Três delatores da Odebrecht afirmaram aos procuradores da operação Lava Jato que o ex-ministro Antonio Palocci cobrou 1% de propina pelos contratos de seis sondas de perfuração marítima, para exploração das camadas do pré-sal, pela Petrobras. Rogério Araújo, que era o contato da empresa no negócio, disse ter ouvido de um ex-executivo da estatal que o “Sapo Barbudo”, que seria uma referência ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, teria dado instruções sobre o acerto ao PT.
“O Pedro Barusco (ex-gerente da Petrobras) voltou para mim e falou: ‘olha, esse 1% vocês vão ser procurados por um interlocutor do PT, porque…’, ele até usou um termo, ‘Sapo Barbudo’, o ex-presidente Lula, ‘deu uma instrução’, isso que ele me disse, ‘que o 1% vai ser todo pago para o PT, porque não querem empresas estrangeiras pagando esse dois terços para o PT, ele tem confiança na Odebrecht'”, relatou o delator Araújo.
SETE BRASIL – A conversa teria ocorrido em 2012, logo depois da assinatura do contrato do consórcio formado pela Odebrecht, OAS e UTC, com a Sete Brasil, empresa criada pela Petrobras, em parceria com bancos e recursos de três fundos de pensão federal (Petros, Previ e Funcef). Ao todo, eram 21 sondas que a Sete forneceria para a Petrobras.
Pedro Barusco, que havia deixado a Gerência de Engenharia da Petrobras (cota do PT, no esquema alvo da Lava Jato), era diretor da Sete Brasil, na época do pedido.
“A conversa foi no Rio. Normalmente eu almoçava com ele, só eu.” Segundo o delator, cada negócio de sonda é de US$ 800 milhões. As seis sondas de exploração do pré-sal do consórcio seriam construídas no Estaleiro Enseada Paraguaçu. A parceria comercial entre Odebrecht, OAS e UTC envolvia ainda um parceiro internacional, a multinacional Kawasaki – que detinha 25% do negócio.
NOVAS COORDENADAS – Araújo disse que inicialmente Pedro Barusco informou que deveria ter um pagamento de 1% dos contratos das seis sondas e que um terço do valor iria para a “Casa”, como eram chamados os agentes públicos da estatal, e dois terços para o PT. Segundo o delator, o ex-executivo da estatal voltou a procurá-lo e deu novas coordenadas.
“Os pagamentos ao PT se dariam pelas empresas brasileiras, particularmente a companhia (Odebrecht). Segundo Pedro Barusco, essa era uma decisão do PT, por orientação do ‘Barbudo’ (apelido dado por Pedro Barusco ao ex-presidente Lula) e os pagamentos aos funcionários da Petrobras/Sete Brasil se dariam pelas empresas estrangeiras”, registra o anexo entregue pela Odebrecht para a Procuradoria Geral da República (PGR).
Marcio Faria, que era o líder empresarial da área e superior a Rogério Araújo, confirmou que ouviu o pedido depois de assinarem contrato para fornecimento de 6 sondas para a Sete Brasil.
VANTAGENS INDEVIDAS – “Nessa época, Barusco estava trabalhando na Sete Brasil, e procurou o nosso consórcio, através do Ricardo Pessoa, da UTC, solicitando vantagens indevidas. O percentual era 1%, sendo que 65% seria para o PT e 35% do que eles chamam de Casa (agentes públicos da estatal), essa seria a divisão da propina”, afirmou Faria.
O delator contou a mesma versão sobre as novas instruções que teriam sido passados por Barusco, mas não citou Lula ou o termo “Sapo Barbudo”. O ex-governador do Rio Leonel Brizola (morto em 2004) foi quem criou o apelido “Sapo Barbudo” para atacar Lula.
“Acontece que o mesmo Pedro Barusco voltou depois para o Rogério Araújo, e falou para ele esquecer. O 65% e 35%, a parte do PT vira 100% e a parte da casa vira 0. Assim os estaleiros nacionais vão fazer o pagamento da propina ao PT e as estrangeiras vão acertar com a Casa, ou seja, vocês não devem nada à Casa.”
EMISSÁRIO – Araújo, que tratava com o consórcio de construção das sondas, disse que não foi dito por Barusco quem era o emissário do PT. “Falei para o Márcio.” Ele afirmou que os representantes da OAS e da UTC podem confirmar o pedido.
“Ficamos esperando para saber quem era o interlocutor do PT. Eu ainda perguntei a ele (Barusco): ‘é o Vaccari (ex-tesoureiro do partido, preso pela Lava Jato)?'”, contou o delator. Segundo ele, Barusco teria dito não saber quem seria o interlocutor.
Ponta de contato com o presidente do Grupo Odebrecht, Marcelo Odebrecht, Márcio Faria diz que tempo depois ele foi procurado pelo empresário. “Passou um tempo eu fui chamado pelo Marcelo Odebrecht, que era o diretor-presidente, dizendo que havia sido procurado pelo ex-ministro Antonio Palocci onde ele cobrou do Marcelo essa propina, 100% de 1% para o PT.”
CONFIRMAÇÃO – Araújo contou a mesma história: “Um dia eu estava lá na empresa, o Márcio me procurou falou: ‘olha, o Marcelo Odebrecht me procurou porque o Palocci procurou ele cobrando propina da Sete Brasil'”.
Odebrecht, Márcio Faria e Rogério Araújo afirmaram que os pagamentos não se efetivaram. “Passou um tempo e veio a Lava Jato e nós não pagamentos o percentual que seria devido ao PT”, disse Faria. “Passado algum período achávamos que esse pessoal iria cobrar, mas não cobrou.”
Único alvo da Odebrecht ainda preso pela Lava Jato, Marcelo Odebrecht confirmou o pedido e disse que avisou Palocci que o valor cobrado era indevido, pois esse tipo de acerto já estaria incluso na “conta corrente” que o grupo tinha acordado com o PT. A conta “Italiano” – codinome do ex-ministro no setor de propinas da empresa – chegou a ter crédito de R$ 200 milhões.
VACCARI COBROU – Marcelo Odebrecht disse que foi procurado por Márcio Faria, que teria dito: “Marcelo, fui procurado pelo Vaccari que está cobrando um percentual pela questão das conquistas das sondas”.
“Não tem nenhum cabimento, não teve nenhum favorecimento, não tem por que ter isso. Eu tinha conta corrente exatamente para impedir esse tipo de pedido caso a caso a fui falar com Palocci”, explicou Odebrecht, em sua delação. “Eu fui para o Palocci e falei: ‘Vaccari está pedindo, avisa ele que não tem nada a ver conosco, a Odebrecht não vai pagar nada disso'”.
As delações dos três nomes da Odebrecht resultaram em uma petição do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, que vai ser encaminhada pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Edson Fachin, relator da Lava Jato, para o juiz federal Sérgio Moro, em Curitiba. Os negócios de sondas da Sete Brasil já são alvo de apurações da força-tarefa, no Paraná.
27 de abril de 2017
Deu no Estadão
Nenhum comentário:
Postar um comentário