O juiz Marcelo Bretas, da 7ª Vara Federal do Rio de Janeiro, atendendo a pedido formulado pelo Ministério Público Federal (MPF), decretou a prisão preventiva da advogada Adriana Ancelmo, esposa do ex-governador Sérgio Cabral Filho, preso juntamente com outros nove acusados na Operação Calicute, desdobramento da Operação Lava-Jato.
Agentes da Polícia Federal chegaram por volta das 16 horas ao edifício em que mora Adriana Ancelmo, no Leblon, bairro nobre da Zona Sul carioca. O local ficou tomado por curiosos e a PF precisou usar gás de pimenta para liberar o acesso ao prédio.
Na decisão que traz a decretação da prisão de Adriana Ancelmo, o ex-governador do Rio de Janeiro tornou-se réu por corrupção passiva, lavagem de dinheiro, formação de quadrilha e organização criminosa.
“A requerida, advogada de grande prestígio no meio forense, não está sendo investigada pela prática de atos que ela teria cometido no exercício de função pública, e sim por participar de uma grande Organização Criminosa que, como apontam as investigações, teria se instalado na sede do Governo do Estado do Rio de Janeiro, a partir do então Governador do Estado Sérgio Cabral, seu marido”, destaca o magistrado em sua decisão.
O juiz Marcelo Bretas ressalta no despacho a possibilidade de Adriana Ancelmo eventualmente estar ocultando joias usadas para lavar dinheiro. “Embora as investigações tenham identificado registros nas joalherias investigadas de que Sérgio Cabral e Adriana Ancelmo adquiriram pelo menos 189 joias desde o ano 2000, somente 40 peças foram apreendidas pela Polícia Federal por ocasião das buscas e apreensões, as quais foram encontradas no cofre do quarto da residência do casal. Tal constatação, como afirma o MPF, permite a conclusão de que a investigada Adriana Ancelmo permanece ocultando tais valiosos ativos, criminosamente adquiridos, eis que ainda não apreendidos pela Polícia Federal no cumprimento da ordem cautelar emanada deste Juízo, demonstrando a necessidade de renovação da medida cautelar anteriormente deferida”.
A situação de Adriana Ancelmo tornou-se difícil a partir de investigações sobre renomadas joalherias do Rio de Janeiro, nas quais a advogada e o ex-governador adquiriam de forma quase rotineira joias caras, sendo que o pagamento era sempre em dinheiro vivo. Intimados a prestar esclarecimentos, funcionários das joalherias revelaram a quantidade de joias compradas pelo casal, que normalmente era atendido na própria residência ou, então, incumbia terceiro para concretizar o negócio.
O nome da advogada foi citada inúmeras vezes ao longo das investigações da Operação Calicute, menções que serão confirmadas pelos comparsas de Sérgio Cabral Filho, que está preso no Complexo Penitenciário de Gericinó, na unidade Bangu 8, como também pela própria Adriana Ancelmo.
A mulher do ex-governador do Rio é acusada de lavagem de dinheiro e de ser beneficiária do esquema criminoso comandado pelo marido. No mesmo dia em que Sérgio Cabral foi preso, a advogado foi conduzida coercitivamente para depor, ocasião em que o MPF apresentou pedido de prisão temporária, negado pelo juiz do caso.
De acordo com os procuradores da República, Cabral cobrava 5% de propina das empreiteiras para que conseguissem contratos com o governo fluminense. Além da propina destinada a Cabral, os empreiteiros pagavam mais 1%, rotulado pelos criminosos como “taxa de oxigênio”, para a Secretaria Estadual de Obras.
Segundo os investigadores, Sérgio Cabral recebia “mesadas” que variavam entre R$ 200 mil e R$ 500 mil. O esquema criminoso desviou R$ 220 milhões dos cofres públicos e só foi descoberto depois do depoimento do empresário Fernando Cavendish, dono da empreiteira Delta Construções. Informações prestadas por executivos da Carioca Engenharia também ajudaram a desvendar o esquema criado por Cabral Filho.
O dinheiro das propinas, supostamente lavado através de contratos falsos de consultoria advocatícia com o escritório de Adriana Ancelmo, foi usado na aquisição de bens de luxo, como joias, roupas de grife, obras de arte, um helicóptero e um barco avaliado em R$ 5 milhões.
06 de dezembro de 2016
ucho.info
Nenhum comentário:
Postar um comentário