Universidade no Brasil falha como instrumento ou dispositivo de integração social
No Brasil, quem ganha o suficiente para pagar Imposto de Renda tem direito a uma dedução parcial do que gastou na educação dos filhos, ou na sua própria. Este mecanismo facilita aos jovens de classe média alta acesso a ensino básico privado de melhor qualidade e aprovação em processos seletivos competitivos para entrada em universidades públicas.
Educação superior nessas universidades gratuitas (para os estudantes, porque são pagas pela sociedade) produz empregabilidade, maior renda, capital político e valor social.
Em paralelo, trabalhadores pobres pagam impostos sobre o consumo, financiando o Estado, mas não se beneficiam de renúncias fiscais.
Essa maioria social, no mais das vezes, tem acesso a ensino básico de baixíssima qualidade na rede pública. Aos que conseguem concluir o nível médio de ensino, resta o ensino superior privado, muitas vezes de menor qualidade, pago pelo estudante ou por sua família.
A formação profissional desse segmento social resulta enfim em menor renda, desemprego, exclusão e pouco capital político.
É impressionante o papel cúmplice da universidade brasileira nessa inversão ou perversão. Aqui, a universidade falha como instrumento ou dispositivo de integração social. Na dinâmica de reprodução social do nosso país, age como promotora de desigualdades. Vagas em universidades públicas de melhor qualidade e nos cursos de maior prestígio social eram (e, em grande medida, ainda são) destinadas quase exclusivamente a uma minoria, apesar das políticas de ações afirmativas compensatórias.
A missão social das políticas públicas de educação, que é formação de cidadãos plenos, aptos a promover dignidade humana, igualdade de direitos, solidariedade, responsabilidade ambiental e justiça social, não está sendo cumprida.
Se fizermos uma avaliação do perfil ideológico de egressos das universidades públicas brasileiras — especialmente em áreas como saúde — encontraremos o oposto disso.
Profissionais formados em instituições públicas desprezam o caráter público do Estado, engajados em projetos individuais, numa relação patrimonialista e, tantas vezes, predatória com a universidade. Relacionam-se com a instituição pública como um lugar aonde irão adquirir ou garantir uma carreira pessoal, um projeto individual ou familiar, sem qualquer construção de solidariedade pelo pertencimento à instituição universitária, sustentada pela sociedade.
Solidariedade e consciência cidadã são palavras-chave para garantir a saúde como direito de todos. A promoção desses valores encontra-se, basicamente, na educação, o que requer profunda mudança dos modelos de formação profissional em saúde. A formação de médicos, enfermeiros, psicólogos, odontólogos, nutricionistas e demais trabalhadores da saúde deve basear-se nas necessidades de saúde das populações, na interdisciplinaridade, na atuação interprofissional e no efetivo conhecimento sobre o Sistema Único de Saúde.
A nova Universidade Federal do Sul da Bahia assumiu o desafio de experimentar essa mudança.
No Brasil, quem ganha o suficiente para pagar Imposto de Renda tem direito a uma dedução parcial do que gastou na educação dos filhos, ou na sua própria. Este mecanismo facilita aos jovens de classe média alta acesso a ensino básico privado de melhor qualidade e aprovação em processos seletivos competitivos para entrada em universidades públicas.
Educação superior nessas universidades gratuitas (para os estudantes, porque são pagas pela sociedade) produz empregabilidade, maior renda, capital político e valor social.
Em paralelo, trabalhadores pobres pagam impostos sobre o consumo, financiando o Estado, mas não se beneficiam de renúncias fiscais.
Essa maioria social, no mais das vezes, tem acesso a ensino básico de baixíssima qualidade na rede pública. Aos que conseguem concluir o nível médio de ensino, resta o ensino superior privado, muitas vezes de menor qualidade, pago pelo estudante ou por sua família.
A formação profissional desse segmento social resulta enfim em menor renda, desemprego, exclusão e pouco capital político.
É impressionante o papel cúmplice da universidade brasileira nessa inversão ou perversão. Aqui, a universidade falha como instrumento ou dispositivo de integração social. Na dinâmica de reprodução social do nosso país, age como promotora de desigualdades. Vagas em universidades públicas de melhor qualidade e nos cursos de maior prestígio social eram (e, em grande medida, ainda são) destinadas quase exclusivamente a uma minoria, apesar das políticas de ações afirmativas compensatórias.
A missão social das políticas públicas de educação, que é formação de cidadãos plenos, aptos a promover dignidade humana, igualdade de direitos, solidariedade, responsabilidade ambiental e justiça social, não está sendo cumprida.
Se fizermos uma avaliação do perfil ideológico de egressos das universidades públicas brasileiras — especialmente em áreas como saúde — encontraremos o oposto disso.
Profissionais formados em instituições públicas desprezam o caráter público do Estado, engajados em projetos individuais, numa relação patrimonialista e, tantas vezes, predatória com a universidade. Relacionam-se com a instituição pública como um lugar aonde irão adquirir ou garantir uma carreira pessoal, um projeto individual ou familiar, sem qualquer construção de solidariedade pelo pertencimento à instituição universitária, sustentada pela sociedade.
Solidariedade e consciência cidadã são palavras-chave para garantir a saúde como direito de todos. A promoção desses valores encontra-se, basicamente, na educação, o que requer profunda mudança dos modelos de formação profissional em saúde. A formação de médicos, enfermeiros, psicólogos, odontólogos, nutricionistas e demais trabalhadores da saúde deve basear-se nas necessidades de saúde das populações, na interdisciplinaridade, na atuação interprofissional e no efetivo conhecimento sobre o Sistema Único de Saúde.
A nova Universidade Federal do Sul da Bahia assumiu o desafio de experimentar essa mudança.
29 de julho de 2014
Naomar de Almeida Filho, O Globo
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