Os dois deputados são gêmeos que brigam, duas faces de uma moeda que deveríamos deixar esquecida na gaveta
A cusparada de Jean Wyllys em Jair Bolsonaro durante a votação do impeachment propagou a ideia de que eles estão em lados opostos da política brasileira. Não acredito nisso. Os dois são para mim gêmeos que brigam, duas faces de uma moeda que deveríamos deixar esquecida na gaveta.
Um defende o intervencionismo e os trambiques econômicos de Dilma, mas não os da ditadura militar; outro defende o intervencionismo e os trambiques econômicos da ditadura militar, mas não os de Dilma.
Um apoia a ditadura brasileira, mas não a de Cuba; outro se deixa fotografar vestido de Che Guevara, mas acha que impeachment é golpe.
Um defende a liberdade dos gays, mas não a liberdade econômica. Outro defende a liberdade econômica (ou pelo menos diz defender, agora que os liberais estão na moda), mas afirma que homossexualidade é falta de surra na infância.
Os dois aderem ao radicalismo porque querem abocanhar uma parte pequena e fiel do eleitorado. Sabem que, se conquistarem 4% ou 5% dos eleitores, ficarão para sempre entre os deputados mais votados. O sucesso de um depende da briga com o outro.
Pensei que Bolsonaro, visando o eleitor médio, necessário para a conquista da presidência, iria abandonar essa defesa arcaica à ditadura. Que nada: lá estavam ele e seu filho, na votação do impeachment, oferecendo o voto “aos militares de 64”.
Tenho visto colegas afirmando que Bolsonaro “está cada vez mais liberal”. Então como pode defender um governo militar que cerceou a liberdade individual dos cidadãos, infestou o Brasil de estatais, plantou a hiperinflação ao esculhambar as contas públicas, fechou a economia brasileira ao comércio internacional e deu tanta força quanto o PT às negociatas com empreiteiras?
Jean Wyllys cai em contradições similares. É impreciso afirmar que ele apoia a liberdade de costumes, pois defende apenas as suas bandeiras. Se dois homens estiverem fechados num quarto trocando carinhos, Jean Wyllys diz que ninguém deve se intrometer; se os mesmos dois homens estiverem num quarto trocando bens e serviços, Jean Wyllys defende intervenção pesada do Estado. Vai entender.
Me parece que Jean Wyllys quer tornar obrigatório o que gosta e proibido o que rejeita. Defende a legalização da maconha, mas deve ser favorável à proibição do Big Mac com brinquedos. No primeiro caso, diz que a sociedade não deve se impor sobre escolhas individuais; no momento seguinte, afirma o contrário. Oscila entre a libertinagem e a carolice.
Nesse tema, Bolsonaro se sai um pouco melhor. Ele não é exatamente contra os gays – já disse mais de uma vez que não se importa com o que os gays façam da vida, só é contra doutrinação sexual nas escolas. Eu não posso te proibir de ser homossexual, você não pode me obrigar a ensinar a meu filho coisas que eu não quero ensinar, assim a liberdade de todos é preservada. Quem diria: na liberdade de costumes, Bolsonaro é mais tolerante que seu irmão gêmeo Jean Wyllys.
24 de abril de 2016
Leandro Narloch
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