"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

quarta-feira, 30 de julho de 2014

A OPOSIÇÃO QUE DILMA PEDIU A DEUS


Antes de tudo, necessário se torna esclarecer que o presente artigo se refere exclusivamente aos procedimentos da oposição relativos à disputa da eleição para a Presidência da República. Para melhor entendimento da questão, serão analisados referidos procedimentos tanto na eleição anterior, vencida por Dilma, como na eleição que será realizada no próximo outubro de 2014.

Durante a campanha de 2010, a equipe de Serra recebeu toda a documentação comprobatória do comprometimento de Dilma com o caso da Gemini – espúria sociedade por meio da qual o cartório de produção e comercialização de Gás Natural Liquefeito foi entregue a uma multinacional em cujo prontuário consta uma multa de R$ 2,3 bilhões por integrar o Cartel do Oxigênio (organização criminosa que cometia, entre outros, o hediondo crime de fraudar o caráter competitivo de licitações para superfaturar contra nossos combalidos hospitais públicos).

Três fatos evidenciavam o comprometimento de Dilma com a Gemini: 1 – A sociedade foi arquitetada no período em que Dilma acumulava os cargos de Ministra de Ministra de Minas e Energia e Presidente do Conselho de Administração da Petrobras; 2 – Em janeiro de 2004, com Dilma ainda acumulando tais cargos, foi firmado um fraudulento Acordo de Quotistas que deixou a Petrobras, indefesa, nas garras da sócia majoritária da Gemini; 3 – Dilma nunca se manifestou sobre as comprovadas denúncias referentes à Gemini que foram por ela recebidas, na condição de Presidente do Conselho de Administração da Petrobras.

Detalhe: conforme didaticamente explicado para a equipe de Serra, as cláusulas 3.2 e 3.3 de referido Acordo de Quotista, combinadas, representam uma grosseira brecha para superfaturamentos cotidianos contra a Petrobras.

Outro detalhe: a equipe de Serra foi alertada sobre a conveniência de questionar Dilma a respeito da Gemini logo no início do primeiro debate na televisão (realizado pela Band); seria a oportunidade de desestabilizar a candidata – ainda inexperiente, e à cata de aliados que acreditassem na viabilidade eleitoral do “poste”.

Porém, o alerta não foi considerado; o pessoal respondeu que a campanha tucana seria “programática”, e que denuncismo era coisa de petistas.

Deu no que deu. Enquanto Serra era atacado sob a alegação de que, se eleito fosse, iria privatizar a Petrobras, Dilma – que não teria como se explicar diante das maracutaias que beneficiaram enormemente uma empresa privada em detrimento da Petrobras – navegava tranqüila no lago formado pela imensa incompetência do pessoal da campanha de Serra.

Tendo perdido as melhores oportunidades, Serra resolveu questionar Dilma sobre a Gemini no último debate, realizado na TV Record em 25 de outubro de 2010. Naquele debate, Serra afirmou: “O atual governo cedeu para a (...), uma multinacional, a sociedade do fornecimento de gás liquefeito. A Petrobrás ficou com a menor parte, 40%. Ela favoreceu uma multinacional em relação à ação da Petrobras, que tinha toda a condição para fazer esse trabalho”.

Apesar de Serra ter citado duas vezes tal espúria sociedade durante o debate, Dilma – que não tem defesa no caso Gemini – não se manifestou sobre o assunto.

Acontece que, pelas regras daquele último debate, um candidato perguntava e o outro candidato respondia; diferentemente dos debates anteriores, não havia possibilidade de tréplica.

Assim, só restou a Serra o choro dos perdedores: em entrevista concedida ao final do debate, ele afirmou que havia ficado “curioso” para saber o pensamento de Dilma sobre “essa associação estranha da Petrobras com a (...), que entregou a essa multinacional o controle do gás liquefeito no Brasil”.
Constatada a indesculpável falha da equipe de Serra, passemos, a seguir, a analisar o procedimento da oposição na atual campanha.

A tímida reação do candidato Aécio Neves diante do envolvimento de seu nome com a construção de um aeroporto (ou pista de pouso?) em uma fazenda de sua família, situada em Cláudio (MG), provocou apreensão em muitos setores da oposição.

Será que a equipe de Aécio vai repetir o erro da equipe de Serra, e ficar com medo de bater onde, de fato, dói em Dilma?

Por que a oposição se mantém calada diante do instigante artigo “Deletem Dilma!”, publicado no Alerta Total em 13 de julho de 2014?

Será que a oposição prefere a derrota a questionar o caso Gemini, um crime de lesa-pátria que tem o potencial de aniquilar qualquer resquício de credibilidade que, porventura, ainda exista nas duas mais decantadas qualidades de Dilma: “gerente eficiente” e “administradora transparente”?

Ora, a real disposição política da oposição será conhecida nos próximos dias, com seus procedimentos diante do caso Ildo Sauer – Diretor de Gás e Energia da Petrobras do início do primeiro governo Lula (2003) até 2007.

Considerando que – conforme pode ser visto no artigo “Dilma versus Ildo Sauer: vai encarar, Presidenta?” – o professor Sauer se tornou o mais categórico denunciante de desmandos no setor energético, acusando diretamente Dilma de atos que demandariam investigações do Ministério Público e da Polícia Federal.

Considerando, também, que o professor Sauer, por ter sido diretor da área de gás da Petrobras, além de conhecer o processo decisório dentro da empresa, conhece muito bem o caso Gemini.

E considerando, ainda, que o Tribunal de Contas da União (TCU) – ao mesmo tempo em que isentou Dilma – está responsabilizando Sauer por prejuízos causados pela compra da refinaria de Pasadena, no que ficou conhecido como o imbróglio das cláusulas “put option” e “marlim”.

Qualquer oposição que se preza deve questionar o professor Sauer sobre o caso Gemini.

A seguir uma simples pergunta que levantaria o véu que cobre a Gemini:
“Ao aprovar, em outubro de 2004, a participação da Petrobras na Gemini, o Conselho Diretor da Petrobras, do qual o Senhor era integrante, tinha conhecimento do fraudulento Acordo de Quotista firmado em 29 de janeiro de 2004, nove meses antes da aprovação do Conselho?”

A resposta do professor Sauer a essa pergunta será um grande passo para descobrir quem são os responsáveis por essa falcatrua que ferrou com a Petrobras.

Com a palavra a oposição.

30 de julho de 2014
João Vinhosa é Engenheiro.
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário