A inflação de março surpreendeu e assustou. Os economistas têm a má fama de pessimistas. Desta vez, a realidade os superou. O número 0,92% de março foi ainda pior porque o que mais subiu foi o item comida dentro de casa, que inclui os preços mais visíveis. As projeções mostram que a taxa estará acima do teto da meta nos meses mais intensos do debate eleitoral.
O economista e professor da PUC-Rio Luiz Roberto Cunha projeta para abril uma in- flação também alta, de 0,85%, porque os remédios aumentaram, os alimentos continuam em alta, e alguns deles pesam bastante no índice, como carne e leite. O aumento da energia que entrará no IPCA será apenas o da Cemig, porque o da Cesp é do interior de São Paulo. Ainda assim, é mais um peso. A inflação no acumulado de 12 meses encostaria no teto da meta, se isso se confirmar.
No ano passado, a inflação ficou baixa de maio a agosto. Nessa sequência: 0,37%; 0,26%; 0,03% e 0,24%. Foi um refresco no meio do ano depois de um início pesado com a inflação de alimentos disparando. Pode acontecer isso agora de novo?
— Não acredito, porque exatamente em 2013 houve aumento forte nos quatro primeiros meses do ano. Em 2014, a dinâmica está diferente. A taxa mensal vai se reduzir, mas se ela for de 0,35%, em média, nos quatro meses, a inflação em 12 meses será de 7% em agosto. Se ficar, no melhor cenário, em 0,3%, em média mensal, chegará a agosto em 6,79% — diz Roberto Cunha.
A economista Monica de Bolle também acredita que até o meio do ano a inflação superará o teto da meta. O que coloca o Banco Central numa situação difícil, porque ele deu sinal, ao fim da última reunião do Comitê de Política Monetária, que pensa em parar o período de elevação das taxas. Poderá parar com o índice ameaçando furar o limite permitido pelo regime de metas? Hoje será divulgada a ata da última reunião.
— O que aconteceu foi que a inflação tem se mantido alta por muito tempo e quando isso acontece qualquer choque eleva a taxa e ela sai dos trilhos. O número do IPCA de março mudou o cenário para o ano. Há alguns meses, a avaliação mais comum era que a eleição ocorreria numa conjuntura de desemprego baixo e inflação alta, mas em um nível que não provocaria maiores debates. O grande problema é que os preços represados (de combustíveis e energia) têm um efeito horroroso porque todos pensam: em algum momento esses preços vão subir — diz Monica.
Essa elevação da taxa é coisa nossa. A economia internacional está até ajudando, segundo Monica:
— O mundo está numa conjuntura deflacionária; não há inflação vindo da China e nos países desenvolvidos a preocupação é com a taxa baixa demais. O cenário é benigno.
O Brasil, como sabem os mais velhos, já viu índices muito maiores. Por que se preocupar com uma taxa de 0,92% num mês? A resposta é simples. O país rompeu com aquele passado e hoje é muito menos tolerante com a alta de preços. Acima de 6%, em 12 meses, o desconforto econômico é forte. E isso costuma levar o consumidor a querer do governo uma resposta convincente. O congelamento de algumas tarifas não é resposta convincente.
Em algumas cidades, os números de ontem foram piores. No Rio de Janeiro, foi de 1,28%, chegando a incríveis 7,87% em 12 meses. A inflação dos alimentos dentro do domicílio ficou em 2,43%. Em Porto Alegre, os preços dos alimentos consumidos em casa subiram 4,21%; em Curitiba, 3,52%. Isso tira o humor de qualquer consumidor.
Com o país mais sensível à elevação dos preços, a inflação acabará sendo um item da campanha. O governo certamente usará os truques de fazer um gráfico com um ponto de corte que o favoreça. Ajudará pouco. O que vale é o que o consumidor sente no bolso.
O economista e professor da PUC-Rio Luiz Roberto Cunha projeta para abril uma in- flação também alta, de 0,85%, porque os remédios aumentaram, os alimentos continuam em alta, e alguns deles pesam bastante no índice, como carne e leite. O aumento da energia que entrará no IPCA será apenas o da Cemig, porque o da Cesp é do interior de São Paulo. Ainda assim, é mais um peso. A inflação no acumulado de 12 meses encostaria no teto da meta, se isso se confirmar.
No ano passado, a inflação ficou baixa de maio a agosto. Nessa sequência: 0,37%; 0,26%; 0,03% e 0,24%. Foi um refresco no meio do ano depois de um início pesado com a inflação de alimentos disparando. Pode acontecer isso agora de novo?
— Não acredito, porque exatamente em 2013 houve aumento forte nos quatro primeiros meses do ano. Em 2014, a dinâmica está diferente. A taxa mensal vai se reduzir, mas se ela for de 0,35%, em média, nos quatro meses, a inflação em 12 meses será de 7% em agosto. Se ficar, no melhor cenário, em 0,3%, em média mensal, chegará a agosto em 6,79% — diz Roberto Cunha.
A economista Monica de Bolle também acredita que até o meio do ano a inflação superará o teto da meta. O que coloca o Banco Central numa situação difícil, porque ele deu sinal, ao fim da última reunião do Comitê de Política Monetária, que pensa em parar o período de elevação das taxas. Poderá parar com o índice ameaçando furar o limite permitido pelo regime de metas? Hoje será divulgada a ata da última reunião.
— O que aconteceu foi que a inflação tem se mantido alta por muito tempo e quando isso acontece qualquer choque eleva a taxa e ela sai dos trilhos. O número do IPCA de março mudou o cenário para o ano. Há alguns meses, a avaliação mais comum era que a eleição ocorreria numa conjuntura de desemprego baixo e inflação alta, mas em um nível que não provocaria maiores debates. O grande problema é que os preços represados (de combustíveis e energia) têm um efeito horroroso porque todos pensam: em algum momento esses preços vão subir — diz Monica.
Essa elevação da taxa é coisa nossa. A economia internacional está até ajudando, segundo Monica:
— O mundo está numa conjuntura deflacionária; não há inflação vindo da China e nos países desenvolvidos a preocupação é com a taxa baixa demais. O cenário é benigno.
O Brasil, como sabem os mais velhos, já viu índices muito maiores. Por que se preocupar com uma taxa de 0,92% num mês? A resposta é simples. O país rompeu com aquele passado e hoje é muito menos tolerante com a alta de preços. Acima de 6%, em 12 meses, o desconforto econômico é forte. E isso costuma levar o consumidor a querer do governo uma resposta convincente. O congelamento de algumas tarifas não é resposta convincente.
Em algumas cidades, os números de ontem foram piores. No Rio de Janeiro, foi de 1,28%, chegando a incríveis 7,87% em 12 meses. A inflação dos alimentos dentro do domicílio ficou em 2,43%. Em Porto Alegre, os preços dos alimentos consumidos em casa subiram 4,21%; em Curitiba, 3,52%. Isso tira o humor de qualquer consumidor.
Com o país mais sensível à elevação dos preços, a inflação acabará sendo um item da campanha. O governo certamente usará os truques de fazer um gráfico com um ponto de corte que o favoreça. Ajudará pouco. O que vale é o que o consumidor sente no bolso.
12 de abril de 2014
Miriam Leitão, O Globo
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