O Banco Central usou um argumento inesperado, suspendeu uma expressão relevante e fez uma aposta duvidosa na ata da última reunião do Copom. Argumentou que os níveis de confiança “modestos” vão dar mais força à política monetária. Tirou a expressão “neste momento”, dando a impressão de que a parada será longa. E apostou que o investimento vai subir.
A ata traz esses recados. Ao retirar a expressão que havia sido usada no comunicado após a reunião deu um sinal de que essa interrupção de alta da taxa de juros será mais longa. O argumento do parágrafo 26 é de que “é plausível afirmar que, na presença de níveis de confiança relativamente modestos, os efeitos das ações de política monetária sobre a inflação tendem a ser potencializados”. O BC quis dizer que, como os índices de confiança empresarial e do consumidor estão caindo muito, haverá menos atividade econômica. E isso elevará o efeito dos juros altos no combate à inflação.
O Banco Central diz que o país vai crescer menos este ano. A convicção geral é mesmo de que o ano passado foi ruim e este está pior. Mas ele diz que “o consumo tende a crescer em ritmo mais moderado do que o observado nos anos recentes; e os investimentos tendem a ganhar impulso”. Mas está acontecendo o oposto. Os dados de investimento estão caindo e com a queda do nível de confiança — que o próprio BC acha que ajudará no combate à inflação — os empresários costumam adiar as decisões de investimento.
Com esses três pontos o BC explica a decisão de interromper a alta de juros. O BC tinha subido a Selic durante um ano e, no acumulado, a dose foi de quase quatro pontos percentuais. É muito forte. Natural que pare diante da queda do nível de atividade. É normal também que os juros, depois de alta forte, continuem produzindo efeitos na economia, mesmo após o ciclo de aperto estar encerrado. Mas um problema ainda não foi resolvido e esse é o desafio da autoridade monetária: a atividade está cada vez mais fraca, mas a inflação permanece alta.
O IPCA de maio a ser divulgado hoje será menor do que o índice de abril, mas o acumulado em 12 meses pode subir se o número vier acima dos 0,37% de maio do ano passado. Mesmo que a inflação continue caindo na taxa mensal, é difícil conter a alta anual porque as taxas desses meses em 2013 foram muito baixas: 0,26%, em junho, e 0,03%, em
julho. Qualquer valor acima disso, este ano, fará o índice se aproximar do teto de 6,5%, com risco de estouro. Até abril, o índice acumulado de um ano mede 6,28%; muito alto para um país que cresceu apenas 2,2% em quatro trimestres até março.
Ontem, a Anfavea anunciou os números da produção de veículos de maio, que ficou estagnada em relação a abril. Nos cinco primeiros meses do ano, há um recuo de 13,3%, em relação ao mesmo período do ano passado. As exportações caíram 31,6%. Depois do PIB fraco do primeiro trimestre, os sinais são de que haverá um novo número ruim no segundo tri. O cenário de estagflação é o pior dos mundos para qualquer banco central. Se subir a taxa, prejudica ainda mais o PIB. Por outro lado, a inflação alta tira renda das famílias e aumenta custos dos empresários. Não existe saída fácil.
Entre as ameaças para o futuro da inflação está a desordem do setor elétrico. Depois de negar que haveria novo socorro às distribuidoras, o governo já admite que será necessário novo financiamento para cobrir o rombo das empresas descontratadas. Os primeiros números são de que o segundo empréstimo pode chegar a R$ 8 bilhões, depois dos R$ 11,2 bi que foram tomados em março. Tudo isso é pressão inflacionária no futuro porque esses empréstimos serão pago pelos consumidores, em forma de aumento das contas de luz.
O maior constrangimento das atas do Banco Central é a ausência de previsão sobre quando a inflação voltará ao centro de 4,5%, taxa que ainda não foi vista durante a gestão do presidente do banco, Alexandre Tombini. O máximo que a autoridade monetária consegue dizer é que ela estará acima do centro no ano que vem, tanto no cenário de referência quanto no cenário de mercado. A omissão dificulta o trabalho do próprio BC porque mantém as expectativas de inflação elevadas.
A ata traz esses recados. Ao retirar a expressão que havia sido usada no comunicado após a reunião deu um sinal de que essa interrupção de alta da taxa de juros será mais longa. O argumento do parágrafo 26 é de que “é plausível afirmar que, na presença de níveis de confiança relativamente modestos, os efeitos das ações de política monetária sobre a inflação tendem a ser potencializados”. O BC quis dizer que, como os índices de confiança empresarial e do consumidor estão caindo muito, haverá menos atividade econômica. E isso elevará o efeito dos juros altos no combate à inflação.
O Banco Central diz que o país vai crescer menos este ano. A convicção geral é mesmo de que o ano passado foi ruim e este está pior. Mas ele diz que “o consumo tende a crescer em ritmo mais moderado do que o observado nos anos recentes; e os investimentos tendem a ganhar impulso”. Mas está acontecendo o oposto. Os dados de investimento estão caindo e com a queda do nível de confiança — que o próprio BC acha que ajudará no combate à inflação — os empresários costumam adiar as decisões de investimento.
Com esses três pontos o BC explica a decisão de interromper a alta de juros. O BC tinha subido a Selic durante um ano e, no acumulado, a dose foi de quase quatro pontos percentuais. É muito forte. Natural que pare diante da queda do nível de atividade. É normal também que os juros, depois de alta forte, continuem produzindo efeitos na economia, mesmo após o ciclo de aperto estar encerrado. Mas um problema ainda não foi resolvido e esse é o desafio da autoridade monetária: a atividade está cada vez mais fraca, mas a inflação permanece alta.
O IPCA de maio a ser divulgado hoje será menor do que o índice de abril, mas o acumulado em 12 meses pode subir se o número vier acima dos 0,37% de maio do ano passado. Mesmo que a inflação continue caindo na taxa mensal, é difícil conter a alta anual porque as taxas desses meses em 2013 foram muito baixas: 0,26%, em junho, e 0,03%, em
julho. Qualquer valor acima disso, este ano, fará o índice se aproximar do teto de 6,5%, com risco de estouro. Até abril, o índice acumulado de um ano mede 6,28%; muito alto para um país que cresceu apenas 2,2% em quatro trimestres até março.
Ontem, a Anfavea anunciou os números da produção de veículos de maio, que ficou estagnada em relação a abril. Nos cinco primeiros meses do ano, há um recuo de 13,3%, em relação ao mesmo período do ano passado. As exportações caíram 31,6%. Depois do PIB fraco do primeiro trimestre, os sinais são de que haverá um novo número ruim no segundo tri. O cenário de estagflação é o pior dos mundos para qualquer banco central. Se subir a taxa, prejudica ainda mais o PIB. Por outro lado, a inflação alta tira renda das famílias e aumenta custos dos empresários. Não existe saída fácil.
Entre as ameaças para o futuro da inflação está a desordem do setor elétrico. Depois de negar que haveria novo socorro às distribuidoras, o governo já admite que será necessário novo financiamento para cobrir o rombo das empresas descontratadas. Os primeiros números são de que o segundo empréstimo pode chegar a R$ 8 bilhões, depois dos R$ 11,2 bi que foram tomados em março. Tudo isso é pressão inflacionária no futuro porque esses empréstimos serão pago pelos consumidores, em forma de aumento das contas de luz.
O maior constrangimento das atas do Banco Central é a ausência de previsão sobre quando a inflação voltará ao centro de 4,5%, taxa que ainda não foi vista durante a gestão do presidente do banco, Alexandre Tombini. O máximo que a autoridade monetária consegue dizer é que ela estará acima do centro no ano que vem, tanto no cenário de referência quanto no cenário de mercado. A omissão dificulta o trabalho do próprio BC porque mantém as expectativas de inflação elevadas.
10 de junho de 2014
Miriam Leitão, O Globo
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