Inflação pode subir no telhado da meta em maio, como já o fez em um terço do governo Dilma
A inflação deve furar o teto da meta em maio, a julgar pelas previsões de bancos para a alta de preços no próximo bimestre. Esse novo vexame do governo deve causar alguma pororoca política e alguma algazarra no mundo dos "formadores de opinião", das "elites". Talvez nem isso. A inflação de maio deve ser conhecida poucos dias antes da Copa.
Na prática, os números do bimestre não devem ter impacto maior. Ainda assim, a inflação deste início de ano é o atestado de óbito em vida da política econômica. Na boca do povo, o controle da inflação está para lá de mal falado. Além disso, não há muita diferença entre inflação anual de 6,15%, como agora, e uma de 6,51%, chute-se.
Na política econômica, o IPCA de abril pode incentivar o Banco Central a levar a taxa de juros de 11% para 11,25%, o que também não vai fazer lá grande diferença para a inflação ou para o crescimento, dados o adiantado da hora e os demais estragos na economia.
Pelas projeções, a inflação deve triscar no teto em abril, em 6,4%; em maio, viria o furo no teto, com IPCA anual em 6,6%. Pior ainda que estar quase no teto da meta, um dedo acima ou abaixo, é a inflação estar faz tanto tempo longe da meta oficial, de 4,5% (no entanto, a presidente tem reiterado que a meta é de 6,5%, inadvertidamente ou não).
Que a inflação venha a subir no telhado também não será novidade no país de Dilma Rousseff. O IPCA esteve no teto da meta, 6,5%, ou acima disso durante quase um terço deste governo.
A inflação esteve acima da meta entre abril e novembro de 2011, quando se registrava o primeiro acesso de mau humor popular com a inflação. Esteve riscando o teto e subiu outra vez no telhado entre março e junho de 2013.
Foi então que houve outro repique de ansiedade inflacionária, segundo dados do Datafolha e a onda de piadas sarcásticas sobre a inflação do tomate, causa menorzinha do dilúvio de protestos de junho.
A inflação horrorosa de março não parece prenúncio de nada ainda pior, de "descontrole inflacionário" ou sabe-se lá qual exagero ou eufemismo vão sair da boca ou da pena de críticos e defensores vulgares do governo. Mas o IPCA de março não é também um acidente, um soluço causado pela carestia da comida, causada pelo tempo ruim no Brasil e em vários lugares do mundo, ou pelas exorbitâncias da passagem de avião no Carnaval (imagina na Copa).
Dos preços medidos pelo IBGE, 71% aumentaram. Excluídos os alimentos, quase 72% dos preços restantes subiram. Os aumentos de preços não eram tão disseminados fazia mais de uma década, ao menos.
O núcleo da inflação está em 6,3% nos últimos 12 meses (na média de três medidas do "núcleo". Nessa medida, excluem-se justamente os preços com variação mais extremada e preços como os da comida, variáveis demais).
O resultado prático mais provável dessa inflação renitente e do mau humor popular com a carestia é uma piora extra da administração da economia. Isto é, o governo deve empurrar os reajustes necessários para depois da eleição, legando para 2015 problemas ainda piores do que aqueles que já estão no estoque.
Não vai haver desastre operístico. Apenas uma deterioração lenta, gradual e segura.
A inflação deve furar o teto da meta em maio, a julgar pelas previsões de bancos para a alta de preços no próximo bimestre. Esse novo vexame do governo deve causar alguma pororoca política e alguma algazarra no mundo dos "formadores de opinião", das "elites". Talvez nem isso. A inflação de maio deve ser conhecida poucos dias antes da Copa.
Na prática, os números do bimestre não devem ter impacto maior. Ainda assim, a inflação deste início de ano é o atestado de óbito em vida da política econômica. Na boca do povo, o controle da inflação está para lá de mal falado. Além disso, não há muita diferença entre inflação anual de 6,15%, como agora, e uma de 6,51%, chute-se.
Na política econômica, o IPCA de abril pode incentivar o Banco Central a levar a taxa de juros de 11% para 11,25%, o que também não vai fazer lá grande diferença para a inflação ou para o crescimento, dados o adiantado da hora e os demais estragos na economia.
Pelas projeções, a inflação deve triscar no teto em abril, em 6,4%; em maio, viria o furo no teto, com IPCA anual em 6,6%. Pior ainda que estar quase no teto da meta, um dedo acima ou abaixo, é a inflação estar faz tanto tempo longe da meta oficial, de 4,5% (no entanto, a presidente tem reiterado que a meta é de 6,5%, inadvertidamente ou não).
Que a inflação venha a subir no telhado também não será novidade no país de Dilma Rousseff. O IPCA esteve no teto da meta, 6,5%, ou acima disso durante quase um terço deste governo.
A inflação esteve acima da meta entre abril e novembro de 2011, quando se registrava o primeiro acesso de mau humor popular com a inflação. Esteve riscando o teto e subiu outra vez no telhado entre março e junho de 2013.
Foi então que houve outro repique de ansiedade inflacionária, segundo dados do Datafolha e a onda de piadas sarcásticas sobre a inflação do tomate, causa menorzinha do dilúvio de protestos de junho.
A inflação horrorosa de março não parece prenúncio de nada ainda pior, de "descontrole inflacionário" ou sabe-se lá qual exagero ou eufemismo vão sair da boca ou da pena de críticos e defensores vulgares do governo. Mas o IPCA de março não é também um acidente, um soluço causado pela carestia da comida, causada pelo tempo ruim no Brasil e em vários lugares do mundo, ou pelas exorbitâncias da passagem de avião no Carnaval (imagina na Copa).
Dos preços medidos pelo IBGE, 71% aumentaram. Excluídos os alimentos, quase 72% dos preços restantes subiram. Os aumentos de preços não eram tão disseminados fazia mais de uma década, ao menos.
O núcleo da inflação está em 6,3% nos últimos 12 meses (na média de três medidas do "núcleo". Nessa medida, excluem-se justamente os preços com variação mais extremada e preços como os da comida, variáveis demais).
O resultado prático mais provável dessa inflação renitente e do mau humor popular com a carestia é uma piora extra da administração da economia. Isto é, o governo deve empurrar os reajustes necessários para depois da eleição, legando para 2015 problemas ainda piores do que aqueles que já estão no estoque.
Não vai haver desastre operístico. Apenas uma deterioração lenta, gradual e segura.
12 de abril de 2014
Vinicius Torres Freire, Folha de SP
Nenhum comentário:
Postar um comentário