ARTIGOS - CULTURA
(Nota do Editor da FEE: Como uma organização não afiliada a nenhuma fé em particular, a FEE (Foundation for Economic Education) encoraja outras perspectivas em tais matérias. O Sr Reed deseja que os leitores entendam que sua perspectiva pessoal não tem intenção de fazer proselitismo para nenhuma fé ou igreja em particular, mas simplesmente iluminar sua interpretação da dimensão moral e econômica de Cristo.)
Você não precisa ser cristão para ser sensível à falsidade deste boato. Você pode ser uma pessoa de qualquer fé, ou de nenhuma fé afinal. Você só precisa ser sensível aos fatos.
Eu ouvi algo semelhante a este clichê cerca quarenta anos atrás. Como cristão, fiquei perplexo. Na visão de Cristo, a decisão mais importante que uma pessoa tomaria em sua vida terrena era aceitá-lo ou rejeitá-lo pelo que Ele afirmou ser – Deus encarnado e o Salvador da humanidade. Esta decisão era claramente uma decisão muito pessoal – uma escolha individual e voluntária. Ele constantemente enfatizou a renovação interior, espiritual, como muito mais decisiva que o bem estar material. Pensei: “Como Cristo poderia defender o uso da força para tomar coisas de alguns e dá-las a outros?” Eu simplesmente não conseguia imaginá-lo apoiando uma sentença de multa ou prisão para pessoas que não quisessem entregar seu dinheiro para programas de “bolsa família”.
“Espere um momento”, você diz. “Ele não respondeu: 'Dai a César o que é de César e a Deus o que é de Deus' quando os fariseus tentaram pegá-lo no truque de denunciar os impostos romanos?” Sim, de fato, Ele disse isto. Pode ser encontrado no Evangelho em Mateus, capítulo 22, versículos 15 a 22 e depois em Marcos, Capítulo 12, versículos 13 a 17. Mas note que tudo depende somente do que pertenceria a César e do que não, o que é atualmente, mais propriamente, um endosso do direito de propriedade. Cristo não disse nada como “isto pertence a César se César simplesmente disser que pertence, não importa quanto ele queira, como ele pega ou como ele escolha gastá-lo”.
O fato é que alguém pode passar um pente fino nas Escrituras, e não encontrará uma palavra sequer de Cristo endossando a redistribuição forçada de riqueza por autoridades políticas. Uma sentença sequer.
“Mas Cristo não disse que veio confirmar a lei?” Você pergunta. Sim, em Mateus 5:17-20, Ele declara, “Não pensem que Eu vim para abolir a lei dos Profetas. Não vim para aboli-los, mas para levá-los à perfeição”. Em Lucas 24:44, Ele esclarece quando diz “... Isto é o que vos dizia quando ainda estava convosco: era necessário que se cumprisse tudo o que de mim está escrito na Lei de Moisés, nos Profetas e nos Salmos”.Ele não estava dizendo: “Qualquer lei que o governo aprove, Eu apoio”. Ele estava falando especificamente da Lei de Moisés (primeiramente os Dez Mandamentos) e das profecias de Sua vinda.
Considere o oitavo dos Dez Mandamentos: “Não roubarás”. Observe o período após a palavra “roubarás”. Esta admonição não é lida como “Não roubarás a menos que a outra pessoa tenha mais que você”, ou “Não roubarás a menos que você esteja absolutamente certo de poder gastar melhor que a pessoa de quem você roubou”. Nem se diz “Não roubarás mas tudo bem se empregar alguém, como um político, para fazer isso por você”.
No caso das pessoas ainda estarem tentadas a roubar, o décimo mandamento corta o mal pela raiz num dos principais motivos para o roubo (e para redistribuição): “Não cobiçarás a casa de teu próximo, não cobiçarás a mulher de teu próximo, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma de teu próximo”. Em outras palavras: se não é seu, mantenha suas mãos longe.
Em Lucas 12:13-15, Cristo é confrontado com uma solicitação de redistribuição. Um homem com uma queixa aproxima-se Dele e reclama: “Mestre, fale com meu irmão e faça-o dividir sua herança comigo”. O Filho de Deus, o mesmo Homem que realizou curas milagrosas e acalmou as ondas, respondeu deste modo: “Homem, quem fez de mim juiz ou árbitro entre vós? Tenha cuidado e abstenha-se de controvérsias, a riqueza de um homem não consiste na abundância material que ele possui”. Uau! Ele poderia ter igualado a riqueza dos dois homens com um movimento de Suas mãos, mas em vez disso, Ele escolheu denunciar a inveja.
“E a respeito da parábola do bom samaritano? Ela não representa um exemplo de programa de bem estar governamental, senão diretamente de redistribuição?” você pergunta. A resposta é um enfático NÃO! Considere os detalhes da parábola, como descrita em Lucas 10:29-37: Um viajante encontra um homem caído às margens da estrada. O homem tinha sido surrado, roubado e deixado semimorto. O que o viajante fez? Ajudou o homem, ele próprio, no local, com seus próprios recursos. Ele não disse “escreva uma carta ao imperador” ou “vá procurar sua assistente social” e foi embora. Se ele tivesse feito isso, ele seria conhecido hoje como o “bom pra nada samaritano”, se ele fosse de fato lembrado.
E a respeito da referência, nos Atos dos Apóstolos, aos primeiros cristãos vendendo seus bens mundanos e compartilhando este procedimento comunitariamente? Isto soa como uma utopia socialista. Analisando de perto, entretanto, fica claro que aqueles cristãos não venderam tudo que tinham e não foram obrigados a fazer isso. Eles continuaram encontrando-se em suas próprias casas, por exemplo. Em seu capítulo de contribuição ao livro “For the Least of These: A Biblical Answer to Poverty” de 2014, Art Lindsey, do Institute for Faith, Work and Economics, escreve:
“Novamente, na passagem dos Atos dos Apóstolos, não há menção ao estado sob qualquer condição. Estes primeiros crentes contribuíram com seus bens livremente, sem coerção, voluntariamente. Alhures nas Escrituras nós vemos que os cristãos são instruídos a doar somente desta maneira, livremente, “Dê cada um conforme o impulso de seu coração, sem tristeza nem constrangimento. Deus ama o que dá com alegria” (2 Coríntios 9:7). Há abundância de indicação de que os direitos de propriedade ainda estavam valendo...”
Isto pode frustrar os socialistas a aprender que as palavras e feitos de Cristo, repetidamente sustentadas desta maneira criticamente importante, referem-se às virtudes do capitalismo como contrato, lucro e propriedade privada.
Por exemplo, considere a “Parábola dos Talentos”. Dos muitos homens na estória, o único que pega o dinheiro e o enterra é repreendido, enquanto o que investiu e gerou maior retorno é aplaudido e recompensado.
Ainda que não seja central à estória, boas lições de oferta e demanda bem como a santidade do contrato, são evidentes em Cristo na “Parábola dos Trabalhadores na Vinícola”.
Um proprietário de terras oferece salário para atrair trabalhadores para um dia de trabalho urgente na coleta de uvas. Próximo ao fim do dia, ele percebe que precisa rapidamente empregar mais gente, e oferece por uma hora de trabalho o que havia previamente oferecido pagar aos primeiros trabalhadores por um dia de serviço. Quando um dos que tinham trabalhado o dia todo queixou-se, o proprietário de terras respondeu: “eu não estou sendo injusto com você, amigo. Você não concordou em trabalhar por um denário? Pegue seu pagamento e vá. Eu quero dar ao que foi empregado por último o mesmo que dei a você. Eu não tenho o direito de fazer o que quero com meu dinheiro? Ou você está com inveja porque estou sendo generoso?”
A bem conhecida “Regra de Ouro” veio dos lábios do próprio Cristo, em Mateus 7:12. “Então em tudo, faça aos outros o que você gostaria que fizessem a você, porque esta é a lei dos profetas”.
Em Mateus 19:18, Cristo diz: “... ame a teu próximo como a ti mesmo”. Em nenhuma outra parte Ele remotamente sugeriu que você repugnasse seu próximo por sua riqueza, ou que procurasse tomar a riqueza dele. Se você não deseja que sua propriedade seja confiscada (e muitas pessoas não desejam, e não precisariam de um ladrão à disposição para dividir com ele de maneira alguma), então claramente você não deveria querer confiscar a propriedade de outros.
A doutrina cristã adverte contra a ganância. Como o faz em nossos dias o economista Thomas Sowell: “eu nunca entendi porque é “ganância” possuir o dinheiro que você mereceu mas não é ganância querer tirar o dinheiro de outros”.
Utilizar o poder do governo para roubar a propriedade de outra pessoa não é exatamente altruístico. Cristo nunca sugeriu que acumular riqueza através do comércio pacífico era de alguma forma errado. Ele simplesmente suplicou às pessoas que não permitissem que a riqueza os dominasse ou corrompesse seu caráter.
Por isto seu grande Apóstolo, Paulo, não disse que o dinheiro era mal na famosa referência em 1Timóteo 6:10. Aqui vai o que Paulo verdadeiramente disse: “Porque a raiz de todos os males é o amor ao dinheiro. Acossados pela cobiça, alguns se desviaram da fé e se enredaram em muitas aflições”.
De fato, os próprios socialistas não abandonaram o dinheiro de modo abnegado, eles estão clamando é pelo dinheiro de outras pessoas, especialmente o dos “ricos”.
Em Mateus 19:23, Cristo diz: “Em verdade vos digo, é difícil para um rico entrar no Reino dos Céus”. Um socialista poderia dizer: “Eureka! Aqui está! Ele não gosta de pessoas ricas” e então distorce a observação depois de reconhecer a justificativa de qualquer esquema do tipo “roube Pedro para pagar Paulo” que põe a montanha abaixo. Mas este conselho é inteiramente consistente com tudo o que Cristo falou. Não é um convite pra invejar os ricos, para tomar dos ricos e dar celulares “grátis” aos pobres.
É um conselho para o caráter. É uma observação de que muitas pessoas deixam-se dominar pela riqueza, tanto quanto por outros meios em torno. É um alerta contra tentações (as quais vêm de muitas formas, não só pela riqueza material). Todos nós já não notamos que entre os ricos, como igualmente entre os pobres, existem boas e más pessoas? Todos nós já não vimos celebridades corrompidas por sua fama e fortuna, enquanto outros, entre os ricos, levam vidas dignas? Todos nós já não temos visto pessoas que permitem que a pobreza as desmoralize e debilite, enquanto outros, entre os pobres, veem a pobreza como um incentivo para melhorar de vida?
Nos ensinamentos de Cristo e em muitas outras partes do Novo Testamento, os cristãos,e, na verdade, todas as pessoas, são aconselhadas a serem “espíritos generosos”, a cuidar da família de alguém, a ajudar os pobres, assistir as viúvas e os órfãos, a revelar bondade e manter altivez de caráter. Como tudo isso pode ser traduzido no negócio sujo de coerção, compra de votos, esquemas de redistribuição politicamente dirigidos é um problema para prevaricadores com agenda. Não é um problema para estudiosos do que a Bíblia verdadeiramente diz ou não diz.
Examine sua consciência. Considere as evidências. Seja atento aos fatos. E pergunte-se: “Desejando ajudar os pobres, Cristo preferiria doar livremente seu dinheiro ao Exército da Salvação (ou a qualquer outra instituição de caridade) ou na mira de uma arma ao departamento de assistência social do governo?
Cristo não era estúpido. Ele não estava interessado em profissionais públicos da caridade, postura na qual os fariseus legalistas e hipócritas se engajavam. Ele repudiou essa conversa fiada interesseira. Ele sabia que ela era sempre fingida, raramente indicativa de como eles conduziam seus afazeres pessoais, e que era sempre um fim de linha com abundância de enganos e desilusões pelo caminho.
Dificilmente faria sentido para Ele defender os pobres apoiando políticas que minam o processo de criação de riqueza necessário para ajudá-los. Numa análise final, Ele nunca endossaria um esquema que não funciona e é orientado pela inveja e pelo roubo. A despeito das tentativas dos socialistas modernos em transformá-lo num Robin Hood, Ele nunca foi desses.
02 de abril de 2015
Da Foundation for Economic Education. Original aqui.
Tradução: Flávio Ghetti
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