Não sei se será confirmado como causa da queda do avião na França o suicídio de um dos pilotos com histórico de depressão. Mas muito além da tragédia, que é chocante, devemos aprender o momento agudo e confuso do psiquismo humano. Reduzido a embotamento, oceanos de preocupação, estresse crônico e cotidiano e um bombardeio de informações, em geral, negativistas e pessimistas.
É importante ressaltar que de há muito deixamos de ser sujeito de nossas ações. Hoje somos agentes da passiva, em que o conteúdo de nosso dia é determinado por uma gama de telas que invadem nosso cérebro e aceleram nossa mente. Ligados 24 horas por dia, sete dias por semana. Uma mera chamada de celular nos assusta ou chateia e para piorar aplicativos como WhatsApp, aprisionam e viciam.
Por isso, entre as especulações sobre o comportamento do piloto, ouvi menção a Síndrome de Bournout, que é muito encontrada em servidores da saúde, educação e outras áreas em que a depressão se mascara em forma de indiferença, robotização, aversão ao ambiente de trabalho, como uma fuga de realidade devido à angústia, estresse, falta de prazer e entusiasmo pela atividade profissional e a infernal pressão ambiental.
SOFRIMENTO SILENCIOSO
Depressão é o maior sofrimento humano, pois sendo silencioso, crescente, sufocante, tira o indivíduo da realidade, arremessando-o num mundo sombrio, escuro, desesperador, onde a ausência de luz, de perspectiva, leva a vivências desesperadoras de pessimismo, falta de esperança, ideias recorrentes de morte. Pois a angústia é manifesta como um aperto terrível no peito, como um infarto agudo, um peso que tira o ar, além de desânimo, falta de energia até para tomar um simples banho ou sair da cama.
O tempo não passa e vivenciar culpas, ideias de morte, ausência de esperança mínima, é pior que tortura chinesa. Ao mesmo tempo, os amigos e familiares ao tentar ajudar, cobram do deprimido uma reação, mostrando o céu azul, os ótimos filhos, a falta de fé. Só piora!
Ninguém opta por viver um inferno em vida, o que falta é energia física, psíquica e fé. Não está nele, há um déficit eletroquímico, a “bateria pifou e, por melhor que seja o carro, ele não sai da garagem, não acende a luz, não toca o som”. Não é questão do motor, do tipo ou ano de fabricação, simplesmente não há energia, nada funciona.
AJUDA ESPECIALIZADA
É preciso ajuda especializada, que atualmente está difícil pela fase de transição que a neurociência trouxe, mas sem se harmonizar com outras áreas como a psicologia, filosofia, sociologia e teologia.
Por isso ter que explodir um avião – se é que foi assim – é o mais desesperado dos gestos de dor na alma, ainda mais quando se leva mais 150 vidas. Mas pensando nos 900 mil que se suicidam por ano ou nas centenas de milhões de pessoas presas por essa dor inenarrável, talvez seja hora de conversar a respeito. Pois um mar de gente que se move como zumbis, espremidas em transportes, indiferentes pelas telas, a falência afetiva sempre explodirá em tragédias, sejam elas individuais ou coletivas.
02 de abril de 2015
Eduardo Aquino
O Tempo
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