"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sábado, 12 de abril de 2014

TEFLON INEXPUGNÁVEL



RIO DE JANEIRO - Pelo que sei, quase todos os povos praticam a cerimônia do batismo. Supõe-se que a imersão do recém-nascido numa espécie de água benta o protegerá pela vida afora. Jesus Cristo, nas águas do rio Jordão, é o exemplo clássico. À falta de um rio nas proximidades do templo, quebra-se o galho simbolicamente numa bacia pouco maior que uma pia doméstica. O que importa é a água, que precisa ser santificada. Ou, à falta dela, alguma substância igualmente protetora.

O menino Lula, na distante Garanhuns (PE), em 1945, parece ter tido direito a um elemento especial em sua água de batismo: o teflon --nome comercial do politetrafluoretileno, substância química composta de resinas usada para impermeabilizar utensílios, principalmente panelas. Com o teflon, os resíduos de gordura, óleo e outras impurezas não pegam --lavou, está limpo. E é inofensiva ao corpo humano, tanto que entra na composição de próteses.

Lula, em seus dois governos, produziu uma coleção desses resíduos --alguns já tão remotos, arquivados ou esquecidos que só podem ser reconstituídos com a ajuda do Google. Exemplos: o caso Celso Daniel, a máfia dos Gafanhotos, o escândalo dos Frangos, o Renangate, o caso Waldomiro Diniz (ou escândalo dos Bingos), as acusações de corrupção contra vários de seus ministros, a crise dos Correios, o episódio dos dólares na cueca, a quebra do sigilo bancário do caseiro Francenildo, o escândalo dos Sanguessugas.

E mais a CPI das ONGs, as operações Confraria, Dominó, Saúva, Satiagraha, Furacão, Navalha e Xeque-Mate, os casos Kroll e Rosemary Noronha, o escândalo dos Aloprados e o dos Cartões Corporativos, e sem esquecer o mensalão. Nada disso pegou em Lula. O teflon com que foi batizado era de primeira.

Dilma, parece, não teve esse privilégio. Aliás, nem o fracasso de Dilma corrói o teflon de Lula.
12 de abril de 2014
Ruy Castro, Folha de SP

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