Gastos exagerados e versões que não se sustentam caracterizam a “parada técnica” da presidente em Portugal, no fim de semana
O episódio da “parada técnica” em Lisboa do avião presidencial que levaria Dilma Rousseff e sua numerosa comitiva de Davos (Suíça) para Cuba, no último fim de semana, está mais coberto de sombras do que exige a absoluta transparência que deve reger as relações entre o poder público e a sociedade. Se há questões técnicas a respeito da necessidade da escala da aeronave em Portugal, aspecto mais apropriado à opinião de especialistas aeronáuticos, há outras sobre as quais é impossível calar, tamanhas e tão grotescas são as contradições que vieram à tona. Afinal, dado o conforto que a aeronave presidencial oferece a seus ocupantes, especialmente à presidente, o próprio pernoite na capital portuguesa se torna questionável.
O assunto é do mais alto interesse público, tendo em vista as somas de recursos orçamentários envolvidos. Os fatos: Dilma e comitiva aterrissaram no aeroporto de Lisboa e lá se dividiram em 45 apartamentos em dois dos mais luxuosos hotéis lisboetas; para o repasto, escolheram o mais caro restaurante da capital, único de Lisboa a figurar no Guia Michelin como ombreado aos melhores do mundo. O ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo, alegou que pelo menos a conta do restaurante foi paga pelos comensais, e não com o cartão corporativo (o que jamais teremos como saber ao certo, já que o governo blinda o máximo possível a divulgação de gastos com esses cartões).
Depois, vêm as contradições. Segundo Figueiredo, a escala em Lisboa só foi decidida no dia do voo, após se verificar que seria impossível cumprir o plano original de realizar a parada técnica nos Estados Unidos em razão do mau tempo lá reinante. Seria aceitável a explicação se dois dias antes o governo português já não tivesse sido notificado da escala em Lisboa e preparado a recepção de praxe.
Da mesma forma, o “improviso” do jantar, supostamente decidido de última hora, não confere com informações do próprio restaurante, que teria recebido pedido de reserva das mesas com a confortável antecedência dos mesmos dois dias. Mas por que no mais caro restaurante? Outro mistério não devidamente esclarecido.
E por que não abrigar a presidente e pelo menos alguns membros mais ilustres da comitiva na sede da embaixada brasileira, tradicional hospedaria de outros presidentes brasileiros no passado? De novo, o mesmo ministro se encarrega da explicação um tanto capenga: a embaixada não dispõe de instalações suficientes nem adequadas, e nunca terá – daí a razão da reserva dos dois luxuosos cinco estrelas lisboetas. Segundo ele, embora a diária da suíte presidencial no Hotel Ritz custe normalmente R$ 27 mil e a dos demais apartamentos, R$ 1.180,00, quando no “atacado” os preços são menores.
Repete-se o mesmo acontecimento de Roma: no ano passado, a imensa comitiva de Dilma gastou nada menos de R$ 324 mil em hospedagem e aluguel de veículos para representar o Brasil na inauguração do pontificado do papa Francisco, fato que chamou a atenção da imprensa internacional. Isso tudo apesar de a sede da embaixada brasileira, o Palácio Pamphilj, na Piazza Navona, ser conhecida pelo luxo e pelas condições de hospedagem que oferece – aproveitadas, por exemplo, pelo ex-presidente Lula quando ainda ocupava o cargo.
Ninguém pretende que a presidente recorra a hotéis ou restaurantes populares quando em viagem; a dignidade do cargo exige um tratamento à altura. Mas é preciso haver parcimônia com o dinheiro público, parcimônia esta que faltou em Roma e também em Lisboa. O roteiro turístico-gastronômico a que se deu a presidente Dilma Rousseff acaba sendo um acinte à pobreza do Brasil – país que se diz muito carente de recursos para atender às mais simples demandas de sua população. Um desrespeito que não enaltece o dever de responsabilidade da presidente na utilização de recursos públicos – principalmente quando se constata que o destino final da viagem foi Cuba, nação que os irmãos Castro relegaram à condição de uma das mais pobres do continente e que encontra no Brasil um parceiro a ajudá-la.
Tudo surreal e incompreensível. Do começo ao fim.
O episódio da “parada técnica” em Lisboa do avião presidencial que levaria Dilma Rousseff e sua numerosa comitiva de Davos (Suíça) para Cuba, no último fim de semana, está mais coberto de sombras do que exige a absoluta transparência que deve reger as relações entre o poder público e a sociedade. Se há questões técnicas a respeito da necessidade da escala da aeronave em Portugal, aspecto mais apropriado à opinião de especialistas aeronáuticos, há outras sobre as quais é impossível calar, tamanhas e tão grotescas são as contradições que vieram à tona. Afinal, dado o conforto que a aeronave presidencial oferece a seus ocupantes, especialmente à presidente, o próprio pernoite na capital portuguesa se torna questionável.
O assunto é do mais alto interesse público, tendo em vista as somas de recursos orçamentários envolvidos. Os fatos: Dilma e comitiva aterrissaram no aeroporto de Lisboa e lá se dividiram em 45 apartamentos em dois dos mais luxuosos hotéis lisboetas; para o repasto, escolheram o mais caro restaurante da capital, único de Lisboa a figurar no Guia Michelin como ombreado aos melhores do mundo. O ministro das Relações Exteriores, Luiz Alberto Figueiredo, alegou que pelo menos a conta do restaurante foi paga pelos comensais, e não com o cartão corporativo (o que jamais teremos como saber ao certo, já que o governo blinda o máximo possível a divulgação de gastos com esses cartões).
Depois, vêm as contradições. Segundo Figueiredo, a escala em Lisboa só foi decidida no dia do voo, após se verificar que seria impossível cumprir o plano original de realizar a parada técnica nos Estados Unidos em razão do mau tempo lá reinante. Seria aceitável a explicação se dois dias antes o governo português já não tivesse sido notificado da escala em Lisboa e preparado a recepção de praxe.
Da mesma forma, o “improviso” do jantar, supostamente decidido de última hora, não confere com informações do próprio restaurante, que teria recebido pedido de reserva das mesas com a confortável antecedência dos mesmos dois dias. Mas por que no mais caro restaurante? Outro mistério não devidamente esclarecido.
E por que não abrigar a presidente e pelo menos alguns membros mais ilustres da comitiva na sede da embaixada brasileira, tradicional hospedaria de outros presidentes brasileiros no passado? De novo, o mesmo ministro se encarrega da explicação um tanto capenga: a embaixada não dispõe de instalações suficientes nem adequadas, e nunca terá – daí a razão da reserva dos dois luxuosos cinco estrelas lisboetas. Segundo ele, embora a diária da suíte presidencial no Hotel Ritz custe normalmente R$ 27 mil e a dos demais apartamentos, R$ 1.180,00, quando no “atacado” os preços são menores.
Repete-se o mesmo acontecimento de Roma: no ano passado, a imensa comitiva de Dilma gastou nada menos de R$ 324 mil em hospedagem e aluguel de veículos para representar o Brasil na inauguração do pontificado do papa Francisco, fato que chamou a atenção da imprensa internacional. Isso tudo apesar de a sede da embaixada brasileira, o Palácio Pamphilj, na Piazza Navona, ser conhecida pelo luxo e pelas condições de hospedagem que oferece – aproveitadas, por exemplo, pelo ex-presidente Lula quando ainda ocupava o cargo.
Ninguém pretende que a presidente recorra a hotéis ou restaurantes populares quando em viagem; a dignidade do cargo exige um tratamento à altura. Mas é preciso haver parcimônia com o dinheiro público, parcimônia esta que faltou em Roma e também em Lisboa. O roteiro turístico-gastronômico a que se deu a presidente Dilma Rousseff acaba sendo um acinte à pobreza do Brasil – país que se diz muito carente de recursos para atender às mais simples demandas de sua população. Um desrespeito que não enaltece o dever de responsabilidade da presidente na utilização de recursos públicos – principalmente quando se constata que o destino final da viagem foi Cuba, nação que os irmãos Castro relegaram à condição de uma das mais pobres do continente e que encontra no Brasil um parceiro a ajudá-la.
Tudo surreal e incompreensível. Do começo ao fim.
29 de janeiro de 2014
Editorial Gazeta do Povo, PR
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