"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 24 de novembro de 2013

"PIORAM AS CONTAS EXTERNAS"

Com um buraco de US$ 7,13 bilhões na conta corrente de outubro, resultado pior que o previsto pelo Banco Central (BC), as contas externas continuaram em deterioração, refletindo principalmente o mau desempenho do comércio exterior de bens e serviços. O déficit em transações correntes chegou a US$ 67,55 bilhões no ano e a US$ 82,21 bilhões em 12 meses.
 
Só uma forte recuperação em novembro e dezembro levará o resultado final de 2013 ao nível previsto pelo Banco Central - um saldo negativo de US$ 75 bilhões. Esses dados, no entanto, são apenas uma parte das más notícias sobre o balanço de pagamentos. No mês passado, mais uma vez o investimento estrangeiro direto, US$ 5,36 bilhões, foi insuficiente para cobrir o buraco da conta corrente.
 
A compensação foi completada por outros tipos de recursos, em geral menos seguros e mais instáveis que os capitais destinados diretamente às atividades produtivas. Em 12 meses o investimento direto alcançou apenas US$ 59,09 bilhões, 2,64% do Produto Interno Bruto (PIB) estimado, enquanto o déficit acumulado chegou a 3,67%, nível inédito nos últimos onze anos.
 
 
Sem ser desastroso, um déficit dessa proporção já vale pelo menos como um sinal de alerta. O País terá como compensar resultados negativos ainda por algum tempo, mas será preciso impedir a piora do quadro nos próximos anos. Isso dependerá principalmente da evolução do comércio exterior. O déficit em conta corrente veio acima do esperado, disse o chefe do Departamento Econômico do BC, Túlio Maciel.
 
De janeiro a outubro, houve uma piora de US$ 27,98 bilhões no resultado, na comparação com o número de igual período de 2012. A piora da balança comercial - de um superávit de US$ 17,36 bilhões para um déficit de US$ 1,83 bilhão - explica a maior parte da diferença, de US$ 19,19 bilhões. O resto dependeu das transações com serviços e rendas.
 
Maciel chamou a atenção para o descompasso entre importações e exportações de mercadorias. Enquanto o valor gasto com produtos estrangeiros aumentou 9,35%, a receita obtida com as vendas externas diminuiu 0,93% entre 2012 e 2013. Sem avançar muito na discussão das causas, Maciel apontou, pelo menos, o aspecto mais preocupante das transações com o exterior.
 
Para os mais otimistas, a depreciação do real e a esperada reativação do comércio internacional poderão resolver boa parte do problema, a partir do próximo ano. Examinado com um pouco mais de realismo, no entanto, o quadro parece bem mais complicado.
 
Empresários e alguns economistas defenderam durante anos a desvalorização do real como principal medida para fortalecer o comércio exterior, como se o câmbio fosse o maior entrave à competitividade brasileira. Com a mesma simplicidade, passou-se a dar muita importância à crise internacional e ao enfraquecimento dos mercados. A soma dos dois problemas - desajuste cambial e comércio global mais ou menos estagnado - bastaria para explicar o pobre desempenho brasileiro.
 
Mas nem todos os países foram tão mal quanto o Brasil, nos últimos anos, em sua atividade comercial. Além disso, o real se depreciou sensivelmente desde o ano passado. Em tese, isso deveria baratear as exportações brasileiras e encarecer as importações, mas o desequilíbrio se acentuou, em vez de diminuir.
 
O problema da competitividade é muito mais amplo, como já reconheceram muitos analistas, incluídos vários estrangeiros. Já se tornou lugar-comum, em relatórios de entidades multilaterais, a referência às limitações de oferta da economia brasileira - problemas como a logística deficiente, o encarecimento da mão de obra com aumentos salariais bem maiores que os ganhos de produtividade e, como há muito se sabe, a tributação incompatível com uma economia exposta à concorrência.
 
O relatório do BC sobre as contas externas confirma o agravamento de problemas bem conhecidos. Os estímulos ao consumo tornaram mais evidentes as deficiências da produção, pressionando os preços internos e forçando maior gasto com bens importados. Mas o governo, diante do desafio, apenas promete mais do mesmo.

24 de novembro de 2013
Editorial do Estadão

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