"Quero imaginar sob que novos traços o despotismo poderia produzir-se no mundo... Depois de ter colhido em suas mãos poderosas cada indivíduo e de moldá-los a seu gosto, o governo estende seus braços sobre toda a sociedade... Não quebra as vontades, mas as amolece, submete e dirige... Raramente força a agir, mas opõe-se sem cessar a que se aja; não destrói, impede que se nasça; não tiraniza, incomoda, oprime, extingue, abestalha e reduz enfim cada nação a não ser mais que um rebanho de animais tímidos, do qual o governo é o pastor. (...)
A imprensa é, por excelência, o instrumento democrático da liberdade." Alexis de Tocqueville
(1805-1859)

"A democracia é a pior forma de governo imaginável, à exceção de todas as outras que foram experimentadas." Winston Churchill.

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

POR QUE DILMA ERRA

A escolha de Aldemir Bendine para a Petrobrás é uma síntese dos erros de Dilma Rousseff: teimosia, arrogância, escolhas erradas, incapacidade de olhar ao redor. Resultado? Isolamento.

A queda de Graça Foster abriu uma janela de oportunidades para o governo mostrar que “agora, vai!”. A alternativa era acertar ou acertar, para iniciar uma nova fase e interferir positivamente no rumo das coisas, no tom do noticiário e no humor geral. Dilma jogou fora. Vejamos.

Teimosia: depois de meses respirando artificialmente, Foster caiu quando o seu caráter falou mais alto do que a conveniência e a vaidade e ela decidiu expor publicamente as projeções de perdas bilionárias com a roubalheira na Petrobrás. Dilma ficou uma fera e só por isso fez o que deveria ter feito havia tempos. E fez de mau jeito.

Arrogância: o ex-presidente Lula tinha razão ao sugerir Henrique Meirelles. Com todas suas chatices e idiossincrasias, Meirelles é homem do mercado, experiente, testado, reconhecido internacionalmente. Seria um choque em si, com dois efeitos imediatos: as bolsas disparariam e os ânimos dentro e fora seriam outros – em relação à Petrobrás e ao Brasil. Mas, que pena!, Dilma implica com Meirelles. O resultado foi o oposto.

Escolhas erradas: mulher difícil, de personalidade forte, de poucos amigos – e de poucas equipes –, Dilma costuma se cercar de gente que ela mal conhece, mas que pensa o mundo e o País exatamente como ela e que lhe bate continência. Escolhe de frente para o espelho, ou olhando para baixo. Daí as surpresas, e Erenice Guerra é a mais reluzente.

Não olhar em volta: na política, Dilma perdeu feio na eleição para a presidência da Câmara. Na economia, a sequência de notícias ruins é irritante (a última é que a inflação de janeiro é a maior para o mês desde 2003...). A Operação Lava Jato está a jato mesmo. E temos esses probleminhas aí de luz e água. Mas Dilma age como se esse ambiente pavoroso fosse obra cruel de adversários e da imprensa. Lula diz essas coisas por esperteza. Os eleitores petistas, porque precisam acreditar, alimentar a fé. Mas Dilma, aparentemente, acha mesmo.

E chegamos ao isolamento. Petistas se descolam do governo, deputados e senadores de partidos aliados assinam requerimentos de CPIs, o mundo empresarial, financeiro, sindical, acadêmico vê que algo está errado e, quanto mais errado, mais quer distância. Ilhada, Dilma fica ruminando sua ira e multiplicando inimigos reais e imaginários cercada pela meia dúzia que pensa igual a ela. Conversando com o próprio umbigo.

Aldemir Bendine foi alçado em 2009 à presidência do Banco do Brasil dentro da estratégia de Lula de reagir à crise internacional alargando o crédito e fortalecendo o consumo interno. Cumpriu bem a missão, entrega o BB com bons resultados. Mas seu principal cacife é frequentar o Palácio da Alvorada, ajoelhar, rezar e dizer amém para a chefe.

Bendine não é um grande nome da iniciativa privada, não tem dimensão internacional, não tem a autonomia que o momento da Petrobrás exige. E... as páginas da imprensa estão salpicadas de casos constrangedores envolvendo seu nome, como o tal empréstimo do BB à socialite Val Marchiori. Convenhamos, não chega a ser exatamente o homem certo, na hora certa, para apagar o gigantesco incêndio na nossa Petrobrás.

PS – Para melhorar o humor do domingo, diga-se que não há clima de impeachment, discussão perigosa e circunscrita a um nicho de São Paulo, e que Dilma tem algo poderoso a seu favor: o tempo. A casa está desabando, mas o mandato está bem no início e ela tem quatro anos para reforçar os alicerces, recompor as paredes e trocar o telhado (de vidro?). Só não pode continuar errando uma atrás da outra. Aí, depende só dela.


10 de fevereiro de 2015
Eliane Cantanhede, O Estadão

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