"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

sábado, 10 de junho de 2017

O POVO SAQUEADO

Dia desses meditava sobre a África. Trata-se de um continente riquíssimo: abriga as maiores reservas mundiais de bauxita, cromo, manganês, platina e zircônio. Seu solo contém 57% das reservas conhecidas de diamante do planeta, 48% das de cromo e 19% das de ouro e urânio.

Paradoxalmente, no entanto, este solo tão rico abriga um povo miserável! De acordo com o Banco Mundial, 67% dos africanos - 670 milhões de pessoas - vivem (eu disse vivem?) com no máximo US$ 3,10 por dia. Como isto é possível? Haveria alguma explicação lógica? Decidi, então, pesquisar algo a respeito.


Descobri, para início de conversa, que a África ganha, anualmente, US$ 19 bilhões em ajuda externa. Porém, os mesmos países que nos encantam com tanta generosidade recebem US$ 68 bilhões através de fraudes fiscais praticadas por suas empresas lá instaladas - isto equivale a 6,1% do PIB de todo o continente. Acentuo: esta rubrica refere-se apenas a fraudes fiscais e evasão de divisas.Aquele continente perde, a cada ano, US$ 29 bilhões somente em função da extração ilegal de riquezas minerais, vegetais e animais praticada por empresas estrangeiras. Aliás, por falar em empresas estrangeiras, a remessa de lucros destas aos seus países de origem tem alcançado a espantosa cifra de US$ 32,4 bilhões. Curiosamente, os lucros delas aumentam, porém os preços das riquezas não-renováveis que de lá extraem só diminuem - o do petróleo, por exemplo, caiu 51% desde 2011.

Adicione a esta conta US$ 26,6 bilhões em função dos prejuízos econômicos decorrentes das mudanças climáticas - e não são os africanos, claramente, responsáveis por mais esta praga. Em seguida, acrescente outros US$ 6 bilhões - é quanto o continente perde em função da emigração do melhor de sua força de trabalho, física e intelectualmente considerada.

Acentuo que apenas estamos falando de rubricas absolutamente simples e fáceis de visualizar, relativas às mais puras e refinadas ganância e opressão por parte de alguns poucos conglomerados. E apenas elas já seriam mais do que suficientes para a eliminação da miséria de todo aquele povo.

Pois é. Eis aí a realidade da África. Proponho, agora, um exercício: pesquise estes mesmos indicadores, porém substituindo a África pela América Latina ou pelo Brasil. Qual verdade terrível será encontrada?


10 de junho de 2017
Pedro Valls Feu Rosa é desembarador do Tribunal de Justiça do Espírito Santo.

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