A CAPACIDADE DE DILMA CRIAR PROBLEMAS PARECE NÃO TER FIM
Nem mesmo as pessoas mais próximas à presidente Dilma Rousseff — que são pouquíssimas — conseguem entender como, num momento tão delicado do governo, ela optou por nomear, para a presidência da Petrobras, uma pessoa que está sendo investigada pelo Ministério Público. Tudo o que se esperava era um nome técnico, limpo, para pôr fim à corrupção que sugou quase R$ 90 bilhões do caixa da petroleira. Mas Dilma preferiu escolher Aldemir Bendine, ligado ao PT, cuja maior missão será blindar o governo politicamente. Quer dizer: evitar que as investigações conduzidas pela Polícia Federal, por meio da Operação Lava-Jato, respinguem o menos possível no governo.
A presidente não engoliu, até agora, a decisão de Graça Foster, que cedeu às pressões dos acionistas minoritários e incluiu, no balanço financeiro do terceiro trimestre, a quantificação da roubalheira na companhia. Na reunião do Conselho de Administração da empresa, em 28 de janeiro, Dilma ordenou a Guido Mantega, presidente do órgão, que brecasse qualquer iniciativa de se lançar, nos demonstrativos financeiros, um número referente à corrupção. Graça, no entanto, contrariou as ordens presidenciais e fez prevalecer a transparência.
Certamente, se Bendine já estivesse, naquele momento, no lugar de Graça, não teria o menor pudor de acatar as ordens do Planalto. Por isso, a desconfiança dos agentes econômicos em relação à atuação do ex-presidente do Banco do Brasil. A visão é de que, entre os interesses do governo e os da Petrobras, prevalecerá sempre a primeira opção. Nada na petroleira será decidido sem o aval de Dilma.
NO FUNDO DO POÇO
A Petrobras se encontra no fundo do poço justamente porque o governo não teve o menor pudor de usá-la para sustentar uma política econômica desastrosa. Apenas com a decisão de segurar o reajuste de combustíveis, a fim de evitar o estouro da meta de inflação, de 6,5%, a estatal perdeu mais de R$ 60 bilhões durante o primeiro mandato de Dilma. Ao mesmo tempo em que destruía o caixa da petroleira, o Planalto fechava os olhos para o esquema criminoso que tomou conta da companhia.
Dilma teve tudo para mostrar que, nesse segundo mandato, a mudança que pregou na campanha eleitoral era para valer. Infelizmente, no caso da Petrobras, veremos mais do mesmo. Ou quem sabe, pior. Bendini, quando convidado pela presidente para assumir a petroleira, garantiu que era o homem certo para retomar o controle da empresa. Terá que se esforçar muito para comprovar que não estava blefando. Neste momento, ele é sinônimo de descrédito.
10 de fevereiro de 2015
Vicente Nunes
Correio Braziliense
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