PARIS – Há 60 anos o jornalismo (ou foi Deus?) me deu a França. Em 1957, jornalista pelas mãos do patrono da imprensa mineira José Mendonça, no inesquecível “O Diário”, e estudante das Faculdades de Filosofia e Direito de Minas Gerais, a caminho de Moscou, via nos jornais franceses a figura heráldica e gloriosa do general De Gaulle convocando a França para unir a Europa. Uniu até 1968 quando em maio enfrentou a juventude rebelde nas ruas de Paris e passou a presidência para George Pompidou.
De 1969 a 1974 governou a direita organizada de George Pompidou. De 1974 a 1981 o poeta e romancista Valéry Giscard d’Estaing, os anos gloriosos da direita, até chegar François Mitterand, o grande herói da esquerda, em dois dourados mandatos de 1981 a 1995.
ESQUERDA E DIREITA – Numa armação de centro-esquerda bem francesa, para evitar a vitória de Jean-Marie Le Pen (pai desta atual Marine Le Pen), que sacrificou Lionel Jospin, o candidato do partido socialista, veio Jacques Chirac de 1995 a 2007 seguido por Nicolas Sarkozy, enfant gaté da direita, de 2007 a 2012.
Até que a esquerda volta de 2012 a 2017 com François Hollande, que venceu as prévias internas do partido socialista primeiro contra sua bela e charmosa ex-mulher deputada Segolene Royal e depois contra a também deputada, prefeita de Lilly, Marine Aubry.
Agora, de repente a França se vê engasgada numa disputa muito menos eleitoral do que social e política: uma candidata da direita, Marine Le Pen, vencendo todas as pesquisas, seguida de um jovem e brilhante economista e banqueiro, de centro, Emmanuel Macron, e seguida pelo candidato da esquerda Jean Luc Melenchon, que disputa o terceiro lugar com o candidato da direita François Fillon.
VOTOS DIVIDIDOS – O que há de mais original nesta eleição é que a candidata da Direita Le Pen, disputa com o candidato do Centro Emmanuel Macron o primeiro lugar. Aparecem nas pesquisas com os mesmos 24%, enquanto os candidatos da Direita François Fillon e o candidato da Esquerda Jean Luc Melenchon se rasgam pelo terceiro lugar.
Os menores nasceram para ficar atrás. Benoit Hamon, o mais jovem candidato, do partido Socialista e do presidente François Hollande, que até agora não conseguiu passar dos 10%, entrou em um processo de desgaste, abandonado por seus companheiros que debandam dia e noite para o vitorioso Emmanuel Macron, que cresce a cada dia empurrado pelos debates na televisão.
TEMPO DE SAUDADES – Chego ao fim deste texto com saudade dos tempos em que jornalismo na França era também poesia de Louis Aragon, poeta de nosso tempo e do Partido Comunista, que iluminava as livrarias e bancas de jornal:
LES YEUX D’ELSA
Tes yeux sont si profonds qu’en me penchant pour boireJ’ai vu tous les soleils y venir se mirerS’y jeter à mourir tous les désespérésTes yeux sont si profonds que j’y perds la mémoire.
***
OS OLHOS DE ELZA
Teus olhos são tão profundos que me levam a beber
Eu vi todos os sóis nele se mirarem
Se atirando para morrer todos os desesperados
Teus olhos são tão profundos que neles perdi minha lembrança.
Eu vi todos os sóis nele se mirarem
Se atirando para morrer todos os desesperados
Teus olhos são tão profundos que neles perdi minha lembrança.
27 de abril de 2017
sebastião nery
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