Deve-se reconhecer o esforço da presidente Dilma em defender o mandato, diante do cerco que lhe move a junção explosiva das crises econômica e política. Ficou para trás a catatonia das primeiras semanas do segundo mandato, quando se trancou em Palácio enquanto as pesquisas de opinião e redes sociais anunciavam o desmoronamento de sua popularidade.
A comparação entre as adesões a manifestações de rua contra sua permanência no Planalto e a passeatas de organizações ditas sociais não lhe foi favorável. As primeiras eram maiores. E a isso acrescentava-se o fato de os presidentes do Senado e da Câmara, Renan Calheiros (AL) e Eduardo Cunha (RJ), funcionarem como ponta de lança de um PMDB rebelado.
Os nomes dos dois foram encaminhados ao Supremo pela Procuradoria-Geral da República, para a abertura de inquéritos com base na Lava-Jato. Mas, à medida que o tempo passava, denúncias contra Cunha, feitas em delações premiadas, começaram a parecer bem consistentes, ao mesmo tempo em que Renan ensaiava uma reaproximação com o Planalto.
O presidente da Câmara se autodeclarou na “oposição”, Renan aposentou a postura de rebeldia e na quarta-feira divulgou-se a informação de que procuradores da Suíça descobriram contas bancárias em nome de Eduardo Cunha e familiares, cujos dados foram repassados ao Ministério Público brasileiro.
A fragilização de Cunha pode ter ajudado Dilma enquanto ela e Lula faziam os últimos acertos de uma reforma ministerial usada para, entre outros fins, atrair o baixo clero do PMDB, por meio de Leonardo Picciani (RJ), líder do PMDB na Câmara. A cooptação fisiológica deve vir a ser facilitada com Eduardo Cunha na defensiva.
Na sessão de ontem, o presidente da Câmara foi questionado por deputados sobre as tais contas. Nada respondeu, e o assunto deve ser levado à Comissão de Ética. Pode ser o primeiro passo de um processo que leve Eduardo Cunha a sair da presidência da Casa.
Será uma atitude coerente com seu estilo agressivo, se ele, como prometera, der sequência a pedidos de impeachment de Dilma que se encontram na gaveta. Se ele rejeitá-los, qualquer deputado poderá recorrer, para que o plenário decida. Mas Dilma, adulando baixos cleros, não apenas peemedebistas, poderá erguer a barreira anti-impeachment que pretende com esta reforma ministerial. Assim como para derrubar a rejeição pelo TCU das contas do último ano do primeiro mandato, 2014.
Dilma, porém, continua obrigada a propor ao Congresso as armas para enfrentar a grave crise econômica que apenas se forma. Se insistir em recriar a CPMF, em não fazer as reformas necessárias para conter o crescimento descontrolado de despesas, de nada terá adiantado reativar o fisiologismo na troca de ministros. Nem ter tido a sorte de Eduardo Cunha ser alvejado em pleno voo.
04 de outubro de 2015
O Globo
A comparação entre as adesões a manifestações de rua contra sua permanência no Planalto e a passeatas de organizações ditas sociais não lhe foi favorável. As primeiras eram maiores. E a isso acrescentava-se o fato de os presidentes do Senado e da Câmara, Renan Calheiros (AL) e Eduardo Cunha (RJ), funcionarem como ponta de lança de um PMDB rebelado.
Os nomes dos dois foram encaminhados ao Supremo pela Procuradoria-Geral da República, para a abertura de inquéritos com base na Lava-Jato. Mas, à medida que o tempo passava, denúncias contra Cunha, feitas em delações premiadas, começaram a parecer bem consistentes, ao mesmo tempo em que Renan ensaiava uma reaproximação com o Planalto.
O presidente da Câmara se autodeclarou na “oposição”, Renan aposentou a postura de rebeldia e na quarta-feira divulgou-se a informação de que procuradores da Suíça descobriram contas bancárias em nome de Eduardo Cunha e familiares, cujos dados foram repassados ao Ministério Público brasileiro.
A fragilização de Cunha pode ter ajudado Dilma enquanto ela e Lula faziam os últimos acertos de uma reforma ministerial usada para, entre outros fins, atrair o baixo clero do PMDB, por meio de Leonardo Picciani (RJ), líder do PMDB na Câmara. A cooptação fisiológica deve vir a ser facilitada com Eduardo Cunha na defensiva.
Na sessão de ontem, o presidente da Câmara foi questionado por deputados sobre as tais contas. Nada respondeu, e o assunto deve ser levado à Comissão de Ética. Pode ser o primeiro passo de um processo que leve Eduardo Cunha a sair da presidência da Casa.
Será uma atitude coerente com seu estilo agressivo, se ele, como prometera, der sequência a pedidos de impeachment de Dilma que se encontram na gaveta. Se ele rejeitá-los, qualquer deputado poderá recorrer, para que o plenário decida. Mas Dilma, adulando baixos cleros, não apenas peemedebistas, poderá erguer a barreira anti-impeachment que pretende com esta reforma ministerial. Assim como para derrubar a rejeição pelo TCU das contas do último ano do primeiro mandato, 2014.
Dilma, porém, continua obrigada a propor ao Congresso as armas para enfrentar a grave crise econômica que apenas se forma. Se insistir em recriar a CPMF, em não fazer as reformas necessárias para conter o crescimento descontrolado de despesas, de nada terá adiantado reativar o fisiologismo na troca de ministros. Nem ter tido a sorte de Eduardo Cunha ser alvejado em pleno voo.
04 de outubro de 2015
O Globo
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