Marcelo Crivella e Marcelo Freixo concordam em ao menos um ponto: vão propor ao TRE que o tempo na TV seja de cinco e não de dez minutos. Houve dois recados principais nas urnas das eleições municipais: o não-voto (nulos, brancos e abstenções) foi maior em muitos casos que a votação do primeiro colocado, e até mesmo dos dois primeiros, caso de Rio de Janeiro e Belo Horizonte; e ficou claramente demonstrado que a tese do golpe, embora muito popular em certos meios intelectuais, e em diversos países, não foi comprada pelo eleitor brasileiro.
A humilhação nacional sofrida pelo PT, na definição perfeita do “Financial Times”, é a prova de que a ampla maioria dos cidadãos brasileiros rejeitou o partido que se diz vítima de perseguição política.
Uma coisa tem relação direta com a outra, o desencanto com a atividade política leva à atitude negativista diante do voto, ou à escolha de um declarado não-político, como João Doria.
E como no Brasil não temos a obrigatoriedade de votar, mas sim a de comparecer às urnas, crescem as abstenções, que refletem o descaso do cidadão pelo ato de votar (justificar a ausência é fácil), e os protestos com os votos brancos e nulos.
A cidade de São Paulo teve o maior percentual de abstenções e votos nulos das últimas eleições: 21,84% deixaram de votar e 11,35% anularam seus votos. E no Rio, votos nulos (12,76%) e brancos (5,50%) somaram 677 mil pessoas — mais do que os votos do candidato Marcelo Freixo, do PSOL, que foi para o segundo turno com Marcelo Crivella (553.424).
Incluídas as abstenções, o total do não-voto no Rio foi de 42,6% do eleitorado. O número de pessoas que não votaram em nenhum candidato a prefeito em São Paulo superou o total de votos obtido pelo candidato do PSDB, João Doria, eleito no primeiro turno.
Os votos em branco, nulos e as abstenções somaram 3.096.304. Doria obteve um total de 3.085.187 votos. De acordo com levantamento do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), somadas, as abstenções, nulos e brancos foram maiores que o primeiro colocado em dez capitais: Porto Alegre (RS), Porto Velho (RO), Curitiba (PR), São Paulo (SP), Campo Grande (MS), Rio de Janeiro (RJ), Belo Horizonte (MG), Cuiabá (MT), Aracaju (SE) e Belém (PA).
Superaram o segundo colocado na votação de outras 11 capitais: Florianópolis (SC), Goiânia (GO), Palmas (TO), Maceió (AL), Recife (PE), Natal (RN), São Luís (MA), Fortaleza (CE), Macapá (AP), Boa Vista (RO), e Salvador (BA).
A questão do golpe é interessante. Se a tese levantada pelos petistas tivesse vingado, o PT e seus aliados seriam compensados nas urnas com uma grande votação, um protesto cívico contra “os golpistas”. O que se viu, porém, é que o PT foi derrotado em seus mais importantes redutos — o “cinturão vermelho” em torno de São Paulo azulou, o enteado de Lula não se elegeu, os candidatos apoiados por ele e Dilma afundaram.
O PT deixou de ser a terceira força municipal para transformar-se em décimo partido com mais prefeitos, enquanto os partidos “golpistas” se reforçaram nas urnas. Mesmo o PMDB — que teve derrotas decisivas no Rio de Janeiro e em certa medida em São Paulo, onde o presidente Michel Temer tentou inventar uma Marta peemedebista e viu o projeto naufragar — o partido continuou tendo o maior número de prefeitos no país e manteve sua capilaridade, fundamental para seu projeto político de ser indispensável para dar estabilidade congressual a qualquer governo.
O Planalto somou todos os prefeitos eleitos pelos partidos que apoiam Temer e chegou a 4.930 das 5.570 prefeituras do país. Essa atuação dos partidos do “centrão”, que apoiam o governo, não significa, porém, que aprovar as reformas estruturais no Congresso será fácil. A prova dos nove será a tramitação do teto de gastos nos próximos dias.
Se o recado das urnas for entendido pelos políticos, eles tratarão de reciclar as maneiras de atuação. Vão ter que rever a relação com os eleitores.
Não foi por acaso, portanto, que o presidente Michel Temer declarou que o resultado, especialmente a alta abstenção, foi um recado para que a classe política reformule “hábitos inadequados”.
A começar por essa linguagem sibilina, que fala sem dizer.
06 de outubro de 2016
Merval Pereira, O Globo
A humilhação nacional sofrida pelo PT, na definição perfeita do “Financial Times”, é a prova de que a ampla maioria dos cidadãos brasileiros rejeitou o partido que se diz vítima de perseguição política.
Uma coisa tem relação direta com a outra, o desencanto com a atividade política leva à atitude negativista diante do voto, ou à escolha de um declarado não-político, como João Doria.
E como no Brasil não temos a obrigatoriedade de votar, mas sim a de comparecer às urnas, crescem as abstenções, que refletem o descaso do cidadão pelo ato de votar (justificar a ausência é fácil), e os protestos com os votos brancos e nulos.
A cidade de São Paulo teve o maior percentual de abstenções e votos nulos das últimas eleições: 21,84% deixaram de votar e 11,35% anularam seus votos. E no Rio, votos nulos (12,76%) e brancos (5,50%) somaram 677 mil pessoas — mais do que os votos do candidato Marcelo Freixo, do PSOL, que foi para o segundo turno com Marcelo Crivella (553.424).
Incluídas as abstenções, o total do não-voto no Rio foi de 42,6% do eleitorado. O número de pessoas que não votaram em nenhum candidato a prefeito em São Paulo superou o total de votos obtido pelo candidato do PSDB, João Doria, eleito no primeiro turno.
Os votos em branco, nulos e as abstenções somaram 3.096.304. Doria obteve um total de 3.085.187 votos. De acordo com levantamento do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), somadas, as abstenções, nulos e brancos foram maiores que o primeiro colocado em dez capitais: Porto Alegre (RS), Porto Velho (RO), Curitiba (PR), São Paulo (SP), Campo Grande (MS), Rio de Janeiro (RJ), Belo Horizonte (MG), Cuiabá (MT), Aracaju (SE) e Belém (PA).
Superaram o segundo colocado na votação de outras 11 capitais: Florianópolis (SC), Goiânia (GO), Palmas (TO), Maceió (AL), Recife (PE), Natal (RN), São Luís (MA), Fortaleza (CE), Macapá (AP), Boa Vista (RO), e Salvador (BA).
A questão do golpe é interessante. Se a tese levantada pelos petistas tivesse vingado, o PT e seus aliados seriam compensados nas urnas com uma grande votação, um protesto cívico contra “os golpistas”. O que se viu, porém, é que o PT foi derrotado em seus mais importantes redutos — o “cinturão vermelho” em torno de São Paulo azulou, o enteado de Lula não se elegeu, os candidatos apoiados por ele e Dilma afundaram.
O PT deixou de ser a terceira força municipal para transformar-se em décimo partido com mais prefeitos, enquanto os partidos “golpistas” se reforçaram nas urnas. Mesmo o PMDB — que teve derrotas decisivas no Rio de Janeiro e em certa medida em São Paulo, onde o presidente Michel Temer tentou inventar uma Marta peemedebista e viu o projeto naufragar — o partido continuou tendo o maior número de prefeitos no país e manteve sua capilaridade, fundamental para seu projeto político de ser indispensável para dar estabilidade congressual a qualquer governo.
O Planalto somou todos os prefeitos eleitos pelos partidos que apoiam Temer e chegou a 4.930 das 5.570 prefeituras do país. Essa atuação dos partidos do “centrão”, que apoiam o governo, não significa, porém, que aprovar as reformas estruturais no Congresso será fácil. A prova dos nove será a tramitação do teto de gastos nos próximos dias.
Se o recado das urnas for entendido pelos políticos, eles tratarão de reciclar as maneiras de atuação. Vão ter que rever a relação com os eleitores.
Não foi por acaso, portanto, que o presidente Michel Temer declarou que o resultado, especialmente a alta abstenção, foi um recado para que a classe política reformule “hábitos inadequados”.
A começar por essa linguagem sibilina, que fala sem dizer.
06 de outubro de 2016
Merval Pereira, O Globo
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