Desde a Antigüidade sabe-se de artistas que enalteceram tiranos. Hoje a arte e os intelectuais rendem loas a criminosos.
Na Grécia Antiga o “teatro” ocorria dentro dos templos dionisíacos e, mais tarde, em espaços construídos para este fim, os teatros de arena, ao ar livre, com arquibancadas e tratamento acústico.
O teatro era ritualístico, roteirizado, solene, carregado de ordem e regras. Havia o coro, o responsório, os personagens individualizados, autores e textos que subsistiram aos séculos.
Já a filosofia, por sua vez, era mambembe, pulsava nas ruas, no Ágora, na vida pública dos cidadãos livres. Muitas vezes sem textos; Sócrates nunca escreveu, até onde sabemos, sobre filosofia.
No Brasil atual, a situação se inverteu. A filosofia tornou-se show business com astros e estrelas, palco e luz, engessada sob a autoridade dos burocratas nas universidades públicas, que são uma espécie de sumos-sacerdotes e, as universidades, seus templos dionisíacos.
Já o teatro – ao menos aquele louvado pela academia e pela elite cultural, aquele teatro do qual ninguém pode falar mal, sob pena de ser condenado por heresia – transformou-se em “teatro de rua”, teatro engajado, teatro “popular”.
Decerto o teatro de rua existe há muito tempo, desde as farsas burlescas romanas até a bastante conhecida versão do teatro de feira da Baixa Idade Média, a Commedia dell’arte.
A diferença do teatro de rua atual, engajado ideologicamente com o comuno-fascismo e o sindicalismo populista daquele teatro mambembe que existe desde os primórdios – incluindo aí o circo – é que, enquanto o teatro popular antigo aportava nas vilas e cidades e era bancado pelos próprios espectadores, o teatro de rua atual vive de recursos estatais.
Além de viver de editais, o teatro de rua contemporâneo é alimentado intelectualmente pelo establishment acadêmico que, por sua vez, também é sustentado por dinheiro de impostos.
Sendo amparado intelectual e financeiramente pela elite governamental, o teatro “popular” (assim como a filosofia show business) está preso aos ditames da ideologia dominante: o racialismo, o feminismo misândrico, o sindicalismo gayzista, a defesa do lumpesinato e todos os preceitos doutrinários do comuno-fascismo oficial (também denominado “esquerdismo” ou “progressismo”).
Enquanto atores e filósofos da Antiguidade dependiam das doações de seu público, os atores e filósofos atuais dependem de uma só coisa: do dinheiro dos impostos. Os atores e filósofos antigos eram verdadeiramente marginais, os de hoje marginalizam seus financiadores, são a elite.
Assim, a classe média brasileira, semi-escravizada, tendo praticamente metade do fruto de seu trabalho tomada pelo estado sob a forma de impostos, custeia o freak show de Marilena Chauí, que afirma odiar essa mesma classe média que a sustenta. We accept you, one of us!
Policiais pobres pagam impostos para sustentar um grupo (ou vários) de teatro que os calunia e os ridiculariza. Famílias pobres pagam impostos para que o filho do rico brinque de revolucionário nas universidades públicas. É o estado contra o povo e em prol da elite e a elite contra o povo, em prol dos bandidos.
Se, numa feira medieval, um grupo teatral fosse desinteressante, receberia uma chuva de excrementos, coisas podres e vaias. Na melhor das hipóteses, não receberia um tostão por sua apresentação. Acontece que o artista de rua chapa-branca, que come editais no café da manhã, não está preocupado em fazer algo de qualidade. Basta um projeto redigido dentro das normas dos editais, bons contatos para ser aprovado por algum burocrata e voilà! Surgem então encenações que não teriam público algum por conta própria viajando o país para se apresentarem em teatros vazios ou numa praça onde, por sorte, haverá um público acidental.
Ironicamente, é graças à mais fundamental lei de mercado que essas apresentações de “coletivos” anti-capitalistas existem e multiplicam-se por aí. Há uma oferta de dinheiro estatal para financiar esse tipo de arte ideologicamente engajada, portanto, há uma enorme demanda de gente interessada em receber esse dinheiro.
Então, parte do dinheiro que é tomado do cidadão, numa completa deturpação do caráter dos serviços públicos, é investido em campanhas culturais contra a própria população. Fomenta-se, através de produções artísticas, o ódio racial, o feminismo radical, o escárnio a policiais, a defesa de bandidos, a doutrinação gayzista para crianças, o aborto, o vilipêndio público de ato ou objeto religioso (especialmente os católicos), enfim, toda a cartilha dita “progressista”, de A a Z.
Recentemente, um desses grupos de teatro de rua, ironicamente financiado pelo governo do Estado de São Paulo via Proac (Programa de Ação Cultural), estava apresentando seu “espetáculo”, no qual policiais eram retratados como porcos usando saias (xingar de gay não seria homofobia, segundo a cartilha politicamente correta?), quando foram presos por desrespeito à Bandeira Nacional (contravenção prevista no art. 35 da Lei no. 5700 de 01/09/1971).
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Foi uma situação complicada, os policiais não tinham escolha, caso fizessem vista grossa, estariam prevaricando e poderiam ser punidos.
Do ponto de vista da infowar, a guerra de narrativas que domina o cenário político atual, foi uma vitória dos grupos que defendem bandidos. Na verdade, foi um presente dos céus (ou dos infernos, melhor dizendo).
É uma estratégia comum nas manifestações de esquerda a provocação deliberada dos grupos policiais para, após a justa reação, os manifestantes denunciarem a truculência da polícia. Eles sabem desde 1969 que não podem vencer na força, mas vencem facilmente o embate de narrativas. Foi isso o que ocorreu, em âmbito cultural, na cidade de Santos. Certamente o ator que foi detido (por poucas horas) está rindo até agora.
Neste caso, o estado além de financiar o grupo calunioso, teve que pagar a operação policial que vai entupir ainda mais o lerdo e inepto sistema judiciário brasileiro, o qual terá que pagar também. Tudo isso para que a esquerda tenha mais uma narrativa da “opressão policial” sustentada por todos os grandes jornais.
Sob o ponto de vista da estratégia da guerra cultural, foi um tiro no pé.
Neste 1º de novembro, um grupo de artistas e intelectuais (sic) fez uma vigília em prol dos 111 criminosos amotinados mortos na rebelião do Carandiru de 1992.
O ato, idealizado pelo artista plástico Nuno Ramos, com a participação de figuras como Zé Celso Martinez-Corrêa, Marcelo Tas, Paulo Miklos, Bárbara Paz, Laerte, Daiane dos Santos, Ferréz e outros figurões da elite cultural, consistiu na leitura dos nomes dos bandidos mortos durante 24 horas seguidas e foi transmitido ao vivo pela TV Cultura e divulgado exaustivamente por todos os grandes veículos de comunicação.
Com a implosão do governo petista e o fracasso de seu substituto direto entre o eleitorado de extrema-esquerda nas últimas eleições, o PSOL, a militância já está, de maneira organizada, buscando outras narrativas. Uma delas é a orwelliana defesa dos “direitos humanos”. “Guerra é Paz; Liberdade é Escravidão; Ignorância é Força.” Assim, a tese do monopólio da bondade esquerdista, o “nós somos bons e todos os outros são maus” ganha alguma sobrevida.
Para exemplificar a relação promíscua entre ideologia e financiamento estatal, basta uma rápida busca no Portal da Transparência para vermos que o grupo de teatro de Zé Celso, a Associação Teatro Oficina Uzyna Uzona, recebeu do governo federal, apenas entre 2009 e 2010, a bagatela de R$ 8.477.897,36 (quase oito milhões e quinhentos mil reais em 2 anos!), sendo um dos maiores recebedores de dinheiro público da categoria.
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Sem contar os 300 mil da lei de fomento recebidos em 2002, o aporte de 1 milhão de reais anuais da Petrobrás e os 9 mil mensais que recebe da lei de anistia.
Em 2012, o maior beneficiário do financiamento estatal em produções teatrais encenou, na PUC-SP, a mutilação e decapitação de um boneco que representava um sacerdote católico.
Sua declaração, numa entrevista de 2015 à Carta Capital, em que aparece fumando maconha em público e afirma que “falta vermelho na bandeira brasileira” não foi por acaso.
Vasculhando o Portal da Transparência vemos outros tantos grupos de teatro ideologicamente engajado figurando sempre nos Top 10. Há o “Movimento Hip Hop Organizado do Brasil”, que recebeu R$ 1.528.075,03 em 2005, o “Grupo Anônimo de Teatro”, que levou R$ 994.188,40 em seis anos de captação até um tal “Instituto Femina”, voltado à questões feministas e de gênero, que abocanhou 63 mil em dois anos.
Há ainda o obscuro “Instituto Latinoamerica”, agraciado com R$ 1.827.980 em 4 anos. Essa “ONG” foi responsável pela captação de recursos, em 2010, para uma festa para assentados da reforma agrária (onde discursou o ex-presidente Lula). A festa, que durou uma noite e foi bancada por dinheiro público, custou 15 milhões de reais.
Todos os exemplos acima estão apenas nos tópicos “Produção teatral” e “Artes cênicas, espetáculos e atividades complementares não especificados anteriormente” do Portal da Transparência.
É urgente que a questão do fomento estatal para as artes seja discutida e revista. O que vemos nesses últimos anos são os amigos do rei agraciados com montanhas de dinheiro para fazer um eficiente proselitismo ideológico disfarçado de arte ruim.
Enquanto houver dinheiro estatal jorrando nas mãos de espertalhões, projetos sérios e iniciativas educacionais e culturais para crianças, jovens e adultos continuarão à míngua, sem apoio e sem fomento, enquanto os doutrinadores oficiais cooptam a juventude e vencem a infowar dia após dia.
Que fique claro: não se trata aqui de corrupção, de desvio de verbas, de caixa dois ou alguma denúncia criminal. Toda essa farra com o dinheiro público aconteceu perfeitamente dentro da lei. E é exatamente este o problema.
É necessário que o teatro reconquiste sua carga dramática, que viremos a página do teatro estatista, do teatro chapa-branca. É preciso que o teatro volte ao teatro e a filosofia retorne, livre, às praças públicas. A arte precisa voltar a dialogar com o público e com a sociedade.
O que vemos atualmente não é teatro, mas um gigantesco e bem-sucedido projeto de doutrinação comuno-fascista aos moldes da Revolução Cultural maoísta e de inspiração gramsciana. É lavagem cerebral pura e simples, na qual os acadêmicos são os sumos-sacerdotes, os filósofos de holofote são seus oráculos e os atores e diretores, os fiéis mais cegos, levando a Arte ao altar de sacrifício para aplacar a ira do deus Política.
“La commedia è finita!“
06 de dezembro de 2016
Tom Martins
in senso incomum
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