Ex-presidente do Banco Central, Francisco Lopes diz que é preciso investir no IBGE para ter números mais confiáveis e que o câmbio ajude a indústria
O senhor vem levantando questões sobre os números das contas nacionais. Não estamos medindo bem?
Eu fico surpreso com os números. Como no caso dos automóveis. A produção industrial do IBGE diz que houve queda de 5% enquanto a Anfavea diz que cresceu 5%. Quando isso acontece, aí eu me manifesto. São números importantes. Temos que ter um retrato fiel do que está acontecendo. Mas o IBGE tem melhorado.
Qual o problema do PIB financeiro (a crítica surgiu quando houve crescimento do crédito, mas o setor financeiro teve desempenho negativo)?
Como o governo expandiu o crédito dos bancos oficiais, reduziu o espaço dos bancos privados. O PIB só pegaria os números do setor privado.
O que é preciso fazer?
Acho que o governo tinha que investir mais no IBGE. Os números servem para avaliação no exterior, afetam as decisões de investimento. É preciso ter números confiáveis. O Brasil precisa investir nisso.
Onde mais há divergência?
O deflator implícito do PIB (a inflação das contas nacionais) está muito descolado dos índices de preços ao consumidor. Subiu mais que o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo, que baliza o sistema de metas de inflação). Quando se olha os Estados Unidos, por exemplo, não há tanta divergência. Uma questão que tem que ser entendida. Sinal de que o PIB está subestimado ou houve mudança nos preços relativos.
E os serviços?
Até pouco tempo, os serviços eram medidos pelo crescimento populacional. É um paradoxo no Brasil. Raramente o PIB é negativo. Não há quedas grandes, já que os serviços representam mais de 60% do PIB. Mas também não cresce muito. Para o PIB avançar, a indústria precisa crescer muito. Tem que pegar renda e faturamento das empresas. Há uma perplexidade no próprio governo. Fazem o diabo para o PIB crescer, e não cresce.
O que mais surpreendeu o senhor nos cálculos do PIB?
Os dados de consumo das famílias. Nos últimos dois anos, não cresceu nada. Já o varejo teve crescimento grande. Fico surpreso com isso. Não sei ainda a explicação. Pode ser a importação ou problema no deflator. Os dados têm que ser questionados. Se for importação, as projeções são mais otimistas. A taxa de câmbio melhorou muito, saiu de R$ 1,50 para R$ 2,30, com isso a produção industrial vai crescer.
24 de novembro de 2013
Cássia Almeida - O Globo
Eu fico surpreso com os números. Como no caso dos automóveis. A produção industrial do IBGE diz que houve queda de 5% enquanto a Anfavea diz que cresceu 5%. Quando isso acontece, aí eu me manifesto. São números importantes. Temos que ter um retrato fiel do que está acontecendo. Mas o IBGE tem melhorado.
Qual o problema do PIB financeiro (a crítica surgiu quando houve crescimento do crédito, mas o setor financeiro teve desempenho negativo)?
Como o governo expandiu o crédito dos bancos oficiais, reduziu o espaço dos bancos privados. O PIB só pegaria os números do setor privado.
O que é preciso fazer?
Acho que o governo tinha que investir mais no IBGE. Os números servem para avaliação no exterior, afetam as decisões de investimento. É preciso ter números confiáveis. O Brasil precisa investir nisso.
Onde mais há divergência?
O deflator implícito do PIB (a inflação das contas nacionais) está muito descolado dos índices de preços ao consumidor. Subiu mais que o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo, que baliza o sistema de metas de inflação). Quando se olha os Estados Unidos, por exemplo, não há tanta divergência. Uma questão que tem que ser entendida. Sinal de que o PIB está subestimado ou houve mudança nos preços relativos.
E os serviços?
Até pouco tempo, os serviços eram medidos pelo crescimento populacional. É um paradoxo no Brasil. Raramente o PIB é negativo. Não há quedas grandes, já que os serviços representam mais de 60% do PIB. Mas também não cresce muito. Para o PIB avançar, a indústria precisa crescer muito. Tem que pegar renda e faturamento das empresas. Há uma perplexidade no próprio governo. Fazem o diabo para o PIB crescer, e não cresce.
O que mais surpreendeu o senhor nos cálculos do PIB?
Os dados de consumo das famílias. Nos últimos dois anos, não cresceu nada. Já o varejo teve crescimento grande. Fico surpreso com isso. Não sei ainda a explicação. Pode ser a importação ou problema no deflator. Os dados têm que ser questionados. Se for importação, as projeções são mais otimistas. A taxa de câmbio melhorou muito, saiu de R$ 1,50 para R$ 2,30, com isso a produção industrial vai crescer.
24 de novembro de 2013
Cássia Almeida - O Globo
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