Desculpas não faltarão, mas serão esfarrapadas. Nada justifica esse nível de inflação tão alto, em dobradinha com o crescimento do PIB tão fraco.
O avanço do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o medidor oficial para efeito de definição dos juros e da meta de inflação, foi de 0,92% em março (em relação a fevereiro), o mais alto para o mês de março desde 2003.
Em 12 meses, atingiu 6,15% (veja o gráfico). Se alcançar 0,88% em abril, como alguns analistas começam a admitir, em 12 meses a inflação transbordará o teto da meta (6,5%) e acima desse teto quase inevitavelmente ficará, pelo menos até agosto.
A conversa de que a economia enfrenta um choque de oferta de alimentos em consequência da seca é apenas um pedacinho da verdade. Em março, nada menos que 71,0% dos preços que compõem a cesta de consumo sofreram elevação (índice de difusão), mesmo não tendo nada a ver com alimentos.
A escalada é essa que estamos vendo porque a demanda sanciona as remarcações. É só conferir as listas de preços dos restaurantes e em quase toda a área de serviços, mesmo onde não há choque de oferta. Até os preços médios da gasolina subiram 0,67% em março. E não houve reajuste dos combustíveis na ponta da refinaria. O aumento de 26,5% nas passagens aéreas, por exemplo, nada tem a ver com choques de oferta. O consumidor aceita as remarcações, às vezes reclama, mas para por aí.
Em outras palavras, a inflação é o resultado da política econômica. O governo gasta demais e cria demanda. Até mesmo o represamento dos preços administrados, como os da energia elétrica e dos combustíveis, produz inflação em outras áreas porque está todo mundo sabendo que o governo prepara uma paulada para depois das eleições. Por conta disso, os formadores de preços vão se defendendo desde já com remarcações. Em 12 meses, a alta dos serviços, por exemplo, foi de 9,09%. Em março, os preços livres subiram 1,2% e os administrados, que dependem de aprovação prévia do governo, recuaram 0,02%. (Veja, ainda, o Confira.) Embora discretamente, o Banco Central já denunciou as consequências ruins desse represamento.
Neste momento, as quatro únicas respostas do governo Dilma contra a inflação são: a alta dos juros promovida pela política monetária; a retranca dos preços administrados; a baixa do dólar (âncora cambial); e a promessa de que fará um superávit primário (sobra de arrecadação para pagamento da dívida) de 1,9% do PIB. É decididamente pouco, diante do forte avanço das despesas públicas, da fúria da indexação e da relativa escassez de mão de obra, que aumenta os custos de produção.
O Banco Central vai seguir no seu pinga-pinga, sabe-se lá até quando e com que eficácia. E o resto do governo não pretende passar nenhuma conta da alta de preços para a população, porque elegeu como prioridade número um a criação de clima propício para as eleições.
Isso quer dizer que um contra-ataque para valer só acontecerá antes de outubro se a própria inflação ameaçar os planos eleitorais do governo. Não parece ser a percepção atual.
O avanço do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o medidor oficial para efeito de definição dos juros e da meta de inflação, foi de 0,92% em março (em relação a fevereiro), o mais alto para o mês de março desde 2003.
Em 12 meses, atingiu 6,15% (veja o gráfico). Se alcançar 0,88% em abril, como alguns analistas começam a admitir, em 12 meses a inflação transbordará o teto da meta (6,5%) e acima desse teto quase inevitavelmente ficará, pelo menos até agosto.
A conversa de que a economia enfrenta um choque de oferta de alimentos em consequência da seca é apenas um pedacinho da verdade. Em março, nada menos que 71,0% dos preços que compõem a cesta de consumo sofreram elevação (índice de difusão), mesmo não tendo nada a ver com alimentos.
A escalada é essa que estamos vendo porque a demanda sanciona as remarcações. É só conferir as listas de preços dos restaurantes e em quase toda a área de serviços, mesmo onde não há choque de oferta. Até os preços médios da gasolina subiram 0,67% em março. E não houve reajuste dos combustíveis na ponta da refinaria. O aumento de 26,5% nas passagens aéreas, por exemplo, nada tem a ver com choques de oferta. O consumidor aceita as remarcações, às vezes reclama, mas para por aí.
Em outras palavras, a inflação é o resultado da política econômica. O governo gasta demais e cria demanda. Até mesmo o represamento dos preços administrados, como os da energia elétrica e dos combustíveis, produz inflação em outras áreas porque está todo mundo sabendo que o governo prepara uma paulada para depois das eleições. Por conta disso, os formadores de preços vão se defendendo desde já com remarcações. Em 12 meses, a alta dos serviços, por exemplo, foi de 9,09%. Em março, os preços livres subiram 1,2% e os administrados, que dependem de aprovação prévia do governo, recuaram 0,02%. (Veja, ainda, o Confira.) Embora discretamente, o Banco Central já denunciou as consequências ruins desse represamento.
Neste momento, as quatro únicas respostas do governo Dilma contra a inflação são: a alta dos juros promovida pela política monetária; a retranca dos preços administrados; a baixa do dólar (âncora cambial); e a promessa de que fará um superávit primário (sobra de arrecadação para pagamento da dívida) de 1,9% do PIB. É decididamente pouco, diante do forte avanço das despesas públicas, da fúria da indexação e da relativa escassez de mão de obra, que aumenta os custos de produção.
O Banco Central vai seguir no seu pinga-pinga, sabe-se lá até quando e com que eficácia. E o resto do governo não pretende passar nenhuma conta da alta de preços para a população, porque elegeu como prioridade número um a criação de clima propício para as eleições.
Isso quer dizer que um contra-ataque para valer só acontecerá antes de outubro se a própria inflação ameaçar os planos eleitorais do governo. Não parece ser a percepção atual.
12 de abril de 2014
Celso Ming, O Estado de S.Paulo
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