Não há uma crise no setor automobilístico. Aconteceu o previsto. A redução de impostos provocou antecipação de compras e agora as montadoras estão tendo um ano mais fraco. Além disso, a queda é principalmente nas exportações, e dar garantias para que um país em crise cambial importe carros do Brasil é uma insensatez. A decisão sobre isso está suspensa, por enquanto.
O governo já deixou claro que dará benefício às empresas e pressiona os bancos a liberarem mais crédito. Mas a inadimplência dobrou quando as vendas podiam ser feitas em 60 meses sem entrada.
No quarto ano seguido de PIB fraco, o governo está preocupado com o desempenho do setor automobilístico, principalmente porque é ano eleitoral. As vendas caíram 1,68% no primeiro trimestre e a produção recuou 8%, pela perda de fôlego da demanda interna e pelos problemas da Argentina. Com isso, outros setores da economia sentem os efeitos indiretos, como as siderúrgicas, que produzem aço, e os fabricantes de vidro e borracha.
Estimular novamente as vendas, para criar um novo ciclo de crescimento, vai trazer de volta velhos problemas. Não faz muito tempo, a inadimplência da carteira de veículos disparou. Subiu de 3,6%, em março de 2011 (início da nova série do Banco Central), para 7,23%, em junho de 2012. Os bancos e as próprias financeiras ligadas às montadoras se assustaram e fecharam a torneira do crédito. Foi exigido uma entrada maior para a compra do automóvel, e o prazo para o pagamento, que chegou a 60 meses, foi reduzido. As medidas deram resultados e a inadimplência recuou para 5,04%. Ainda alta, mas em queda em relação ao pico.
A pressão do governo para que os bancos aumentem a oferta de crédito não chega em boa hora. Os atrasos de até 90 dias nos pagamentos de veículos deram um salto em março. Subiram de 7,4% para 8,5%. Esse é um indicador antecedente da inadimplência, que passa a ser registrada quando o atraso ultrapassa três meses. Ou seja, mesmo com as regras mais rígidas, há risco de um novo repique à frente.
Os financiamentos de automóveis triplicaram nos últimos cinco anos. O saldo total de crédito concedido com esse objetivo saiu de R$ 60 bilhões, em 2007, para 193 bilhões em 2012. Uma alta de 221%. De lá para cá, entrou em estagnação e caiu para R$ 189 bilhões em março. O que tem incomodado as montadoras é que os novos financiamentos caíram 15% no primeiro trimestre deste ano em relação ao quatro do ano passado. O número foi 8% maior que o do mesmo período de 2013.
As vendas externas de carros caíram 32% no primeiro trimestre deste ano, segundo dados da Anfavea. Em dólares, a redução foi de 15%, com uma redução de receita de US$ 3,4 bilhões para US$ 2,9 bilhões, incluindo veículos e máquinas agrícolas. Com isso, os estoques subiram de 37 dias para 48, o que levou muitas montadoras a darem férias coletivas e adotarem programas de demissão voluntária. O problema é a crise cambial na Argentina e quanto a isso o Brasil nada pode fazer. Até mesmo executivos do setor são céticos de que as negociações entre os dois governos vão resolver o problema. A crise no país vizinho tem raízes profundas.
O número de carros nas ruas subiu muito, nos últimos anos. A venda anual de veículos saltou de 1,3 milhão, em 2002, para 3,6 milhões, em 2013. Quase triplicou. Poucas foram as obras de infraestrutura, nesse período, para melhorar as condições de tráfego e estacionamentos.
O governo já fez amplos pacotes de apoio às montadoras. Aumentou barreiras de importação, reduziu IPI e subsidiou o preço do combustível, por meio da Petrobras. A cada número negativo, a indústria vai a Brasília. Fazer novos pacotes não resolverá o problema do setor nem do baixo crescimento do país.
O governo já deixou claro que dará benefício às empresas e pressiona os bancos a liberarem mais crédito. Mas a inadimplência dobrou quando as vendas podiam ser feitas em 60 meses sem entrada.
No quarto ano seguido de PIB fraco, o governo está preocupado com o desempenho do setor automobilístico, principalmente porque é ano eleitoral. As vendas caíram 1,68% no primeiro trimestre e a produção recuou 8%, pela perda de fôlego da demanda interna e pelos problemas da Argentina. Com isso, outros setores da economia sentem os efeitos indiretos, como as siderúrgicas, que produzem aço, e os fabricantes de vidro e borracha.
Estimular novamente as vendas, para criar um novo ciclo de crescimento, vai trazer de volta velhos problemas. Não faz muito tempo, a inadimplência da carteira de veículos disparou. Subiu de 3,6%, em março de 2011 (início da nova série do Banco Central), para 7,23%, em junho de 2012. Os bancos e as próprias financeiras ligadas às montadoras se assustaram e fecharam a torneira do crédito. Foi exigido uma entrada maior para a compra do automóvel, e o prazo para o pagamento, que chegou a 60 meses, foi reduzido. As medidas deram resultados e a inadimplência recuou para 5,04%. Ainda alta, mas em queda em relação ao pico.
A pressão do governo para que os bancos aumentem a oferta de crédito não chega em boa hora. Os atrasos de até 90 dias nos pagamentos de veículos deram um salto em março. Subiram de 7,4% para 8,5%. Esse é um indicador antecedente da inadimplência, que passa a ser registrada quando o atraso ultrapassa três meses. Ou seja, mesmo com as regras mais rígidas, há risco de um novo repique à frente.
Os financiamentos de automóveis triplicaram nos últimos cinco anos. O saldo total de crédito concedido com esse objetivo saiu de R$ 60 bilhões, em 2007, para 193 bilhões em 2012. Uma alta de 221%. De lá para cá, entrou em estagnação e caiu para R$ 189 bilhões em março. O que tem incomodado as montadoras é que os novos financiamentos caíram 15% no primeiro trimestre deste ano em relação ao quatro do ano passado. O número foi 8% maior que o do mesmo período de 2013.
As vendas externas de carros caíram 32% no primeiro trimestre deste ano, segundo dados da Anfavea. Em dólares, a redução foi de 15%, com uma redução de receita de US$ 3,4 bilhões para US$ 2,9 bilhões, incluindo veículos e máquinas agrícolas. Com isso, os estoques subiram de 37 dias para 48, o que levou muitas montadoras a darem férias coletivas e adotarem programas de demissão voluntária. O problema é a crise cambial na Argentina e quanto a isso o Brasil nada pode fazer. Até mesmo executivos do setor são céticos de que as negociações entre os dois governos vão resolver o problema. A crise no país vizinho tem raízes profundas.
O número de carros nas ruas subiu muito, nos últimos anos. A venda anual de veículos saltou de 1,3 milhão, em 2002, para 3,6 milhões, em 2013. Quase triplicou. Poucas foram as obras de infraestrutura, nesse período, para melhorar as condições de tráfego e estacionamentos.
O governo já fez amplos pacotes de apoio às montadoras. Aumentou barreiras de importação, reduziu IPI e subsidiou o preço do combustível, por meio da Petrobras. A cada número negativo, a indústria vai a Brasília. Fazer novos pacotes não resolverá o problema do setor nem do baixo crescimento do país.
04 de maio de 2014
Miriam Leitão, O Globo
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