Parecem contraditórias as sinalizações emitidas pelo Banco Central esta semana. Na quinta-feira, a autoridade monetária deu forte demonstração de independência em relação ao governo e ao calendário eleitoral, comprometendo-se com o combate à inflação. Apenas 24 horas depois, na sexta-feira, pegou o mercado financeiro de surpresa ao anunciar um refresco no recolhimento compulsório dos bancos como medida de incentivo à oferta de crédito ao consumo.A contradição está nos propósitos de cada uma das medidas. Se a política monetária mais apertada (juros altos), da qual o BC garantiu que não pretende abrir mão, vai na direção de conter o consumo para evitar pressão sobre os preços, o aumento da oferta de crédito vai na direção contrária.
As duas posturas parecem refletir uma composição entre o que a autoridade monetária pretende de fato e o que o governo, especialmente a equipe do ministro da Fazenda, Guido Mantega, insiste em propor para tentar inverter o quadro de esfriamento da economia e desconfiança geral de empresários e consumidores.
No primeiro caso, o Banco Central aproveitou a publicação da ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que, quarta-feira da semana passada (16/7), decidiu por unanimidade aprovar a manutenção da taxa básica de juros (Selic) em 11% por ano para afastar temores que vinham tomando conta do mercado.
Leve sinal de queda da inflação em junho e a piora nas projeções para o crescimento da economia em 2014 esquentaram as especulações de que o BC seria "convencido" a baixar a taxa Selic na próxima reunião, em 3 de setembro, um mês antes do primeiro turno das eleições presidenciais. Seria a repetição do desastroso "cavalo de pau" nas taxas de juros dado em 2011, quando a Selic iniciou uma sequência de quedas forçadas, que em um ano baixou a Selic de 12,42% para 7,12% ao ano.
Mereceu aplausos a reação imediata da autoridade ao fazer constar na ata a posição tomada, esclarecendo que o Copom "ainda percebe inflação persistente nos próximos trimestres" e não pensa em qualquer redução do instrumento de política monetária (juros) para combatê-la. Foi sinal positivo em meio à chuva de notícias ruins sobre a economia.
Já a liberação de uma parcela do compulsório para que os bancos aumentem a oferta de crédito às pessoas e às empresas - com destaque para as pequenas e médias - atende ao diagnóstico muitas vezes feito pelo ministro Guido Mantega, da Fazenda, de que a desaceleração da economia se deve principalmente à redução na oferta de crédito por parte dos bancos.
Sim, a medida é contraditória, mas é cedo para avaliar seus efeitos. De um lado, ela pode significar redução das taxas de juros na ponta do tomador (aumento da oferta). De outro, pode ser inócua e acabar não afetando a inflação, não apenas por envolver volume insuficiente para isso, mas também porque a queda na tomada do crédito não parece ser causa, mas a consequência de perda generalizada de confiança na condução da política econômica. Só mudanças nessa condução teriam o condão de reanimar o investimento e a atividade como um todo. Se assim for, o BC terá dado apenas um anel para preservar os dedos.
29 de julho de 2014
Editorial Correio Braziliense
As duas posturas parecem refletir uma composição entre o que a autoridade monetária pretende de fato e o que o governo, especialmente a equipe do ministro da Fazenda, Guido Mantega, insiste em propor para tentar inverter o quadro de esfriamento da economia e desconfiança geral de empresários e consumidores.
No primeiro caso, o Banco Central aproveitou a publicação da ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), que, quarta-feira da semana passada (16/7), decidiu por unanimidade aprovar a manutenção da taxa básica de juros (Selic) em 11% por ano para afastar temores que vinham tomando conta do mercado.
Leve sinal de queda da inflação em junho e a piora nas projeções para o crescimento da economia em 2014 esquentaram as especulações de que o BC seria "convencido" a baixar a taxa Selic na próxima reunião, em 3 de setembro, um mês antes do primeiro turno das eleições presidenciais. Seria a repetição do desastroso "cavalo de pau" nas taxas de juros dado em 2011, quando a Selic iniciou uma sequência de quedas forçadas, que em um ano baixou a Selic de 12,42% para 7,12% ao ano.
Mereceu aplausos a reação imediata da autoridade ao fazer constar na ata a posição tomada, esclarecendo que o Copom "ainda percebe inflação persistente nos próximos trimestres" e não pensa em qualquer redução do instrumento de política monetária (juros) para combatê-la. Foi sinal positivo em meio à chuva de notícias ruins sobre a economia.
Já a liberação de uma parcela do compulsório para que os bancos aumentem a oferta de crédito às pessoas e às empresas - com destaque para as pequenas e médias - atende ao diagnóstico muitas vezes feito pelo ministro Guido Mantega, da Fazenda, de que a desaceleração da economia se deve principalmente à redução na oferta de crédito por parte dos bancos.
Sim, a medida é contraditória, mas é cedo para avaliar seus efeitos. De um lado, ela pode significar redução das taxas de juros na ponta do tomador (aumento da oferta). De outro, pode ser inócua e acabar não afetando a inflação, não apenas por envolver volume insuficiente para isso, mas também porque a queda na tomada do crédito não parece ser causa, mas a consequência de perda generalizada de confiança na condução da política econômica. Só mudanças nessa condução teriam o condão de reanimar o investimento e a atividade como um todo. Se assim for, o BC terá dado apenas um anel para preservar os dedos.
29 de julho de 2014
Editorial Correio Braziliense
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