Livres desde ontem como parte do acordo de colaboração premiada firmado com a força-tarefa da Lava-Jato no Rio, os doleiros Vinicius Claret, o Juca Bala, e Claudio Barbosa, o Tony, terão que cumprir alguns requisitos antes de extinguir totalmente sua pena aplicada pela Justiça Federal. Durante seis anos, eles terão que ensinar algumas técnicas de lavagem de dinheiro aos procuradores da República. Estão previstas 200 horas-aula por ano ou 1.200 horas-aula no período. Tanto Juca quanto Tony, de acordo com o compromisso firmado junto ao MPF, poderão comparecer às unidades do Ministério Público do Rio ou Brasília para cumprir o serviço.
Com base nas delações de ambos, a força-tarefa da Lava-Jato deflagrou nesta quinta-feira o que considerou ser uma das maiores ofensivas contra lavagem de dinheiro desde o escândalo do Banestado em 2003: a operação “Câmbio, Desligo” cumpriu até a manhã desta sexta-feira, 37 dos 53 mandados de prisões contra doleiros e operadores envolvidos em um esquema de lavagem de dinheiro que atinge a cifra de US$ 1,652 bilhão. Nas o alvo principal da operação, o ‘doleiro dos doleiros’ Dario Messer, continua foragido.
IGUAL AO FILME – A medida faz alusão ao filme de Steven Spielberg “Prenda-me se for capaz”, estrelado por Leonardo Di Caprio e Tom Hanks em 2002, que conta a história do golpista Frank Abagnale Jr (Di Caprio), jovem que ficou milionário se passando por médico, advogado e piloto de uma companhia aérea. Suas habilidades para falsificar cheques fizeram com que o próprio FBI aprendesse com ele métodos usados pelo crime e desconhecidos pelos investigadores.
No caso brasileiro, o acordo de colaboração dos doleiros Vinicius Claret, o Juca Bala, e Claudio Barbosa, o Tony, previa que eles ficassem presos por um ano e dois meses, e esse prazo terminou justamente no dia da operação deflagrada com o auxílio da delação deles. Eles foram presos no Uruguai em março do ano passado e extraditados para o Brasil.
Do Uruguai, os dois emitiam ordens de transferências internacionais e coordenavam entregas de reais no Brasil por meio de programas criptografados para evitar a intercepção das autoridades. Eles funcionavam, segundo o MPF, como “verdadeira instituição financeira”.
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ESQUEMA DE LAVAGEM FUNCIONAVA EM 52 PAÍSES
ESQUEMA DE LAVAGEM FUNCIONAVA EM 52 PAÍSES
Foram lavados US$ 1,6 bilhão em movimentações rastreadas no esquema Dólar-cabo. O foragido Dario Messer era o líder e dava lastro financeiro às operações de lavagem de dinheiro e evasão de divisas. Ficava com 60% do lucro dos doleiros.
Os delatores Juca Bala e Tony eram gerentes de Messer e foram acionados pelos irmãos Chebar, que atuavam para o grupo de Cabral.
O esquema usava os serviços financeiros de 39 doleiros, que abriam no exterior cerca de 3 mil empresas offshores para a lavagem de dinheiro. Essas empresas garantiam o registro e o controle das movimentações. O Bank Drop armazenava dados das contas no exterior, com beneficiários, datas e valores, e o esquema funcionava como uma espécie de conta-corrente das transações dólar/real
HAVIA LIQUIDEZ – Contas em 52 países foram usadas para executar as transferências. O Ministério Público Federal ainda investiga os beneficiários finais dessas contas, que foram identificados no esquema e faziam compensação mútua das operações de dólar-cabo. Com isso, asseguravam liquidez aos clientes
O cliente usava o sistema de dólar-cabo para enviar dinheiro para fora – ou receber do exterior – sem o conhecimento da autoridades. E os doleiros utilizavam o esquema internacional controlado por Dario Messer – e gerenciado por Juca Bala e Tony – para executar as operações contratadas pelos clientes.
O cliente entregava reais no Brasil e recebia o equivalente em dólares, depositados em uma conta de offshore em paraíso fiscal. A operação também era feita de dólar para real.
06 de maio de 2018
Chico Otavio e Daniel Biasetto
O Globo
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