CHINA: Uma importante executiva suicida-se pulando de um prédio, um ex-czar da segurança cai em desgraça, grandes executivos são afastados e presos. O novo líder luta combate a corrupção — e varre do mapa adversários
Quando o novo presidente da China, Xi Jinping assumiu o cargo, em novembro passado, alguns especialistas previram “novos tempos”, em especial no combate a um câncer que se alastra pelas instituições país afora e é uma das principais causas de insatisfação na sociedade chinesa – a corrupção dos agentes públicos.
Xi lançou mão da tradicional forma de os líderes comunistas chineses ameaçarem por meio de metáforas, anunciando que seriam investigados “tanto tigres como moscas”.
Outros dirigentes, porém, já haviam, no passado, feito promessas semelhanças, sem grandes avanços na detenção da roubalheira e das irregularidades que campeiam no aparato estatal, e as previsões caíram na vala comum do ceticismo.
Xi Jinping, porém, já nas primeiras semanas – conforme registramos no blog – começou falando grosso, atacando “vadiagem e roubo” dentro do governo e cortando privilégios e mordomias em um dos sacrossantos e em geral intocáveis pilares do regime chinês, o Exército Popular de Libertação, que mantém o nome que carregou durante os quase 20 anos da avassaladora Guerra Civil que levou Mao Tsé-tung e o Partido Comunista ao poder, em 1949.
Depois, causando grande impacto junto à opinião pública e repercutindo fortemente no exterior, veio o longo e ruidoso julgamento do popular e influente ex-líder Bo Xilai, finalmente condenado no dia 22 passado à prisão perpétua por abuso de poder, corrupção e malversação de fundos públicos.
A nova leva está atingindo um dos esteios da economia chinesa, a gigante petroleira CNPC (iniciais em inglês de China Nacional Petroleum Corporation), um colosso que fatura 400 bilhões de dólares por ano e comanda uma rede de outras empresas e subsidiárias, e já derrubou Jian Jieming, de diretor do órgão encarregado de supervisionar as imensas empresas públicas chinesas.
Quem achava que a mão dura de Xi destinava-se a efeitos propagandísticos passageiros surpreendeu-se quando o presidente, ouvido o órgão de controle e disciplina do Partido Comunista mandou afastar da CNPC uma estrela em ascensão na China, o vice-presidente da empresa,Wang Youngchun, bem como o vice-presidente da PetroChina, filial da CNPC, Ran Xinquan, e mais dois altos dirigentes – todos eles igualmente destituídos dos cargos que ocupavam no Partido.
Medida mais radical foi a ordem, vinda de cima, para que nada menos que 1.000 altos e médios executivos da gigante petroleira entregassem seus passaportes à polícia e se vissem obrigados a informar periodicamente seu paradeiro às autoridades.
Ao mesmo tempo – e sinal de que as coisas parecem ser mesmo para valer – uma importante executiva de uma das principais fornecedoras da CNPC, a Sichuan Star Cable (cujo nome não foi divulgado), suicidou-se atirando-se do alto de um edifício de Chengdu, a capital da província de Sichuan, enquanto o presidente da empresa e dois importantes diretores deixaram de aparecer na sede da empresa há dois meses, coincidindo com o início das investigações sobe a CNPC.
Mas, na China como em qualquer parte, a luta contra a corrupção encerra também uma disputa pelo poder, ou a reafirmação de quem o exerce. No caso, o novo presidente parece estar querendo minar a influência que ainda exerce Zhou Yongkang, ex-membro do poderosíssimo Politburo do PC chinês e chefe do chamado Comitê Central Político e Legislativo — órgão que, sob esse título anódino, na verdade escondia a função de supervisionar os órgãos de segurança e as instituições policiais da China.
O ex-czar da segurança foi governador da província de Sichuan, e quase todos seus protegidos ora caindo em desgraça são também originários de lá. Não se sabe ao certo, mas há rumores de que Zhou, afastado de suas funções em novembro, está sob prisão domiciliar. Seu filho, Zhou Bin, também ocupante de cargo importante no Partido, foi preso há dois meses em Chengdu.
Tal como os demais, Zhou parece ter feito a aposta errada ao associar-se ao hoje amaldiçoado Bo Xilai, ex-dirigente de Chongking, espécie de distrito no Sudoeste da China com 7 milhões de habitantes na capital e 34 milhões em sua área de influência. O ambicioso Bo, de 57 anos, liderava uma espécie de esquerda populista do Partido Comunista, avessa a várias reformas capitalistas empreendidas há mais de três décadas pelos dirigentes chineses. Ele e seus principais colaboradores foram varridos do mapa.
04 de outubro de 2013
Ricardo Setti - Veja
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