Cinco dos mais poderosos setores da economia brasileira financiaram a maior parte da campanha dos candidatos à presidência da Câmara nas eleições de outubro. Empresas de mineração, indústrias de bebidas e alimentos, instituições financeiras e construtoras foram responsáveis por 65% das contribuições declaradas pelos postulantes ao comando da Casa.
Os beneficiários foram os deputados Eduardo Cunha (PMDB-RJ), Arlindo Chinaglia (PT-SP) e Júlio Delgado (PSB-MG). Chico Alencar (Psol-RJ), o quarto concorrente, foi o único a informar à Justiça eleitoral que não recebeu qualquer centavo de empresas. Todas as suas doações vieram de pessoas físicas, inclusive dele próprio e de assessores.
Juntos, os quatro candidatos declararam ter arrecadado R$ 13,6 milhões. Desse total, R$ 2,3 milhões foram transferidos por empresas de mineração (17%), R$ 2 milhões (15%) da indústria de bebidas, R$ 1,5 milhão (11%) da área de alimentos, R$ 1,6 milhão (12%) de instituições financeiras e R$ 1,3 milhão (10%) de empreiteiras. Entre elas, quatro investigadas na Operação Lava Jato, que repassaram quase R$ 600 mil a Chinaglia e Delgado: a UTC Engenharia, a Odebrecht, a Andrade Gutierrez e a Queiroz Galvão.
Chinaglia recebeu R$ 150 mil da UTC e R$ 262,5 mil da Andrade Gutierrez. Esta também doou R$ 80 mil para Júlio Delgado. O deputado mineiro ainda recebeu R$ 100 mil da Queiroz Galvão Alimentos, que faz parte do grupo liderado pela empreiteira de mesmo nome. Não há nenhuma acusação de envolvimento desses parlamentares com as irregularidades investigadas; as doações foram legais e estão registradas na Justiça eleitoral.
MINERAÇÃO
Entre os candidatos, Eduardo Cunha foi o preferido do setor da mineração, que fez contribuições mais modestas para Chinaglia e Delgado. Dono da segunda campanha mais cara entre os 513 eleitos em outubro, segundo o TSE, o peemedebista foi agraciado com R$ 1,7 milhão de mineradoras. Isso representa 25% dos R$ 6,8 milhões declarados pelo deputado à Justiça eleitoral. Só Iracema Portella (PP-PI), com R$ 7 milhões, informou ter arrecadado mais do que ele em toda a Câmara.
Acusada na Operação SOS Cerrado, em 2009, de integrar a chamada máfia do carvão, em Minas Gerais, a Rima Industrial Ltda., líder na produção e comercialização de ligas à base de silício no Brasil, foi a principal financiadora de Eduardo Cunha, empatada com a CRBS, da Ambev. Cada uma delas repassou R$ 1 milhão ao peemedebista.
A Rima, que também doou R$ 100 mil para Chinaglia, foi alvo de um procedimento administrativo tributário que resultou na autuação do grupo em R$ 191 milhões. O caso levou o deputado Bernardo Santana (PR-MG), aliado de Cunha, a virar réu no Supremo Tribunal Federal (STF).
Bernardo era diretor do grupo, pertencente ao seu sogro, quando a empresa foi acusada de fornecer carvão vegetal extraído de mata nativa para empresas siderúrgicas de Minas Gerais. O processo, no entanto, acabou derrubado pelo próprio Supremo, que acolheu recurso do deputado, que questionava a legalidade da operação, iniciada pelo Ministério Público.
Além da Rima, a Mineração Corumbaense Reunidas S/A, controlada pela Vale e sediada em Mato Grosso do Sul, doou R$ 700 mil para Eduardo Cunha. A mineradora também repassou R$ 200 mil para Chinaglia.
(artigo enviado pelo comentarista Guilherme Almeida)
10 de fevereiro de 2015
Edson Sardinha
Congresso em Foco
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