ERA DEVAGAR, mas não estava quase parando a de fato miudíssima recuperação da economia no início do ano, "AG" ("Antes do Grampo" de Michel Temer).
Passados 20 dias do escândalo, também não é possível dizer que o caldo entornou todo, se por mais não fosse porque há escassa informação objetiva do que se passou desde então.
Pelo menos até sair alguma decisão do julgamento de Dilma-Temer no TSE, o que se sabe do passado da economia até maio é um tanto arquivo morto, as previsões são o futuro do pretérito e o futuro é puro breu.
Quanto ao fio de recuperação que pode ir para o ralo, considere-se o resultado das montadoras em maio e neste ano inteiro, por exemplo.
A venda da produção de carros nacionais cresceu 18% no ano (ante 2017); no mês de maio, 28%. O impulso maior das vendas vinha de exportações, mas vinha.
Quanto ao fio de problemas que pode nos levar para o ralo, sabemos mais apenas das taxas de juros. No mercado, estão 0,6 ponto percentual a 0,8 ponto percentual mais altas que no último dia "AG", o 17 de maio em que a nova crise estourou. Parece pouco, mas não é, e significa na prática que voltamos aonde estávamos em abril.
Como a recuperação depende quase estritamente de juros menores, é má notícia. Como não há perspectiva de se e quando a lambança política mais aguda vai terminar, Banco Central e, mais ainda, bancos vão jogar na retranca. No entanto, não houve pânico. O povo do mercado aumentou seus preços e está esperando para ver.
Na exposição de motivos da decisão da semana passada, o BC reafirmou nesta terça (6) que o ritmo de corte dos juros deve ser menor em 26 de julho e provavelmente cadente em setembro, próxima reunião para tratar de Selic.
Afora milagres, não será um estímulo para que os bancos mantenham a quase imperceptível redução dos juros para os clientes finais, que mal começara em abril.
As primeiras, precárias e ainda raras medidas de choque na confiança de consumidores e empresários indicam retração dos ânimos. Mas tão cedo não será claro o que indicam tais números.
A confiança mês a mês é inconstante, ainda mais em um país no quarto ano da regressão da renda per capita e abalado quase semanalmente pelos desclassificados de Brasília.
No mais, há uma campanha agora geral e pública de empresários e banqueiros pela preservação do programa de reformas liberais.
Quase ninguém menciona o nome de Temer, como se fosse a peste. Mas há uma tentativa de organizar uma frente "business as usual", tudo como dantes no quartel de Abrantes reformista.
"Não podemos deixar que essas incertezas paralisem o que estava sendo feito", disse nesta terça-feira Murilo Portugal em um congresso da Febraban, a associação dos bancos, entidade que preside. Mesmo desnorteado, o tucanato paulista faz o mesmo discurso.
Não se quer deixar a peteca cair, enquanto não se arruma uma solução político-judicial para:
1) tirar Temer, problema cada vez mais enrolado;
2) caçar recalcitrantes do Congresso e convencê-los a cumprir o programa da regência liberal, missão quase impossível;
3) garantir que a equipe econômica permaneça a mesma, um acordo tido quase como certo entre os donos do dinheiro.
10 de junho de 2017
Vinicius Torres Freire, Folha de SP
Passados 20 dias do escândalo, também não é possível dizer que o caldo entornou todo, se por mais não fosse porque há escassa informação objetiva do que se passou desde então.
Pelo menos até sair alguma decisão do julgamento de Dilma-Temer no TSE, o que se sabe do passado da economia até maio é um tanto arquivo morto, as previsões são o futuro do pretérito e o futuro é puro breu.
Quanto ao fio de recuperação que pode ir para o ralo, considere-se o resultado das montadoras em maio e neste ano inteiro, por exemplo.
A venda da produção de carros nacionais cresceu 18% no ano (ante 2017); no mês de maio, 28%. O impulso maior das vendas vinha de exportações, mas vinha.
Quanto ao fio de problemas que pode nos levar para o ralo, sabemos mais apenas das taxas de juros. No mercado, estão 0,6 ponto percentual a 0,8 ponto percentual mais altas que no último dia "AG", o 17 de maio em que a nova crise estourou. Parece pouco, mas não é, e significa na prática que voltamos aonde estávamos em abril.
Como a recuperação depende quase estritamente de juros menores, é má notícia. Como não há perspectiva de se e quando a lambança política mais aguda vai terminar, Banco Central e, mais ainda, bancos vão jogar na retranca. No entanto, não houve pânico. O povo do mercado aumentou seus preços e está esperando para ver.
Na exposição de motivos da decisão da semana passada, o BC reafirmou nesta terça (6) que o ritmo de corte dos juros deve ser menor em 26 de julho e provavelmente cadente em setembro, próxima reunião para tratar de Selic.
Afora milagres, não será um estímulo para que os bancos mantenham a quase imperceptível redução dos juros para os clientes finais, que mal começara em abril.
As primeiras, precárias e ainda raras medidas de choque na confiança de consumidores e empresários indicam retração dos ânimos. Mas tão cedo não será claro o que indicam tais números.
A confiança mês a mês é inconstante, ainda mais em um país no quarto ano da regressão da renda per capita e abalado quase semanalmente pelos desclassificados de Brasília.
No mais, há uma campanha agora geral e pública de empresários e banqueiros pela preservação do programa de reformas liberais.
Quase ninguém menciona o nome de Temer, como se fosse a peste. Mas há uma tentativa de organizar uma frente "business as usual", tudo como dantes no quartel de Abrantes reformista.
"Não podemos deixar que essas incertezas paralisem o que estava sendo feito", disse nesta terça-feira Murilo Portugal em um congresso da Febraban, a associação dos bancos, entidade que preside. Mesmo desnorteado, o tucanato paulista faz o mesmo discurso.
Não se quer deixar a peteca cair, enquanto não se arruma uma solução político-judicial para:
1) tirar Temer, problema cada vez mais enrolado;
2) caçar recalcitrantes do Congresso e convencê-los a cumprir o programa da regência liberal, missão quase impossível;
3) garantir que a equipe econômica permaneça a mesma, um acordo tido quase como certo entre os donos do dinheiro.
10 de junho de 2017
Vinicius Torres Freire, Folha de SP
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