O Estado-babá obriga o cidadão a participar com seu voto inconsciente, irresponsável e aleatório, que tem como consequência um Congresso cada vez pior. Se não quiser votar, é um direito, é menos um voto em branco, nulo ou num picareta
A história confirma: voto obrigatório é coisa de ditaduras, de esquerda ou de direita, como forma de legitimar o ilegítimo e dar uma aparência de democracia ao regime. Em democracias de verdade, os cidadãos interessados em participar do processo eleitoral se inscrevem, fazem campanha, doam dinheiro para seus candidatos e votam. Quem não vota não pode reclamar dos resultados das eleições e de suas consequências.
Enquanto isso, no Senado, num arremedo de reforma política, a proposta de tornar o voto facultativo foi derrotada por 16 x 6 na Comissão de Constituição e Justiça. Petistas e tucanos se uniram na defesa do atraso: “O voto obrigatório tem sido um instrumento importante para incorporar as massas ao processo democrático. A supressão do voto popular contribuirá para a elitização da política brasileira”, disse um deles.
Obrigar as massas a votar não é incorporá-las, é usá-las como massa de manobra no processo eleitoral. Que elitização é essa de abrir o processo eleitoral a qualquer um que queira participar ? É óbvio que alguém que não quer votar em ninguém, mas é obrigado, vai votar nos piores candidatos. Se ele tiver algum escolhido, não é preciso obrigá-lo. Até na Venezuela o voto é facultativo.
Mas o Estado-babá obriga o cidadão a participar com seu voto inconsciente, irresponsável e aleatório, que tem como consequência um Congresso cada vez pior. Hoje cem milhões de brasileiros têm internet, temos mais celulares do que habitantes, todo mundo pode se informar sobre o que quiser, quando quiser, onde quiser. Mas, se não quiser votar, é um direito, é menos um voto em branco, nulo ou num picareta.
Dos políticos e suas propostas é que vem a motivação para os cidadãos se inscreverem e votarem. É disso que eles têm medo. Uns, que a classe média tenha preguiça de sair de casa para votar, outros, que os grotões não votem sem algum estímulo, ou ameaça. É como eles veem o povo brasileiro, e ninguém quer pagar para ver o que ele quer.
Quarenta anos depois, parafraseando Pelé, nossos progressistas e conservadores dizem em coro: “O brasileiro ainda não está preparado para não votar.”
04 de outubro de 2013
Nelson Motta, O Globo
Enquanto isso, no Senado, num arremedo de reforma política, a proposta de tornar o voto facultativo foi derrotada por 16 x 6 na Comissão de Constituição e Justiça. Petistas e tucanos se uniram na defesa do atraso: “O voto obrigatório tem sido um instrumento importante para incorporar as massas ao processo democrático. A supressão do voto popular contribuirá para a elitização da política brasileira”, disse um deles.
Obrigar as massas a votar não é incorporá-las, é usá-las como massa de manobra no processo eleitoral. Que elitização é essa de abrir o processo eleitoral a qualquer um que queira participar ? É óbvio que alguém que não quer votar em ninguém, mas é obrigado, vai votar nos piores candidatos. Se ele tiver algum escolhido, não é preciso obrigá-lo. Até na Venezuela o voto é facultativo.
Mas o Estado-babá obriga o cidadão a participar com seu voto inconsciente, irresponsável e aleatório, que tem como consequência um Congresso cada vez pior. Hoje cem milhões de brasileiros têm internet, temos mais celulares do que habitantes, todo mundo pode se informar sobre o que quiser, quando quiser, onde quiser. Mas, se não quiser votar, é um direito, é menos um voto em branco, nulo ou num picareta.
Dos políticos e suas propostas é que vem a motivação para os cidadãos se inscreverem e votarem. É disso que eles têm medo. Uns, que a classe média tenha preguiça de sair de casa para votar, outros, que os grotões não votem sem algum estímulo, ou ameaça. É como eles veem o povo brasileiro, e ninguém quer pagar para ver o que ele quer.
Quarenta anos depois, parafraseando Pelé, nossos progressistas e conservadores dizem em coro: “O brasileiro ainda não está preparado para não votar.”
04 de outubro de 2013
Nelson Motta, O Globo
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