Para Gabrielli, o assunto morre aí: Dilma não tinha informação e a compra da Pasadena foi correta
Então, ficamos assim: de todas as pessoas que aprovaram a compra da refinaria de Pasadena, só Dilma Rousseff acha que foi um mau negócio. Mas ela não teve culpa nenhuma nisso, a julgar pelo que disse José Sergio Gabrielli, presidente da Petrobras à época da compra, em 2006. Mudando versões anteriores, Gabrielli admitiu nesta semana que Dilma, então presidente do Conselho de Administração da estatal, não tinha todas as informações quando aprovou o negócio.
Não seria estranho isso? No mínimo uma falha administrativa e funcional da diretoria da empresa e da própria conselheira?
Não, nada de mais, garante Gabrielli, pois o negócio era bom na época.
Ficamos assim, portanto: quando considerou a compra boa, em 2006, Dilma estava mal informada. Quando tomou conhecimento de novos termos do contrato e passou a achar que o negócio havia sido uma fria, em 2008, Dilma continuava equivocada, pois o negócio havia sido bom, garante Gabrielli.
Nessa versão, a presidente enganou-se duas vezes: na primeira, aprovou um negócio sem informações suficientes; na segunda, desaprovou e condenou abertamente um negócio bom.
Para Gabrielli, o assunto morre aí: Dilma não tinha informação e a compra da Pasadena foi correta.
Não é por nada, não, mas parece que a presidente teria algo a acrescentar. Se fosse tão simples como diz o ex-presidente da Petrobras, por que razão Dilma, já como presidente da República, teria tomado a iniciativa de divulgar nota oficial dizendo que, se tivesse todas as informações na época, não teria aprovado a compra?
Teria sido o terceiro equívoco da presidente? Ou falta dizer alguma coisa?
SÓ?
Na semana passada, o favor que o deputado André Vargas, vice-presidente da Câmara, recebera do amigo Youssef, o doleiro preso, era de uns 200 mil reais — o preço de um aluguel de jatinho no percurso ida e volta Londrina-João Pessoa.
Aí apareceram e-mails e grampos mostrando que as relações entre os dois tinham mais negócios do que um simples voo na faixa.
O ex-presidente Lula disse que Vargas precisa se explicar bem, para que o PT não pague o pato. E acrescentou esperar que tudo não passe de um aluguel de jatinho.
Ressalvou que o jatinho já seria um erro. Quer dizer que ser for isso, é só isso, um erro?
FORA DA LEI
O senador Gim Argello, aspirante a uma vaga de ministro do Tribunal de Contas da União, responde a inquéritos no Supremo Tribunal Federal por peculato, lavagem de dinheiro, crime contra a Lei de Licitações, crime eleitoral e corrupção ativa.
Por isso, auditores e procuradores do TCU lançaram uma campanha para barrar a indicação. Argello respondeu que processo não é sentença e que ele não tem qualquer condenação.
Auditores e procuradores alegaram que ministro do TCU precisa ter reputação ilibada.
O leitor imaginaria que, nessa altura, Argello defendesse sua situação. Mas ele preferiu outro caminho: disse que a exigência de reputação ilibada não está na lei. Assim, qual o problema?
Parece que muitos senadores acham que tem problema, sim.
PORTUGUÊS
Por que a gente lê, estuda e até decora Camões? Para aprender bem a nossa língua — e isso significa ler e entender, pensar, sentir e se expressar, por escrito e oralmente.
Logo, colocar um verso de Camões numa prova do terceiro ano do ensino médio e pedir que o aluno interprete, comente, descubra os sentidos e sentimentos ali expostos, está muito certo.
Se a prova pedisse apenas que o aluno soubesse a sequência de “Alma minha gentil, que te partiste...” — não seria uma boa pergunta, só decoreba, mas, enfim, Camões.
Agora, qual o sentido de pedir que os alunos saibam de cor o verso de Valesca Popozuda “é só tiro, porrada e bomba”? Foi para criar polêmica na imprensa sensacionalista, disse o professor de filosofia que aplicou a prova numa escola pública de Taguatinga.
E os alunos aprenderam o que mais?
TUDO BEM
O FMI, o Banco Mundial, consultorias locais e internacionais, agências de classificação de risco — está todo mundo dizendo que a economia brasileira enfrenta um impasse de crescimento baixo, inflação elevada e tudo isso com juros na lua.
A inflação se aproxima dos 6,5% anuais e as pesquisas mostram que a maioria ampla dos brasileiros acha que a carestia incomoda e que vai piorar. E acha também que o desemprego vai aumentar.
Estão todos enganados, responde o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Márcio Holland. O Brasil está entre os melhores do mundo.
Então, ficamos assim: de todas as pessoas que aprovaram a compra da refinaria de Pasadena, só Dilma Rousseff acha que foi um mau negócio. Mas ela não teve culpa nenhuma nisso, a julgar pelo que disse José Sergio Gabrielli, presidente da Petrobras à época da compra, em 2006. Mudando versões anteriores, Gabrielli admitiu nesta semana que Dilma, então presidente do Conselho de Administração da estatal, não tinha todas as informações quando aprovou o negócio.
Não seria estranho isso? No mínimo uma falha administrativa e funcional da diretoria da empresa e da própria conselheira?
Não, nada de mais, garante Gabrielli, pois o negócio era bom na época.
Ficamos assim, portanto: quando considerou a compra boa, em 2006, Dilma estava mal informada. Quando tomou conhecimento de novos termos do contrato e passou a achar que o negócio havia sido uma fria, em 2008, Dilma continuava equivocada, pois o negócio havia sido bom, garante Gabrielli.
Nessa versão, a presidente enganou-se duas vezes: na primeira, aprovou um negócio sem informações suficientes; na segunda, desaprovou e condenou abertamente um negócio bom.
Para Gabrielli, o assunto morre aí: Dilma não tinha informação e a compra da Pasadena foi correta.
Não é por nada, não, mas parece que a presidente teria algo a acrescentar. Se fosse tão simples como diz o ex-presidente da Petrobras, por que razão Dilma, já como presidente da República, teria tomado a iniciativa de divulgar nota oficial dizendo que, se tivesse todas as informações na época, não teria aprovado a compra?
Teria sido o terceiro equívoco da presidente? Ou falta dizer alguma coisa?
SÓ?
Na semana passada, o favor que o deputado André Vargas, vice-presidente da Câmara, recebera do amigo Youssef, o doleiro preso, era de uns 200 mil reais — o preço de um aluguel de jatinho no percurso ida e volta Londrina-João Pessoa.
Aí apareceram e-mails e grampos mostrando que as relações entre os dois tinham mais negócios do que um simples voo na faixa.
O ex-presidente Lula disse que Vargas precisa se explicar bem, para que o PT não pague o pato. E acrescentou esperar que tudo não passe de um aluguel de jatinho.
Ressalvou que o jatinho já seria um erro. Quer dizer que ser for isso, é só isso, um erro?
FORA DA LEI
O senador Gim Argello, aspirante a uma vaga de ministro do Tribunal de Contas da União, responde a inquéritos no Supremo Tribunal Federal por peculato, lavagem de dinheiro, crime contra a Lei de Licitações, crime eleitoral e corrupção ativa.
Por isso, auditores e procuradores do TCU lançaram uma campanha para barrar a indicação. Argello respondeu que processo não é sentença e que ele não tem qualquer condenação.
Auditores e procuradores alegaram que ministro do TCU precisa ter reputação ilibada.
O leitor imaginaria que, nessa altura, Argello defendesse sua situação. Mas ele preferiu outro caminho: disse que a exigência de reputação ilibada não está na lei. Assim, qual o problema?
Parece que muitos senadores acham que tem problema, sim.
PORTUGUÊS
Por que a gente lê, estuda e até decora Camões? Para aprender bem a nossa língua — e isso significa ler e entender, pensar, sentir e se expressar, por escrito e oralmente.
Logo, colocar um verso de Camões numa prova do terceiro ano do ensino médio e pedir que o aluno interprete, comente, descubra os sentidos e sentimentos ali expostos, está muito certo.
Se a prova pedisse apenas que o aluno soubesse a sequência de “Alma minha gentil, que te partiste...” — não seria uma boa pergunta, só decoreba, mas, enfim, Camões.
Agora, qual o sentido de pedir que os alunos saibam de cor o verso de Valesca Popozuda “é só tiro, porrada e bomba”? Foi para criar polêmica na imprensa sensacionalista, disse o professor de filosofia que aplicou a prova numa escola pública de Taguatinga.
E os alunos aprenderam o que mais?
TUDO BEM
O FMI, o Banco Mundial, consultorias locais e internacionais, agências de classificação de risco — está todo mundo dizendo que a economia brasileira enfrenta um impasse de crescimento baixo, inflação elevada e tudo isso com juros na lua.
A inflação se aproxima dos 6,5% anuais e as pesquisas mostram que a maioria ampla dos brasileiros acha que a carestia incomoda e que vai piorar. E acha também que o desemprego vai aumentar.
Estão todos enganados, responde o secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Márcio Holland. O Brasil está entre os melhores do mundo.
12 de abril de 2014
Carlos Alberto Sardenberg, O Globo
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