A hipocrisia brasileira leva os intelectuais a endeusarem o povo - sempre inocente e puro - e isentarem os eleitores da corrupção que domina o sistema político-eleitoral. Para não perder votos, a maioria dos políticos finge que tudo está normal.
Não está. O jogo é muito sujo. Parte da sujeira vem do próprio eleitor, viciado e pedinte, sem coragem para ganhar a vida com o suor do próprio rosto.
Um pseudopastor me pediu esta semana telha, tijolo e areia, como se fosse a coisa mais normal do mundo. Fui obrigado a dar-lhe uma resposta dura.
Uma mulher de classe média alta me procurou pedindo o complemento de um valor para colocar silicone no glúteo. Respondi que ainda não estou dando isso, não.
Os pedidos são inúmeros: contas de água, luz, telefone, aluguel, enxoval para crianças, cirurgias e dinheiro. É como se, ao anunciar uma pré-candidatura, o pretendente se transformasse numa máquina de obrar tudo.
Tudo crime eleitoral. Depois, esses mesmos eleitores vão caçoar do político que depenaram, chamando-o de ladrão e ficha suja, quando, na verdade, são os legítimos representantes dos corruptos pedintes.
06 de maio de 2018
Miguel Lucena é Delegado de Polícia Civil do DF, jornalista e escritor.
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