"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 24 de abril de 2016

AFASTAMENTO DE CUNHA AINDA ESTÁ LONGE DE SER JULGADO NO SUPREMO



Cunha será julgado primeiro na Câmara, mas o processo não anda




















Enquanto a presidente Dilma Rousseff enfrenta no Congresso Nacional o processo de impeachment, com o risco de ser afastada do Palácio do Planalto, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), continuará exercendo o cargo, por tempo indeterminado. No que depender do Supremo Tribunal Federal (STF), o pedido de afastamento de Cunha ajuizado pela Procuradoria Geral da República não será julgado tão cedo. Isso porque os ministros não se convenceram de que existe um motivo jurídico forte o suficiente para tirá-lo da cadeira.
Adiar a análise do caso foi a solução encontrada para não precisar declarar oficialmente que Cunha pode permanecer no cargo. Uma decisão desse tipo daria ainda mais poderes ao parlamentar nesse momento de crise — e isso o tribunal quer evitar.
Em conversas reservadas, ministros do STF declaram estar convencidos de que Cunha utiliza o cargo para se beneficiar no processo que corre contra ele no Conselho de Ética da Câmara, para tentar prejudicar Dilma no pedido de impeachment e também para ameaçar adversários. Entretanto, esse motivo não teria respaldo em lei para justificar que ele seja afastado do cargo.
No tribunal, o entendimento é pacífico de que um parlamentar só pode deixar o mandato em caso de condenação judicial. Ainda assim, essa determinação cabe à Câmara, e não ao Judiciário. Cunha responde a uma ação penal e a dois inquéritos no STF. Não há previsão para o julgamento final.
LINHA SUCESSÓRIA
No pedido para afastar Cunha do cargo e do mandato de deputado, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, também argumentou que o presidente da Câmara não poderia permanecer na linha sucessória da Presidência da República.
É ele quem assume o posto em caso de afastamento ou ausência da presidente Dilma e do vice, Michel Temer. E a Constituição Federal diz que o presidente da República não pode exercer o cargo caso responda a processo no STF. Cunha não preenche esse pré-requisito: ele é réu no tribunal por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.
Esse argumento parece ter mais força, ao menos para o ministro Gilmar Mendes.
Na segunda-feira, em entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, Gilmar disse que o motivo é “plausível”.
— A Constituição diz que, se for recebida a denúncia contra o presidente da República, ou uma queixa-crime, ele deve ficar afastado do cargo por 180 dias, uma regra equivalente à regra do impeachment. Eles (juristas) estão dizendo que também o seu substituto não poderia estar a exercer cargo se teve uma denúncia contra si recebida, o que é um argumento plausível. Poderia ser aplicado ao presidente da Câmara — declarou o ministro.
RENAN NUMA BOA…
A regra não valeria para o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), que também está na linha sucessória da Presidência da República, depois de Cunha. Isso porque Renan responde a inquéritos no STF, mas ainda não houve recebimento de denúncia contra ele. Portanto, nenhuma investigação é ação penal.
O pedido de Janot para afastar Cunha de suas atividades chegou ao STF em dezembro do ano passado. Em tese, o caso estaria pronto para ser julgado, porque a defesa do parlamentar já foi apresentada oficialmente.
Mas o ministro Teori Zavascki, relator do pedido da PGR e também dos inquéritos na Lava-Jato, não tem previsão de quando vai liberar o caso para o julgamento em plenário. A interlocutores, ele tem dito que não quer levar o caso ao plenário antes de o impeachment da presidente ser resolvido, para não embaralhar ainda mais o jogo político.
IMAGEM DO SUPREMO
A tendência de manter Cunha no cargo também sujaria a imagem no tribunal perante a sociedade, o que é uma preocupação entre os ministros.
No pedido de afastamento, Janot lista uma série de justificativas para tentar comprovar que Cunha usa o cargo em benefício próprio, para obstruir investigações e achacar adversários. O principal argumento são os requerimentos de investigação que aliados de Cunha apresentaram perante a Câmara. Em um deles, houve pedido para investigar operações do grupo Mitsui. O objetivo seria pressionar o lobista Júlio Camargo para retomar o pagamento de propina ao parlamentar. Cunha também teria ordenado a apresentação de requerimentos e convocações com o intuito de pressionar donos do grupo Schahin.
A pressão teria favorecido o doleiro Lúcio Funaro, amigo de Cunha, em um negócio. Ainda segundo a PGR, Cunha teria obstruído a pauta em benefício próprio e ameaçado o deputado Fausto Pinato (PRB-SP), ex-relator do processo de cassação no Conselho de Ética da Câmara.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – O caso de Renan Calheiros é pior do que o de Cunha. Os processos e inquérito abertos contra o senador se eternizam no Supremo e acabam prescrevendo, sem punição, deixando-0 na mais pura inocência. Isso é um escárnio, realmente intolerável e depõe contra o mais importante tribunal do país. Como dizia Ruy Barbosa, “justiça que tarda não é justiça”. Mas quem se interessa? (C.N.) 

24 de abril de 2016
Carolina Brígido
O Globo

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