmente poderá substituí-lo por ocasião do Apocalipse e do Segundo Advento. (N.do E.: Deve-se ressaltar que a influência teológica decisiva que faz Marina Silva ser o que é não é pentecostalismo, e sim a chamada “teologia da libertação”, elaborada para infiltrar comunistas na Igreja Católica, e sua versão protestante, a “teologia da missão integral”, conforme a própria Marina Silva admite).
O termo “Khmer Rouge”, (Khmer Vermelho, em francês) foi cunhado pelo chefe de estado cambojano Norodom Sihanouk, e mais tarde adotado pela comunidade anglófona. A expressão se referia, de uma forma pejorativa, a uma sucessão de partidos comunistas no Camboja que evoluíram para se tornar o Partido Comunista da Kampuchea (CPK), e mais tarde no Partido do Kampuchea Democrático. A organização foi conhecida também como Partido Comunista Khmer e Exército Nacional do Kampuchea Democrático. Estima-se que o Khmer Vermelho tenha provocado através de execuções, torturas, trabalhos forçados e, sobretudo da fome, a morte de cerca de 5 milhões de cambojanos. Seus líderes principais chamavam-se de “irmãos” e tinham como meta transformar o país numa sociedade ABSOLUTAMENTE agrária (sem dúvida alguma uma proposta bastante “ecológica”) em que a economia deveria ser baseada no escambo e toda forma de “cultura tradicional” destruída para que o Camboja voltasse a um período (mais importante) dos séculos XIII ao XV em que era conhecido como Reino de Angkor. Não há dúvida, observem, de que se tratava, então em 1975, quando o Khmer toma a cidade de Phnom Penh, de um projeto de “salvação nacional”.
Há, em toda história política brasileira, um gosto mórbido pelo messianismo. Pelos projetos que, se não mergulharam o país em tantas revoluções armadas como em outras partes do mundo, ofereceram sempre “soluções esotéricas” e “mágicas” e que encantaram (e continuam encantando) o povo com seus “enviados divinos”. Marina Silva é mais um desses personagens que, de tempos em tempos, surge para dominar o inconsciente coletivo dos brasileiros. Ela substituiu Campos para apresentar-se como uma “ungida” capaz de encontrar o “meio termo entre Dilma e Aécio” e nos conduzir no caminho da “salvação” juntamente com todos os animais, plantas, rios e florestas da Amazônia Brasileira.
Seu apelo é tão forte que faz com que todas os seus eventuais eleitores esqueçam os seus quase 23 anos de petismo, sua participação no governo desse regime criminoso e o atrevimento e a audácia de uma proposta que visa reinterpretar toda mensagem cristã sobre o outro mundo para ressuscitar toda mensagem revolucionária nesse aqui: só poderemos viver nesse mundo nos preparando para salvação no outro. Nessa “salvação” levaremos conosco os animais e toda floresta. Nossos “guias” são Marina Silva e os “irmãos da Rede”.
Aproxima-se do Brasil a chegada do Khmer Verde.
04 de setembro de 2014
Milton Pires é médico.
Marina Silva em 1986, no Acre, liderando camponeses.
No dia 13 de agosto de 2014, a morte do candidato à presidência da República, Eduardo Campos, trouxe mais uma vez ao cenário político a possibilidade de Marina Silva ocupar o cargo supremo do Executivo nacional. O que apresento nas próximas linhas é um apanhado histórico e crítico daquilo que penso ser, do ponto de vista teórico, a base do seu pensamento político e tomarei como ponto de partida o conceito de “ecoteologia”, segundo as definições de Afonso Murad (ver. Revista Pistis Prax., Teol. Pastor., Curitiba, v. 1, n. 2, p. 277-297, jul./dez. 2009). Uma comparação entre o fanatismo ecológico no Brasil e o genocídio perpetrado pelo Khmer Vermelho no Camboja é a conclusão que faço ao final.
Ecoteologia é, antes de tudo, um conceito revolucionário naquilo que se refere à teologia tradicional. Trata-se de um nova interpretação da mensagem divina que, desde a Gênese até o Apocalipse, modifica a ideia básica do projeto de salvação contida na mensagem dos profetas, de Jesus Cristo e, finalmente, dos apóstolos, afirmando que a própria natureza e todos os seres que dela fazem parte serão salvos no fim dos tempos e no Segundo Advento. Nas palavras de Afonso Murad:
“o eixo temático da ecoteologia consiste na forma de compreender a relação entre criação, graça e pecado e entre encarnação, redenção e consumação, ou seja: a unidade e a interdependência dos elementos que constituem a experiência de salvação cristã e, no interior dessa reflexão, proclamar como todos os seres participam do projeto salvífico de Deus.”
Diz o autor mais adiante que “naturalmente, isso tem impacto na percepção sobre o valor da materialidade”.
Naquilo que se refere à Marina Silva, o conteúdo escatológico do seu pensamento pode ser percebido em declarações como essa:
"Hoje, todos nós sabemos que somos finitos como raça. E, além de não saber como lidar com a imprevisibilidade dos fenômenos climáticos, temos pouco tempo para aprender como fazê-lo.”
Observe-se portanto que, ao participar simultaneamente do debate ecológico e da comunidade religiosa formada no Brasil pela denominação pentecostal “Assembleia de Deus”, a política transformou-se, para Marina Silva e sua “Rede”, numa espécie de interface, num campo onde o “discurso da salvação” adquire aquilo que se convencionou recentemente chamar de “transversalidade” ou seja: pode pautar o debate sobre o “futuro desse mundo material” e daquilo que eventualmente poderá substituí-lo por ocasião do Apocalipse e do Segundo Advento. (N.do E.: Deve-se ressaltar que a influência teológica decisiva que faz Marina Silva ser o que é não é pentecostalismo, e sim a chamada “teologia da libertação”, elaborada para infiltrar comunistas na Igreja Católica, e sua versão protestante, a “teologia da missão integral”, conforme a própria Marina Silva admite).
O termo “Khmer Rouge”, (Khmer Vermelho, em francês) foi cunhado pelo chefe de estado cambojano Norodom Sihanouk, e mais tarde adotado pela comunidade anglófona. A expressão se referia, de uma forma pejorativa, a uma sucessão de partidos comunistas no Camboja que evoluíram para se tornar o Partido Comunista da Kampuchea (CPK), e mais tarde no Partido do Kampuchea Democrático. A organização foi conhecida também como Partido Comunista Khmer e Exército Nacional do Kampuchea Democrático. Estima-se que o Khmer Vermelho tenha provocado através de execuções, torturas, trabalhos forçados e, sobretudo da fome, a morte de cerca de 5 milhões de cambojanos. Seus líderes principais chamavam-se de “irmãos” e tinham como meta transformar o país numa sociedade ABSOLUTAMENTE agrária (sem dúvida alguma uma proposta bastante “ecológica”) em que a economia deveria ser baseada no escambo e toda forma de “cultura tradicional” destruída para que o Camboja voltasse a um período (mais importante) dos séculos XIII ao XV em que era conhecido como Reino de Angkor. Não há dúvida, observem, de que se tratava, então em 1975, quando o Khmer toma a cidade de Phnom Penh, de um projeto de “salvação nacional”.
Há, em toda história política brasileira, um gosto mórbido pelo messianismo. Pelos projetos que, se não mergulharam o país em tantas revoluções armadas como em outras partes do mundo, ofereceram sempre “soluções esotéricas” e “mágicas” e que encantaram (e continuam encantando) o povo com seus “enviados divinos”. Marina Silva é mais um desses personagens que, de tempos em tempos, surge para dominar o inconsciente coletivo dos brasileiros. Ela substituiu Campos para apresentar-se como uma “ungida” capaz de encontrar o “meio termo entre Dilma e Aécio” e nos conduzir no caminho da “salvação” juntamente com todos os animais, plantas, rios e florestas da Amazônia Brasileira.
Seu apelo é tão forte que faz com que todas os seus eventuais eleitores esqueçam os seus quase 23 anos de petismo, sua participação no governo desse regime criminoso e o atrevimento e a audácia de uma proposta que visa reinterpretar toda mensagem cristã sobre o outro mundo para ressuscitar toda mensagem revolucionária nesse aqui: só poderemos viver nesse mundo nos preparando para salvação no outro. Nessa “salvação” levaremos conosco os animais e toda floresta. Nossos “guias” são Marina Silva e os “irmãos da Rede”.
Aproxima-se do Brasil a chegada do Khmer Verde.
04 de setembro de 2014
Milton Pires é médico.
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