Descendo ladeira abaixo, Dilma é vaiada na Expozebu
A presidente Dilma Rousseff foi vaiada em três momentos na abertura oficial da Expozebu, que reúne empresários da agropecuária no Triângulo Mineiro. No evento, ela prometeu que o plano agrícola pecuário 2014-2015 terá mais recursos e mais facilidades na obtenção de crédito. Na versão anterior, a verba para financiamento foi de R$ 136 bilhões. O anúncio não foi suficiente para conter a plateia.
As vaias começaram assim que a presidente recebeu a medalha alusiva aos 80 anos da Expozebu. Voltaram no início e no fim do discurso da presidente. Visivelmente tensa, a presidente não fez nenhum comentário sobre as manifestações. O evento contava com grande número de simpatizantes do deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO). O parlamentar, também homenageado com a medalha do evento, foi aplaudido pela plateia.
Dilma anunciou que na segunda-feira o Diário Oficial da União publicará um decreto do Ministério do Meio Ambiente formalizando a entrada em vigor do Cadastro Ambiental Rural, o CAR, ferramenta de dados para controle de desmatamentos com base em informações das propriedades rurais. O CAR foi criado com o Código Florestal. Ele é um dos requisitos para a obtenção de financiamento público.
A presidente Dilma afirmou que o governo está aberto a sugestões para a elaboração do plano agrícola que deverá ser anunciado ainda este mês. Dilma observou que a meta é manter as diretrizes dos planos anteriores, ampliar recursos e simplificar procedimentos. “Dos R$ 136 bilhões para o crédito em 2013 e 2014, foram contratados R$ 116 bilhões até março. Desse montante, R$ 42,5 bilhões foram destinados ao financiamento da pecuária”, afirmou Dilma.
Estadão
Reflexões sobre o renascimento do fascismo no Brasil
A todo momento alguém é acusado de fascista, sem que realmente se saiba do que está se falando.
O fascismo constitui uma das teorias político-filosóficas mais eficazes já criadas no mundo. Reconhecê-lo não significa apoiar seus males, mas identificar as fragilidades para combater sua nocividade.
A doutrina se apresenta como um movimento nacionalista de massa via adesão multiclasse, formando uma liga que consolida os interesses de qualquer corporação, fazendo crer que união de pessoas em defesa de seus direitos individuais se tornem uma frente forte e invencível. É aí onde mora a sua falácia.
A questão haitiana
Há alguns meses, tocamos aqui no problema dos imigrantes haitianos, que se acumulavam como gado, em um ”abrigo” no Acre, enquanto o governo acreano pedia, a Brasília, o fechamento da fronteira com o Peru, para diminuir o fluxo de “refugiados”.
O povo haitiano tem sido historicamente explorado. Primeiro, pelos espanhóis, depois, pelos franceses, os ingleses e norte-americanos, e vários ditadores, entre eles François Duvalier, o “Papa Doc”, que, além de café e açucar, enviava, em conluio com mafiosos franceses, para o exterior, também o sangue e o plasma recolhidos, em troca de centavos, de seu povo.
Se antes, os haitianos eram explorados pelos colonos brancos, hoje, com o país destruído pela miséria e o terremoto, eles o são pelos “coyotes” que, em troca de pesadas dívidas, e usando seus familiares que ficam no Haiti como reféns ou como escravos, os enviam para outros países, como o Brasil, para que trabalhem, apenas para pagar a “viagem”, durante anos.
Para o Brasil, portanto, não se trata de um gesto humanitário aceitá-los em nossas fronteiras, já que, com isso, só estamos enriquecendo os modernos traficantes de escravos e os bandidos peruanos que os atravessam para o lado brasileiro. Se quiséssemos recebê-los por aqui, bastaria obedecer às cotas já ofertadas para imigrantes legais haitianos, nas representações diplomáticas brasileiras em Porto Príncipe.
Trazendo-os diretamente para o Brasil, diminuiríamos o número de vítimas dos traficantes. Mas só poderíamos fazê-lo se tivéssemos como oferecer-lhes capacitação profissional e em nosso idioma, na chegada, e não estivéssemos apenas abarrotando abrigos insalubres, durante meses, com essas pessoas.
20 MIL JÁ VIERAM
Desde 2010, quase 20.000 haitianos já entraram no Brasil por essa rota, e depois de ficar algum tempo no Acre, se espalharam pelo país. Nas últimas semanas, 2.500 deles ficaram impedidos de fazê-lo, por causa da cheia do rio Madeira, e o governo acreano resolveu enviá-los para outros estados, principalmente da região sudeste, usando aviões que levavam mantimentos ao Acre.
Trata-se de um êxodo descoordenado e improvisado, a ponto de o governo de São Paulo ter emitido, ontem, nota reclamando da chegada de 400 haitianos à capital paulista, sem aviso prévio, nos últimos 15 dias, e classificando a atitude do governo acreano de “irresponsável”.
Quando o governo brasileiro aceitou o comando militar da Minustah - Missão de Estabilização do Haiti, em 2004, a pedido do Conselho de Segurança das Nações Unidas, abriu-se caminho, especialmente depois do terremoto de 2010, para o maior envolvimento com a população local, considerando-se a natural solidariedade que seu sofrimento despertou entre nossos soldados.
A questão é que, a partir de certo momento, o Brasil passou a agir, de fato, como se fôssemos, como Nação, culpados pela situação haitiana, ou tivéssemos, como a Europa, a França e os Estados Unidos, no passado, explorado suas riquezas, invadido seu território, ou massacrado sua população.
SENTIMENTO DE CULPA…
Ao que parece, estabeleceu-se, em alguns círculos, incluindo o governo, certo sentimento de culpa, como se não estivéssemos no Haiti sob mandato imperativo das Nações Unidas, mas como tropa de ocupação.
E fôssemos obrigados, por isso, a tratar os haitianos de forma diferente da que tratamos, por exemplo, nossos vizinhos da América do Sul. Aceitando a sua entrada, de forma maciça e desordenada, por nossas fronteiras, quando não temos condições sequer de assegurar dignidade, educação, saúde, e condições mínimas de infraestrutura e segurança a milhares de cidadãos acreanos, que, sem emprego e ocupando palafitas na periferia, vivem de forma não muito diferente das condições em que vivem os cidadãos do Haiti.
O que ocorrerá se, amanhã, devido a uma crise ou desastre natural, milhares de paraguaios, bolivianos, nicaragüenses ou hondurenhos, resolverem fazer o mesmo, e se dirigirem, à razão de dezenas de pessoas por dia, para outro município brasileiro? Teremos o direito de tratá-los de forma diferente da que estamos tratando os imigrantes haitianos até agora?
O governo brasileiro está simplesmente ignorando e empurrando com a barriga a questão da imigração haitiana. Ao que parece, já foi tomada a decisão de retirar nossos soldados daquela ilha, com o próximo fim da Minustah.
É preciso, agora, que o governo federal exija do governo peruano o fim do tráfico de pessoas – que envolve corrupção e dezenas de milhares de dólares por dia – em seu território, para o Brasil.
Ou blindar a fronteira com o exército, antes que a situação fique definitivamente comprometida e insustentável, do ponto de vista do controle dos milhares de quilômetros de fronteira que compartilhamos na América do Sul.
Se quisermos ajudar os haitianos, podemos construir escolas, enviar tecnologia agrícola ou montar cooperativas de trabalho naquele país. Incentivar a emigração deles para o Brasil – como estamos fazendo, por omissão, agora, não vai resolver nossos problemas, nem os problemas do Haiti.
O economista André Perfeito, da Gradual Investimentos, não esconde a preocupação com a grave situação das contas públicas, especialmente em relação à dívida pública bruta, que engloba todos os truques contábeis do governo.
Os débitos do país alcançam 66,3% do Produto Interno Bruto (PIB), quase o dobro da média das economias emergentes, de 34,5%.
O índice só é menor que o registrado pela Índia, de 66,7%. Não à toa, ressalta, a questão fiscal será variável preponderante para que o governo, seja quem for o presidente eleito, resgate a credibilidade do país a partir de 2015.
POUCO LIGANDO
Já o economista Carlos Thadeu de Freitas Gomes, ex-diretor do Banco Central, ressalta que o quadro fiscal do país só não é pior graças à sobra de dinheiro no mundo. Com os juros nas alturas, 11% ao ano, os investidores estão pouco ligando para o desarranjo nas contas públicas. Querem apenas ter a garantia de que vão poder levar o dinheiro de volta para casa quando desejarem. E com um ótimo retorno.
“Ao que tudo indica, esse quadro favorável se manterá até o próximo ano, diante da possibilidade de o Banco Central Europeu injetar recursos na economia mundial, por meio da compra de títulos em poder dos bancos, como fez o Federal Reserve (Fed), o BC dos Estados Unidos”, diz.
Carlos Thadeu, por sinal, participará de um seminário na Alemanha, em 20 de maio próximo, sobre como resolver o problema do grande endividamento dos países europeus. Os anfitriões querem ouvir experiências da América Latina, que se atolou em dívidas nos anos de 1980 e 199
Leonêncio Nossa
A presidente Dilma Rousseff foi vaiada em três momentos na abertura oficial da Expozebu, que reúne empresários da agropecuária no Triângulo Mineiro. No evento, ela prometeu que o plano agrícola pecuário 2014-2015 terá mais recursos e mais facilidades na obtenção de crédito. Na versão anterior, a verba para financiamento foi de R$ 136 bilhões. O anúncio não foi suficiente para conter a plateia.
As vaias começaram assim que a presidente recebeu a medalha alusiva aos 80 anos da Expozebu. Voltaram no início e no fim do discurso da presidente. Visivelmente tensa, a presidente não fez nenhum comentário sobre as manifestações. O evento contava com grande número de simpatizantes do deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO). O parlamentar, também homenageado com a medalha do evento, foi aplaudido pela plateia.
Dilma anunciou que na segunda-feira o Diário Oficial da União publicará um decreto do Ministério do Meio Ambiente formalizando a entrada em vigor do Cadastro Ambiental Rural, o CAR, ferramenta de dados para controle de desmatamentos com base em informações das propriedades rurais. O CAR foi criado com o Código Florestal. Ele é um dos requisitos para a obtenção de financiamento público.
A presidente Dilma afirmou que o governo está aberto a sugestões para a elaboração do plano agrícola que deverá ser anunciado ainda este mês. Dilma observou que a meta é manter as diretrizes dos planos anteriores, ampliar recursos e simplificar procedimentos. “Dos R$ 136 bilhões para o crédito em 2013 e 2014, foram contratados R$ 116 bilhões até março. Desse montante, R$ 42,5 bilhões foram destinados ao financiamento da pecuária”, afirmou Dilma.
Estadão
A todo momento alguém é acusado de fascista, sem que realmente se saiba do que está se falando.
O fascismo constitui uma das teorias político-filosóficas mais eficazes já criadas no mundo. Reconhecê-lo não significa apoiar seus males, mas identificar as fragilidades para combater sua nocividade.
A doutrina se apresenta como um movimento nacionalista de massa via adesão multiclasse, formando uma liga que consolida os interesses de qualquer corporação, fazendo crer que união de pessoas em defesa de seus direitos individuais se tornem uma frente forte e invencível. É aí onde mora a sua falácia.
Na prática, o que acontece é que, enquanto sindicatos, corporações, associações e entidades de classe e unem em defesa de seus afiliados, e eles se unem entre si, o Estado e as famílias afortunadas (de poder ou dinheiro) adquirem em seu benefício a capacidade de comprar as pessoas no atacado, através dos pelegos representantes, até negando determinados direitos aos outros cidadãos, sob argumento que os direitos reivindicados por eles são privativos, e não coletivos.
Na Europa e em outros países está voltando o fascismo com grande força, criando grandes feudos, cartórios e dinastias. No caso do Brasil, não creio em uma economia que enche o Estado de servidores, patrocina a agiotagem oficial e desencoraja a produção, as artes e os ofícios.
E não são legítimos todos os movimentos de categorias agrupadas, porque o que lhe conferiria legalidade é justamente sua interseção com a coletividade, e nem sempre com o Estado. Mas no Brasil, o Estado, muitas vezes, continua sendo usado por interesses privados, corporativos e feudais.
A ciência diz que, nos umbigos são onde estão a maior concentração de DNA. Talvez seja por isso que a hereditariedade e o corporativismo sejam tão fortes nas opções políticas do cotidiano no Brasil.
César Cavalcanti
Crise que o Brasil não vive
O jornal “Daily Telegraphy” noticiou semana passada a separação do príncipe britânico Harry e de sua namorada, Cressida Bonas, filha de uma futura banqueira e integrante da elite empresarial inglesa. O motivo seria uma passagem aérea de pouco mais de R$ 2.400 de ida e volta aos Estados Unidos.
De acordo com o tabloide, a candidata a princesa teria questionado Harry se o relacionamento dos dois tinha futuro. Se a resposta fosse dúbia, garante o jornal, ela não pagaria pelos custos da viagem.
Deixando de lado o sensacionalismo e a especulação da vida privada da família real, a veracidade de que o bilhete da British Airways tenha causado a desilusão amorosa do neto da rainha Elizabeth II é pouco relevante, se vista por uma perspectiva geral, mas reveladora, sobretudo para nós, brasileiros, em seus melindres. Revela-nos como estamos longe de um Primeiro Mundo.
Mas a distância aqui não é porque jamais teremos príncipes e futuras princesas brigando para ver quem vai pagar a conta e fazendo disso o estopim de uma crise conjugal, mas pelo fato em si de saber que, na Inglaterra, ao contrário daqui, aquela que deseja ser “princesa” paga por suas despesas.
ESTILO BRASILEIRO
No Brasil, que há muito aboliu a monarquia, o relacionamento dos dois não estaria em perigo por motivo tão banal. Bastaria mandar “pendurar” as despesas para as contas governamentais e usar o avião da Força Aérea Brasileira que tudo estaria muito bem-resolvido, sem maiores dilemas.
Neste caso, a conselheira sentimental de Cressida poderia ser muito bem uma tal de Rosemary Noronha, “amiga” de Lula que anda meio sumida do noticiário, mas que não titubeava nem um pouco em viver por aqui uma vida de rainha.
Com viagens pagas pela Presidência, o tíquete aéreo, ainda mais em vôo convencional, jamais criaria uma crise capaz de gerar, por menor que fosse, alguma instabilidade em sua amizade colorida.
O príncipe e a agora ex-futura princesa da Inglaterra também poderiam aprender por aqui algumas malandragens que os impediriam de brigar por uma simples passagem de avião. Professores não faltariam.
Mestres como o deputado André Vargas, o senador Renan Calheiros e o governador Sérgio Cabral – que teve a proeza de garantir assento aéreo em um helicóptero do Estado do Rio de Janeiro até para o cachorro da família, diriam a eles que brigar por isso é bobagem. Por aqui, o dilema estaria solucionado, e o casório de Harry e Cressida, definitivamente, estaria salvo. Como dito, bastaria recorrer à FAB.
(transcrito de O Tempo)
De acordo com o tabloide, a candidata a princesa teria questionado Harry se o relacionamento dos dois tinha futuro. Se a resposta fosse dúbia, garante o jornal, ela não pagaria pelos custos da viagem.
Deixando de lado o sensacionalismo e a especulação da vida privada da família real, a veracidade de que o bilhete da British Airways tenha causado a desilusão amorosa do neto da rainha Elizabeth II é pouco relevante, se vista por uma perspectiva geral, mas reveladora, sobretudo para nós, brasileiros, em seus melindres. Revela-nos como estamos longe de um Primeiro Mundo.
Mas a distância aqui não é porque jamais teremos príncipes e futuras princesas brigando para ver quem vai pagar a conta e fazendo disso o estopim de uma crise conjugal, mas pelo fato em si de saber que, na Inglaterra, ao contrário daqui, aquela que deseja ser “princesa” paga por suas despesas.
ESTILO BRASILEIRO
No Brasil, que há muito aboliu a monarquia, o relacionamento dos dois não estaria em perigo por motivo tão banal. Bastaria mandar “pendurar” as despesas para as contas governamentais e usar o avião da Força Aérea Brasileira que tudo estaria muito bem-resolvido, sem maiores dilemas.
Neste caso, a conselheira sentimental de Cressida poderia ser muito bem uma tal de Rosemary Noronha, “amiga” de Lula que anda meio sumida do noticiário, mas que não titubeava nem um pouco em viver por aqui uma vida de rainha.
Com viagens pagas pela Presidência, o tíquete aéreo, ainda mais em vôo convencional, jamais criaria uma crise capaz de gerar, por menor que fosse, alguma instabilidade em sua amizade colorida.
O príncipe e a agora ex-futura princesa da Inglaterra também poderiam aprender por aqui algumas malandragens que os impediriam de brigar por uma simples passagem de avião. Professores não faltariam.
Mestres como o deputado André Vargas, o senador Renan Calheiros e o governador Sérgio Cabral – que teve a proeza de garantir assento aéreo em um helicóptero do Estado do Rio de Janeiro até para o cachorro da família, diriam a eles que brigar por isso é bobagem. Por aqui, o dilema estaria solucionado, e o casório de Harry e Cressida, definitivamente, estaria salvo. Como dito, bastaria recorrer à FAB.
(transcrito de O Tempo)
Heron Guimarães
Charge do Duke
Há alguns meses, tocamos aqui no problema dos imigrantes haitianos, que se acumulavam como gado, em um ”abrigo” no Acre, enquanto o governo acreano pedia, a Brasília, o fechamento da fronteira com o Peru, para diminuir o fluxo de “refugiados”.
O povo haitiano tem sido historicamente explorado. Primeiro, pelos espanhóis, depois, pelos franceses, os ingleses e norte-americanos, e vários ditadores, entre eles François Duvalier, o “Papa Doc”, que, além de café e açucar, enviava, em conluio com mafiosos franceses, para o exterior, também o sangue e o plasma recolhidos, em troca de centavos, de seu povo.
Se antes, os haitianos eram explorados pelos colonos brancos, hoje, com o país destruído pela miséria e o terremoto, eles o são pelos “coyotes” que, em troca de pesadas dívidas, e usando seus familiares que ficam no Haiti como reféns ou como escravos, os enviam para outros países, como o Brasil, para que trabalhem, apenas para pagar a “viagem”, durante anos.
Para o Brasil, portanto, não se trata de um gesto humanitário aceitá-los em nossas fronteiras, já que, com isso, só estamos enriquecendo os modernos traficantes de escravos e os bandidos peruanos que os atravessam para o lado brasileiro. Se quiséssemos recebê-los por aqui, bastaria obedecer às cotas já ofertadas para imigrantes legais haitianos, nas representações diplomáticas brasileiras em Porto Príncipe.
Trazendo-os diretamente para o Brasil, diminuiríamos o número de vítimas dos traficantes. Mas só poderíamos fazê-lo se tivéssemos como oferecer-lhes capacitação profissional e em nosso idioma, na chegada, e não estivéssemos apenas abarrotando abrigos insalubres, durante meses, com essas pessoas.
20 MIL JÁ VIERAM
Desde 2010, quase 20.000 haitianos já entraram no Brasil por essa rota, e depois de ficar algum tempo no Acre, se espalharam pelo país. Nas últimas semanas, 2.500 deles ficaram impedidos de fazê-lo, por causa da cheia do rio Madeira, e o governo acreano resolveu enviá-los para outros estados, principalmente da região sudeste, usando aviões que levavam mantimentos ao Acre.
Trata-se de um êxodo descoordenado e improvisado, a ponto de o governo de São Paulo ter emitido, ontem, nota reclamando da chegada de 400 haitianos à capital paulista, sem aviso prévio, nos últimos 15 dias, e classificando a atitude do governo acreano de “irresponsável”.
Quando o governo brasileiro aceitou o comando militar da Minustah - Missão de Estabilização do Haiti, em 2004, a pedido do Conselho de Segurança das Nações Unidas, abriu-se caminho, especialmente depois do terremoto de 2010, para o maior envolvimento com a população local, considerando-se a natural solidariedade que seu sofrimento despertou entre nossos soldados.
A questão é que, a partir de certo momento, o Brasil passou a agir, de fato, como se fôssemos, como Nação, culpados pela situação haitiana, ou tivéssemos, como a Europa, a França e os Estados Unidos, no passado, explorado suas riquezas, invadido seu território, ou massacrado sua população.
SENTIMENTO DE CULPA…
Ao que parece, estabeleceu-se, em alguns círculos, incluindo o governo, certo sentimento de culpa, como se não estivéssemos no Haiti sob mandato imperativo das Nações Unidas, mas como tropa de ocupação.
E fôssemos obrigados, por isso, a tratar os haitianos de forma diferente da que tratamos, por exemplo, nossos vizinhos da América do Sul. Aceitando a sua entrada, de forma maciça e desordenada, por nossas fronteiras, quando não temos condições sequer de assegurar dignidade, educação, saúde, e condições mínimas de infraestrutura e segurança a milhares de cidadãos acreanos, que, sem emprego e ocupando palafitas na periferia, vivem de forma não muito diferente das condições em que vivem os cidadãos do Haiti.
O que ocorrerá se, amanhã, devido a uma crise ou desastre natural, milhares de paraguaios, bolivianos, nicaragüenses ou hondurenhos, resolverem fazer o mesmo, e se dirigirem, à razão de dezenas de pessoas por dia, para outro município brasileiro? Teremos o direito de tratá-los de forma diferente da que estamos tratando os imigrantes haitianos até agora?
O governo brasileiro está simplesmente ignorando e empurrando com a barriga a questão da imigração haitiana. Ao que parece, já foi tomada a decisão de retirar nossos soldados daquela ilha, com o próximo fim da Minustah.
É preciso, agora, que o governo federal exija do governo peruano o fim do tráfico de pessoas – que envolve corrupção e dezenas de milhares de dólares por dia – em seu território, para o Brasil.
Ou blindar a fronteira com o exército, antes que a situação fique definitivamente comprometida e insustentável, do ponto de vista do controle dos milhares de quilômetros de fronteira que compartilhamos na América do Sul.
Se quisermos ajudar os haitianos, podemos construir escolas, enviar tecnologia agrícola ou montar cooperativas de trabalho naquele país. Incentivar a emigração deles para o Brasil – como estamos fazendo, por omissão, agora, não vai resolver nossos problemas, nem os problemas do Haiti.
04 de maio de 2014
Mauro Santayana(Jornal do Brasil)
O economista André Perfeito, da Gradual Investimentos, não esconde a preocupação com a grave situação das contas públicas, especialmente em relação à dívida pública bruta, que engloba todos os truques contábeis do governo.
Os débitos do país alcançam 66,3% do Produto Interno Bruto (PIB), quase o dobro da média das economias emergentes, de 34,5%.
O índice só é menor que o registrado pela Índia, de 66,7%. Não à toa, ressalta, a questão fiscal será variável preponderante para que o governo, seja quem for o presidente eleito, resgate a credibilidade do país a partir de 2015.
POUCO LIGANDO
Já o economista Carlos Thadeu de Freitas Gomes, ex-diretor do Banco Central, ressalta que o quadro fiscal do país só não é pior graças à sobra de dinheiro no mundo. Com os juros nas alturas, 11% ao ano, os investidores estão pouco ligando para o desarranjo nas contas públicas. Querem apenas ter a garantia de que vão poder levar o dinheiro de volta para casa quando desejarem. E com um ótimo retorno.
“Ao que tudo indica, esse quadro favorável se manterá até o próximo ano, diante da possibilidade de o Banco Central Europeu injetar recursos na economia mundial, por meio da compra de títulos em poder dos bancos, como fez o Federal Reserve (Fed), o BC dos Estados Unidos”, diz.
Carlos Thadeu, por sinal, participará de um seminário na Alemanha, em 20 de maio próximo, sobre como resolver o problema do grande endividamento dos países europeus. Os anfitriões querem ouvir experiências da América Latina, que se atolou em dívidas nos anos de 1980 e 199
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