"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

domingo, 13 de dezembro de 2015

O MUNDO MANDA RECADO

A atenção do mercado e do público brasileiro em geral está concentrada na evolução das crises política e econômica do país. Enquanto isso, porém, o mundo segue seu passo com fatos relevantes que podem ter reflexos na nossa economia.

Depois de muita volatilidade causada pela crise política, a queda do real nos últimos dias, por exemplo, refletiu em maior medida fatores externos do que internos.

Tudo indica que o Fed (Banco Central dos EUA) promoverá na semana que vem sua primeira alta de juros desde 2006, iniciando processo de redução da liquidez dos mercados globais. Em paralelo, tem ocorrido queda significativa do preço das commodities, que afeta as exportações brasileiras, reduzindo a entrada de dólares e a cotação do real.

Diante de problemas tão sérios por aqui, por que nos preocuparmos com o que acontece nos EUA? A resposta é simples: as decisões do Fed podem causar impactos significativos na economia mundial, mas especialmente em países em situações mais delicadas como a do Brasil.

Existem dois temores diametralmente opostos em relação à provável alta da taxa de juros nos EUA: 1) O Fed pode estar agindo antes da hora, o que prejudicaria a recuperação americana e afetaria a economia mundial como um todo; 2) O Fed pode estar agindo atrasado e por isso ser forçado a subir os juros de forma mais intensa à frente. Além disso, alguns creem que ele não deu a devida atenção à valorização excessiva de ativos como imóveis e ações, que podem ter atingido níveis de bolha cujo estouro, se ocorrer, trará sérias consequências a países com economias mais frágeis.

É muito importante estar atento a esse quadro de incertezas e riscos da economia global. Ele deve ser mais um incentivo para se buscar a resolução da crise política brasileira que abra caminho à adoção de medidas abrangentes e necessárias para fortalecer a nossa economia.

Precisamos estar preparados o mais cedo possível para um novo período da economia mundial, com os EUA elevando juros e reduzindo a oferta abundante de capital que marcou os últimos anos. Embora outros bancos centrais, como o BC europeu, ainda se encontrem na fase expansionista do ciclo de política monetária, é inevitável que em algum momento no futuro eles se juntem ao Fed, reforçando o aperto de liquidez na economia global.

A depender da evolução desses fatores, o cenário da economia mundial pode ficar mais difícil. O Brasil precisa acompanhar esses desdobramentos e, sobretudo, superar suas crises para poder atravessar com segurança esse período mais desafiador, construindo uma economia mais forte e sustentável.


13 de dezembro de 2015
Henrique Meirelles

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