O estouro da inflação e a perspectiva de que continue muito alta ao longo de 2015 é novo indicador da rápida deterioração das condições da economia.
Medida em 12 meses, a evolução do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) havia resvalado para abaixo dos 6,5% em dezembro para que o governo pudesse entregá-la, ao fim de 2014, sem o estouro do teto da meta. Mas, em janeiro, voltou a dar grande esticada. Foi para 7,14%, a mais alta desde setembro de 2011.
O principal fator que explica essa nova carga é a aplicação da política que pretende eliminar o represamento dos preços e das tarifas administradas, uma das grandes distorções da economia. Esse segmento, que pesa 25% na cesta de consumo, teve aumento médio de preços de 2,5%.
Em outras palavras, a inflação vai enfrentando a fúria dos tarifaços. Começou a ser descarregada sobre o bolso do consumidor alguma coisa perto de 40% de atraso nas correções das tarifas de energia; o reajuste dos preços dos combustíveis e dos transportes urbanos; e o efeito câmbio, ou seja, o encarecimento dos preços dos produtos importados por causa da alta do dólar.
Apenas identificar esses fatores é pouco; é a reação do cachorro que se limita a morder o pau que lhe é atirado, sem entender que há um agressor por trás. O governo anterior (administração Mantega) teve dificuldades para explicar a disparada da inflação. Para tudo, dizia que a economia global não ajudava. Mas, quando tentava encaixar o efeito da economia internacional sobre a inflação brasileira, rodava em falso, porque nos países de economia madura o risco maior é o contrário, é deflação.
A inflação do Brasil está ligada ao estouro das contas públicas. Em 2014, em vez de o governo entregar um superávit primário (sobra de arrecadação), apresentou um rombo de R$ 32,5 bilhões, o equivalente a 0,63% do PIB. Porque gasta demais, o governo cria renda que, por sua vez, puxa a demanda interna, que não vem acompanhada do aumento da oferta. Daí a disparada.
No caso da energia elétrica, o esticão das tarifas não se deu apenas por falta de chuva, que obrigou o Operador Nacional do Sistema Elétrico a despachar energia bem mais cara, produzida pelas usinas térmicas. Deu-se, principalmente, porque o consumo de energia elétrica está crescendo ao ritmo de 3% a 4% ao ano, substancialmente acima da marcha do PIB que resvala para o negativo.
No momento, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, vai realinhando as tarifas administradas, antes contidas; e vai soltando gradualmente o câmbio. E trata de reequilibrar as contas públicas para evitar a criação artificial de renda.
O Banco Central já avisou que a inflação vai disparar ao longo de 2015. Pretende reconduzi-la ao centro da meta, de 4,5%, só em 2016. Para isso, será preciso mais do que puxar pelos juros.
Novas forças estão prontas para outro puxão da inflação. Se for confirmado o racionamento de energia elétrica e de água tratada, além das pressões de demanda, a inflação enfrentará também o choque de oferta: de queda da produção e do investimento. O governo ainda não tem resposta para isso.
10 de fevereiro de 2015
Celso Ming, O Estado de S Paulo
Medida em 12 meses, a evolução do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) havia resvalado para abaixo dos 6,5% em dezembro para que o governo pudesse entregá-la, ao fim de 2014, sem o estouro do teto da meta. Mas, em janeiro, voltou a dar grande esticada. Foi para 7,14%, a mais alta desde setembro de 2011.
O principal fator que explica essa nova carga é a aplicação da política que pretende eliminar o represamento dos preços e das tarifas administradas, uma das grandes distorções da economia. Esse segmento, que pesa 25% na cesta de consumo, teve aumento médio de preços de 2,5%.
Em outras palavras, a inflação vai enfrentando a fúria dos tarifaços. Começou a ser descarregada sobre o bolso do consumidor alguma coisa perto de 40% de atraso nas correções das tarifas de energia; o reajuste dos preços dos combustíveis e dos transportes urbanos; e o efeito câmbio, ou seja, o encarecimento dos preços dos produtos importados por causa da alta do dólar.
Apenas identificar esses fatores é pouco; é a reação do cachorro que se limita a morder o pau que lhe é atirado, sem entender que há um agressor por trás. O governo anterior (administração Mantega) teve dificuldades para explicar a disparada da inflação. Para tudo, dizia que a economia global não ajudava. Mas, quando tentava encaixar o efeito da economia internacional sobre a inflação brasileira, rodava em falso, porque nos países de economia madura o risco maior é o contrário, é deflação.
A inflação do Brasil está ligada ao estouro das contas públicas. Em 2014, em vez de o governo entregar um superávit primário (sobra de arrecadação), apresentou um rombo de R$ 32,5 bilhões, o equivalente a 0,63% do PIB. Porque gasta demais, o governo cria renda que, por sua vez, puxa a demanda interna, que não vem acompanhada do aumento da oferta. Daí a disparada.
No caso da energia elétrica, o esticão das tarifas não se deu apenas por falta de chuva, que obrigou o Operador Nacional do Sistema Elétrico a despachar energia bem mais cara, produzida pelas usinas térmicas. Deu-se, principalmente, porque o consumo de energia elétrica está crescendo ao ritmo de 3% a 4% ao ano, substancialmente acima da marcha do PIB que resvala para o negativo.
No momento, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, vai realinhando as tarifas administradas, antes contidas; e vai soltando gradualmente o câmbio. E trata de reequilibrar as contas públicas para evitar a criação artificial de renda.
O Banco Central já avisou que a inflação vai disparar ao longo de 2015. Pretende reconduzi-la ao centro da meta, de 4,5%, só em 2016. Para isso, será preciso mais do que puxar pelos juros.
Novas forças estão prontas para outro puxão da inflação. Se for confirmado o racionamento de energia elétrica e de água tratada, além das pressões de demanda, a inflação enfrentará também o choque de oferta: de queda da produção e do investimento. O governo ainda não tem resposta para isso.
10 de fevereiro de 2015
Celso Ming, O Estado de S Paulo
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