Pode parecer incrível, mas foi o que afirmou o ministro Armando Monteiro, do Desenvolvimento e Comércio Exterior, em entrevista a Eliane Oliveira, Maria Fernanda Delmas e Regina Alvarez publicada no Globo de segunda-feira 30. O ministro acentuou que a desvalorização do Real veio para ficar e será boa para os exportadores.
O ministro esqueceu que as relações cambiais no Brasil não se restringem ao movimento de importação e exportação de bens e produtos, mas também ao relacionamento referente ao Balanço de Pagamento. As trocas comerciais são apenas um item do balanço de pagamento que será duramente afetado pela elevação da moeda americana.
Neste caso encontram-se as remessas de lucros e os pagamentos aos acionistas internacionais de empresas que operam no Brasil, a correção da dívida externa, o déficit na conta de turismo, entre outros itens que o especialista Flávio José Bortolloto, com o brilho de sempre poderá acrescentar. Quanto ao turismo, vale lembrar que no ano passado o déficit verificado atingiu o montante de 18 bilhões de dólares: com toda a copa do mundo ingressaram no país apenas 7 bilhões de dólares e saíram 25 bilhões de dólares. Os dados são do Banco Central.
IMPORTAÇÕES
Além do mais ao destacar as exportações beneficiadas pela elevação da taxa do dólar, existem as importações agravadas negativamente pelo mesmo processo. Entre as importações um setor importante é o de bens de capital, cuja produção depende de tecnologias mais avançadas.
O ministro do Comercio Exterior sustenta paralelamente que a alta do dólar pode estimular a substituição de importações por produtos fabricados no Brasil. Isso entretanto somente poderia ser alcançado depois de um longo período de avanço tecnológico nacional.
CUSTO BRASIL
Outro equivoco do ministro Armando Monteiro foi afirmar que o câmbio compensa em parte o chamado custo Brasil, dizendo que a economia americana encontra-se em processo de fortalecimento e sua política monetária está mudando para elevar os juros. Ao contrário. A tendência da economia americana pode ser a de elevar os juros mas em escala mínima, não afetando assim a relação de câmbio com o Brasil. O ministro esqueceu o aspecto da conversibilidade monetária. Isso faz com que o esforço nacional tenha que ser maior para adquirir a moeda americana no campo financeiro internacional, já que o real tem sua conversibilidade restrita a Argentina e Uruguai.
Fortalecer as exportações é enfraquecer as importações. E como no ano passado o Brasil exportou menos do que importou, na escala de 3 milhões de dólares, o custo da moeda estrangeira pesou negativamente para nós. E se perdemos no comércio, fácil imaginar quanto perdemos em dólar no balanço de pagamento. A tese do ministro Armando Monteiro só pode colidir com o pensamento do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, se por outro motivo técnico não fosse apenas por uma questão de lógica.
SEM LÓGICA
Questão de lógica inclusive está faltando ao governo. Tanto assim que Julio Wiziack e Natuza Nery, em reportagem publicada na Folha de São Paulo de segunda-feira revelam que a Petrobrás cogita de incorporar bens de empreiteiras envolvidas nos escândalos de corrupção, como forma de pagamento à estatal pelos danos causados. A solução de se ressarcir em ações dessas empresas está sendo afastada pelo grupo de trabalho que estuda o assunto porque isso seria a Petrobrás associar-se ao sistema que acusa como tê-la prejudicado. A incorporação de bens de empreiteiras aos ativos da estatal somente poderia ser feita após um longo processo na Justiça, o que levanta suspeita que tal operação, nesta hipótese poderá ser reduzida a zero.
Além disso existe um outro aspecto fundamental: a transferência de acervos não quer dizer nada, uma vez que é indispensável sabe-los explorar. Se fosse tão simples tal lance não haveria necessidade de o governo contratar empresas para realizar obras e efetivar serviços. Ele mesmo poderia fazê-lo sem essa intermediação. Intermediação? Foi o que mais ocorreu na Petrobrás, chegando ao ponto de abalar sua estabilidade econômica e sua credibilidade pública, projetando-se até na área internacional. Roubou-se demais fiscalizou-se de menos. Outra questão de lógica.
02 de abril de 2015
Nenhum comentário:
Postar um comentário