PSDB e PT, nos governos paulista e federal, assumem riscos em demasia para evitar medidas impopulares nas áreas de água e energia
A preponderância do ciclo eleitoral sobre a gestão da coisa pública deixará uma conta salgada para o contribuinte pagar a partir de 2015. Água e energia escorrem pelo ralo do populismo tarifário, que ignora até as leis da natureza.
O mais arraigado dos maus costumes políticos brasileiros --adiar decisões impopulares para não perder votos-- desconhece fronteiras partidárias. PSDB e PT, protagonistas da polarização que rege a vida nacional, têm os pés atolados no fundo dos reservatórios que seus governos deixaram secar.
É compreensível que o governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP), candidato à reeleição, relute em admitir a possibilidade de racionar a água na região metropolitana de São Paulo. Mais difícil de aceitar é a noção de que nada se deixou de fazer para prevenir a situação atual e de que toda a responsabilidade cabe à falta de chuvas.
Dilma Pena, presidente da Sabesp (companhia paulista de saneamento básico), não sem agressividade, diz que a empresa e o governo não descuraram do planejamento e atribui aos críticos falta de estudo e de informação.
Não é um bom argumento para explicar por que o nível da água no Sistema Cantareira, que abastece 8,8 milhões de pessoas na Grande São Paulo, se aproxima da marca de meros 12%, nunca antes atingida. Nem para o fato de que o aumento da produção de água tratada pela companhia tem ficado aquém do avanço do consumo na região.
Mais plausível é que o governo estadual, ao evitar elevar tarifas, venha impedindo a empresa de efetuar os investimentos necessários.
O paralelismo com a questão da energia elétrica, no âmbito do governo federal, salta aos olhos. Obcecada com a redução do custo da energia, a presidente Dilma Rousseff, também em busca da reeleição, desarranjou significativamente as finanças do setor.
Os preços alcançam patamar recorde no mercado livre. Caras e poluentes usinas termelétricas funcionam a todo vapor, há meses, quando deveriam ser uma reserva emergencial. Represas do Sudeste e do Centro-Oeste --as mais importantes do país-- podem recuar neste ano até o nível de 15,5%, também nunca antes alcançado.
Com isso, o rombo nas contas das distribuidoras anda pela casa dos R$ 12 bilhões e vai onerar as contas de luz de 2015 em diante.
Repete-se, assim, o erro já cometido com a Petrobras. Para conter artificialmente os índices de inflação, o Planalto represa os preços da gasolina. Com isso, incentiva seu consumo em detrimento do etanol e solapa a capacidade da empresa de investir no aumento da produção do pré-sal.
Não será a primeira nem a última vez que conveniências eleitorais ditam um curso insustentável para políticas públicas, como no caso do populismo cambial que ajudou a reeleger Fernando Henrique Cardoso em 1998. A diferença, neste 2014, é que nenhum governo tem o poder de fazer chover.
O mais arraigado dos maus costumes políticos brasileiros --adiar decisões impopulares para não perder votos-- desconhece fronteiras partidárias. PSDB e PT, protagonistas da polarização que rege a vida nacional, têm os pés atolados no fundo dos reservatórios que seus governos deixaram secar.
É compreensível que o governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP), candidato à reeleição, relute em admitir a possibilidade de racionar a água na região metropolitana de São Paulo. Mais difícil de aceitar é a noção de que nada se deixou de fazer para prevenir a situação atual e de que toda a responsabilidade cabe à falta de chuvas.
Dilma Pena, presidente da Sabesp (companhia paulista de saneamento básico), não sem agressividade, diz que a empresa e o governo não descuraram do planejamento e atribui aos críticos falta de estudo e de informação.
Não é um bom argumento para explicar por que o nível da água no Sistema Cantareira, que abastece 8,8 milhões de pessoas na Grande São Paulo, se aproxima da marca de meros 12%, nunca antes atingida. Nem para o fato de que o aumento da produção de água tratada pela companhia tem ficado aquém do avanço do consumo na região.
Mais plausível é que o governo estadual, ao evitar elevar tarifas, venha impedindo a empresa de efetuar os investimentos necessários.
O paralelismo com a questão da energia elétrica, no âmbito do governo federal, salta aos olhos. Obcecada com a redução do custo da energia, a presidente Dilma Rousseff, também em busca da reeleição, desarranjou significativamente as finanças do setor.
Os preços alcançam patamar recorde no mercado livre. Caras e poluentes usinas termelétricas funcionam a todo vapor, há meses, quando deveriam ser uma reserva emergencial. Represas do Sudeste e do Centro-Oeste --as mais importantes do país-- podem recuar neste ano até o nível de 15,5%, também nunca antes alcançado.
Com isso, o rombo nas contas das distribuidoras anda pela casa dos R$ 12 bilhões e vai onerar as contas de luz de 2015 em diante.
Repete-se, assim, o erro já cometido com a Petrobras. Para conter artificialmente os índices de inflação, o Planalto represa os preços da gasolina. Com isso, incentiva seu consumo em detrimento do etanol e solapa a capacidade da empresa de investir no aumento da produção do pré-sal.
Não será a primeira nem a última vez que conveniências eleitorais ditam um curso insustentável para políticas públicas, como no caso do populismo cambial que ajudou a reeleger Fernando Henrique Cardoso em 1998. A diferença, neste 2014, é que nenhum governo tem o poder de fazer chover.
12 de abril de 2014
Editorial Folha de SP
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