Em sua relação com o PMDB, a presidente Dilma Rousseff assemelha-se a um lutador que mal consegue se manter em pé de tanto apanhar, mas continua a cometer a imprudência de chamar o oponente para a briga – correndo o sério risco de, a qualquer momento, levar um nocaute.
A petista tomou outra sova dos peemedebistas no Congresso quando o partido decidiu trocar de líder na Câmara – no lugar de Leonardo Picciani (RJ) entrou Leonardo Quintão (MG). Picciani havia sido cooptado por Dilma para dividir o PMDB e, assim, sabotar os esforços de parte do partido para fazer avançar o processo de impeachment. Ele atuou de forma escancarada a favor de Dilma ao escolher os correligionários que integrariam a comissão especial da Câmara que analisará o pedido de impeachment. O deputado se negou a indicar peemedebistas que fazem oposição ao governo, gerando revolta em parte da bancada.
O contra-ataque foi imediato: além de articularem o lançamento de uma chapa paralela para a comissão do impeachment – que acabou sendo eleita –, esses peemedebistas, apoiados pelo vice-presidente Michel Temer e pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha, deflagraram um movimento para destituir Picciani da liderança do partido. “Agora (Picciani) vai pagar o preço de não ter sido líder da bancada, mas do governo”, disse Osmar Terra (PMDB-RS), que liderou a manobra contra o deputado que estava a serviço de Dilma.
Esse foi apenas o último de tantos episódios em que ficou clara a inabilidade de Dilma para manter unida sua base parlamentar, a começar pelo maior partido que a integra, o PMDB. Desde a reeleição, convicta de que as urnas lhe facultavam, e ao PT, o poder de governar sem dar satisfação a ninguém, a presidente tenta de tudo para minar o PMDB e controlar por seus próprios meios o Congresso.
Primeiro, em fevereiro, julgou que poderia emplacar na presidência da Câmara um petista, o deputado Arlindo Chinaglia. Deixou essa missão para o então ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, cuja inabilidade é notória. O resultado não poderia ser outro: derrota fragorosa. Dilma e o PT não apenas tiveram de engolir a eleição do desafeto Eduardo Cunha, como perderam todos os cargos na Mesa Diretora a que teriam direito e também o comando de comissões de peso na Câmara – tudo isso fora cedido a aliados na barganha para tentar eleger Chinaglia. E naquele momento ficou claro que cerca de 50 deputados supostamente governistas haviam traído Dilma.
Em lugar de aprender com erro tão primário, Dilma cometeu outro. Maquinou, junto com o ministro Gilberto Kassab, a criação de um partido cujo objetivo era atrair peemedebistas e formar uma bancada grande o suficiente para acabar com a dependência do Planalto em relação ao PMDB. A manobra foi abortada pelos peemedebistas na Câmara e azedou ainda mais a relação do partido com o Planalto.
Diante da crescente hostilidade do PMDB, Dilma, se tivesse inteligência política, poderia ter tentado reconstruir as pontes com a legenda – o que não teria sido difícil, dado o apego dos peemedebistas ao poder. Mas a presidente, num movimento que deve ter julgado genial, achou que poderia dar uma rasteira nos principais líderes do PMDB, especialmente em Temer, aproximando-se do baixo clero do partido – a quem deu Ministérios e poder para negociar em seu nome na Câmara. No entanto, bastou um peteleco dos dirigentes peemedebistas para que Picciani – o Brancaleone de Dilma – fosse devolvido a seu lugar de origem no baixo clero.
Imprudente, Dilma continua a articular em favor de Picciani dentro do PMDB, o que levou Temer a adverti-la de que, se continuar a se intrometer em assuntos do partido, o governo perderá o apoio peemedebista.
Dilma que não se queixe, portanto, de seus apuros no Congresso. Cada uma de suas imensas dificuldades com o PMDB foi construída com esmero pela petista. Mas ela teve em quem se espelhar. A seu modo, seguiu o padrão estabelecido por seu padrinho Lula – que, quando se elegeu presidente, preferiu marginalizar o PMDB e montar um sistema de compra de apoio parlamentar e de abastardamento do Congresso que reduziu a política a isso que aí está.
13 de dezembro de 2015
O Estado de S.Paulo
A petista tomou outra sova dos peemedebistas no Congresso quando o partido decidiu trocar de líder na Câmara – no lugar de Leonardo Picciani (RJ) entrou Leonardo Quintão (MG). Picciani havia sido cooptado por Dilma para dividir o PMDB e, assim, sabotar os esforços de parte do partido para fazer avançar o processo de impeachment. Ele atuou de forma escancarada a favor de Dilma ao escolher os correligionários que integrariam a comissão especial da Câmara que analisará o pedido de impeachment. O deputado se negou a indicar peemedebistas que fazem oposição ao governo, gerando revolta em parte da bancada.
O contra-ataque foi imediato: além de articularem o lançamento de uma chapa paralela para a comissão do impeachment – que acabou sendo eleita –, esses peemedebistas, apoiados pelo vice-presidente Michel Temer e pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha, deflagraram um movimento para destituir Picciani da liderança do partido. “Agora (Picciani) vai pagar o preço de não ter sido líder da bancada, mas do governo”, disse Osmar Terra (PMDB-RS), que liderou a manobra contra o deputado que estava a serviço de Dilma.
Esse foi apenas o último de tantos episódios em que ficou clara a inabilidade de Dilma para manter unida sua base parlamentar, a começar pelo maior partido que a integra, o PMDB. Desde a reeleição, convicta de que as urnas lhe facultavam, e ao PT, o poder de governar sem dar satisfação a ninguém, a presidente tenta de tudo para minar o PMDB e controlar por seus próprios meios o Congresso.
Primeiro, em fevereiro, julgou que poderia emplacar na presidência da Câmara um petista, o deputado Arlindo Chinaglia. Deixou essa missão para o então ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, cuja inabilidade é notória. O resultado não poderia ser outro: derrota fragorosa. Dilma e o PT não apenas tiveram de engolir a eleição do desafeto Eduardo Cunha, como perderam todos os cargos na Mesa Diretora a que teriam direito e também o comando de comissões de peso na Câmara – tudo isso fora cedido a aliados na barganha para tentar eleger Chinaglia. E naquele momento ficou claro que cerca de 50 deputados supostamente governistas haviam traído Dilma.
Em lugar de aprender com erro tão primário, Dilma cometeu outro. Maquinou, junto com o ministro Gilberto Kassab, a criação de um partido cujo objetivo era atrair peemedebistas e formar uma bancada grande o suficiente para acabar com a dependência do Planalto em relação ao PMDB. A manobra foi abortada pelos peemedebistas na Câmara e azedou ainda mais a relação do partido com o Planalto.
Diante da crescente hostilidade do PMDB, Dilma, se tivesse inteligência política, poderia ter tentado reconstruir as pontes com a legenda – o que não teria sido difícil, dado o apego dos peemedebistas ao poder. Mas a presidente, num movimento que deve ter julgado genial, achou que poderia dar uma rasteira nos principais líderes do PMDB, especialmente em Temer, aproximando-se do baixo clero do partido – a quem deu Ministérios e poder para negociar em seu nome na Câmara. No entanto, bastou um peteleco dos dirigentes peemedebistas para que Picciani – o Brancaleone de Dilma – fosse devolvido a seu lugar de origem no baixo clero.
Imprudente, Dilma continua a articular em favor de Picciani dentro do PMDB, o que levou Temer a adverti-la de que, se continuar a se intrometer em assuntos do partido, o governo perderá o apoio peemedebista.
Dilma que não se queixe, portanto, de seus apuros no Congresso. Cada uma de suas imensas dificuldades com o PMDB foi construída com esmero pela petista. Mas ela teve em quem se espelhar. A seu modo, seguiu o padrão estabelecido por seu padrinho Lula – que, quando se elegeu presidente, preferiu marginalizar o PMDB e montar um sistema de compra de apoio parlamentar e de abastardamento do Congresso que reduziu a política a isso que aí está.
13 de dezembro de 2015
O Estado de S.Paulo
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